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Finanças

Howard Marks: faça o que os outros evitam para conseguir retornos acima da média

Para um dos maiores investidores da atualidade, é assim que se ganha dinheiro num mercado de preços altos como o atual

O americano Howard Marks é um veterano do mundo das finanças e um dos investidores mais bem-sucedidos da atualidade. É cofundador da gestora Oaktree Capital Management, que é especializada em investimentos alternativos e tem aproximadamente 150 bilhões de dólares sob gestão.

Suas cartas periódicas com visões sobre o mercado financeiro costumam ser acompanhadas com atenção — e até o bilionário Warren Buffett já disse que lê os textos.

Ao InfoMoney, Marks afirmou que, enquanto muitos falam em bolha, ele vê os preços dos ativos em patamares elevados, mas racionais. No entanto, acrescentou, é preciso buscar investimentos “complexos” para conseguir retornos acima da média. Leia os principais trechos da entrevista.

O senhor disse recentemente que, ainda que seja impossível prever o futuro, dá para preparar o portfólio de investimentos para diferentes cenários. Em que momento do ciclo os mercados estão agora e como se preparar para isso?

Normalmente, a economia e os mercados se movem em sintonia. Se a economia vai bem, as pessoas ficam otimistas, os preços dos ativos aumentam e, quando sobem demais, há uma correção. Se ficam baratos demais, sobem de novo. É uma questão de excessos e correções.

Este ciclo é diferente. Por causa da pandemia, muitas das economias tiveram de se fechar. Tivemos uma desaceleração séria e a desvalorização das bolsas. Para tentar consertar isso, os bancos centrais injetaram dinheiro nas economias de diferentes formas. Os mercados responderam de maneira muito favorável.

O S&P 500 atingiu um pico em 19 fevereiro de 2020 e caiu cerca de 35% até 23 de março. Depois disso, começou a subir. Mas o período de abril a junho foi o pior trimestre da história para o PIB americano. Vimos a economia colapsando e o mercado de ações subindo.

Isso poderia ser preocupante, afinal, as ações subiram, mas a economia ainda não está bem. Existe, porém, uma maneira positiva de ver a situação: as ações valorizaram e ainda há crescimento por vir. Estamos só no começo da expansão.

Considerando os níveis atuais de juros, os preços de ativos como ações estão em patamares razoáveis?

Sim. Temos as menores taxas de juro da história e elas têm um papel importante na definição dos preços dos ativos. Quanto maiores, menos as coisas valem. De maneira oposta, faz sentido vermos preços mais elevados agora. Só que os preços nem estão tão altos assim.

O índice Preço-Lucro (PL) do S&P 500, que relaciona o preço das ações ao lucro por ação esperado para os próximos 12 meses, está em torno de 20-21. A média histórica é cerca de 16. Ou seja, está mais elevado agora, mas não muito. Em 2000, por exemplo, estava em 32.

Além disso, é importante considerar que a composição do S&P 500 mudou para incluir mais empresas de tecnologia, que tipicamente têm PLs mais altos. Então, não deveria ser uma surpresa esse indicador estar acima da média histórica.

A definição de uma bolha é loucura, uma expansão irracional. Não estamos vivendo isso. Os preços estão altos, mas são racionais, fazem sentido. Ainda assim, dependem de juros baixos. Se as taxas subirem, poderão cair.

Se existe essa perspectiva de aumento dos juros, em razão da inflação, será que os investidores não devem sair do mercado de ações? Não sei se teremos inflação e taxas mais altas e certamente não sei quando isso vai acontecer e quanto tempo vai durar.

As pessoas deveriam investir pensando no longo prazo. Investir cedo, o máximo que for possível e manter-se assim. O mercado de ações valorizou mais de 9% ao ano por mais de 90 anos. Pode cair, claro, mas, no longo prazo, deve continuar subindo. Se subir 7% ao ano, dobrará o capital investido em dez anos.

Quem tentar ser esperto e sair agora para evitar uma possível perda com a alta dos juros, poderá perder algo. Ninguém é esperto o suficiente para entrar e sair do mercado exatamente nos momentos certos.

Os bancos centrais têm combatido as recessões injetando grandes somas de recursos nas economias. Será que essas instituições saberão qual é o momento certo de parar de intervir? Se falharem, quais serão os riscos?

Os investidores geralmente acreditam no sistema de livre mercado, que seria o melhor alocador de recursos. Se o Fed (banco central americano) está sempre gerenciando a economia e os mercados, não temos livre mercado.

Os governos não constroem nada. O que fazem é coletar dinheiro e gastar, distribuir. É um jogo de soma zero. A questão é de quem vão coletar e para quem vão entregar. Nos últimos sete anos, as taxas ficaram muito baixas, mais baixas do que deveriam ficar, na minha opinião.

Quem se beneficia? Quem toma empréstimos. Já quem empresta recursos e também os investidores são penalizados. A decisão pendeu muito em favor de quem toma empréstimos, o que encoraja comportamentos mais arriscados.

Se o mercado fixasse os juros sem a intervenção do Fed, eles seriam mais altos, e esse comportamento mais arriscado seria desencorajado. Os mercados são mais eficientes quando os investidores são movidos por uma combinação de medo e ganância.

Um equilíbrio saudável entre pessimismo e otimismo é saudável para os mercados. Mas as ações de estímulo do Fed criaram um mercado em que há muito FOMO (fear of missign out, ou “medo de ficar de fora”), e não muito medo de perder dinheiro. E isso não é saudável.

Onde estão as melhores oportunidades de investimento no momento?

Não sabemos o que vai acontecer com a inflação nos EUA. Será um evento de curto prazo, de até um ano? Ou de longo prazo, de três a seis anos? Quem diz que sabe está se enganando ou enganando os outros. Mas, mesmo sem saber, é possível se preocupar com isso e se preparar.

Não faria mudanças radicais no portfólio, porque não temos certeza do que está por vir e sai caro fazer esse tipo de movimento. Mas existem ações que podem ser tomadas para nos preparar para um futuro incerto.

Por exemplo, investir em títulos com taxas flutuantes em vez de comprar papéis com taxas fixas. Além disso, investir em imóveis ou títulos ligados a esse mercado, porque os proprietários podem reajustar os alugueis, e comprar ações de empresas cujos lucros podem aumentar mais que a inflação.

Vista aérea do centro financeiro de Nova York, com o 1WTC em destaque
Prédios em Nova York: investir em imóveis pode proteger da inflação (Dominik Bindl/Getty Images)

Mas é importante levar em conta que o que há de errado com os mercados — juros baixos e incentivo a risco — acontece em todos os países e setores. Assim, a maioria dos ativos ou está bem precificada ou em valores altos. O objetivo, portanto, é achar investimentos que não estejam tão caros.

O investidor consegue ganhar mais dinheiro do que a média quando faz o que as outras pessoas não querem fazer. O que todos entendem, gostam e querem fazer não tem bons preços. Já investimentos complexos, que não são tão fáceis de entender e fazer, podem oferecer um melhor retorno ajustado ao risco.

Um exemplo são os ativos de crédito estruturado. Outro é a China: para quem acredita no futuro da China e em seu papel na economia mundial, investir ali pode ser interessante enquanto o país está menos favorecido e impopular.

Quando comecei, há 50 anos, eu e a maioria das pessoas acreditávamos que a chave do sucesso fosse comprar bons ativos. Mas a verdade é que, ainda que o que você compra importe, importa mais quanto você paga. Um bom ativo comprado por um preço alto não é um bom investimento.

No mercado imobiliário, todos querem ter centros de distribuição para comércio eletrônico. A perspectiva para esse setor é ótima, mas todos sabem disso, então os preços estão altos. Bons ativos podem não ser bons investimentos.

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