Por que bancos ainda dizem para comprar Eztec mesmo após vendas desastrosas?

Na noite de sexta-feira a companhia anunciou sua prévia operacional: nenhum lançamento entre os meses de julho a setembro e queda de 81% das vendas; mas ainda assim 2 bancos reiteraram compra da ação

Paula Barra

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SÃO PAULO – A Eztec (EZTC3) anunciou na noite de sexta-feira um trimestre para esquecer. A companhia não fez nenhum lançamento entre os meses de julho a setembro e ainda suspendeu um projeto com VGV (Valor Geral de Vendas) de R$ 95 milhões. Como não houve lançamentos, as vendas da companhia desabaram 81% quando comparado com o terceiro trimestre do ano passado, para R$ 38,3 milhões. 

Uma prévia operacional sem nenhum brilho, que é mais um sinal de alerta para o setor, que atravessa um cenário de cautela. Desafios que bateram na porta até mesmo da empresa considerada por muito tempo a “salvação” das construtoras, com um histórico de forte velocidade de vendas (VSO) e elevadas margens. Mas, sem lançamentos no período e aumento de distratos, a companhia viu seu indicador VSO cair de 23,5% para 3% no trimestre, quando comparado com o mesmo período do ano anterior. 

Dados que levaram BTG Pactual, Credit Suisse e Santander para mesma análise: números vieram fracos, reforçando um momento de cautela para o setor. Ainda assim, o BTG Pactual e Credit Suisse reiteraram compra para a ação. Recomendações que abrem margem a um questionamento: mas isso faz sentido? 

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Então, vamos ao que levaram os bancos a reiterarem “compra”…
No caso do BTG, a recomendação deve-se à avaliação de que as ações estão com um risco/retorno atrativo, em uma empresa com zero de alavancagem. A Eztec tem uma posição de caixa líquida em R$ 330 milhões, o que representa 15% do seu valor de mercado. O preço-alvo dos papéis é de R$ 22,00 por ação, um potencial de valorização de 70% para os próximos 12 meses. 

Mesmo recomendando compra, os analistas comentam que veem pressão nos papéis nesta sessão devido ao momento desafiador que a empresa vive, depois de divulgar uma fraca prévia operacional. 

Já o Santander – segundo banco que reiterou compra da ação hoje – ressaltou que, mesmo considerando sua opinião altamente cautelosa para o setor e reconhecendo que as notícias mais importantes relativas ao setor provavelmente continuarão negativas no curto prazo (vendas em desaceleração, retornos pressionados e preços de imóveis em queda), recomenda que a ação da companhia é uma possível oportunidade favorável de dividendos no médio prazo. 

O analista Bruno Mendonça, que assina o relatório do Santander, diz que, embora não seja uma aposta de curto prazo, vê espaço para que a empresa distribua até 91% do seu valor de mercado em dividendos no período de seis anos e permaneça com caixa líquido positivo, mesmo sob premissa conservadora de geração de caixa. Atualmente, o valor de mercado da companhia é de R$ 2,04 bilhões. Para ele, com essa projeção, a empresa conseguiria entregar um dividend yield (dividendos/ação) de 17% aproximadamente entre 2017 e 2021 (com potencial de alta adicional a partir da possível venda da Torre B da Ez Towers, mas que não é o cenário básico do Santander). 

Diante disso, ele acredita que os dividendos esperados da companhia devam compensar temporariamente o recuo do ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido), estimado entre 10% e 15% para os próximos três ou quatro anos, contra o habitual da companhia superior a 20%.