Governo “sai de cena” e Embraer comemora na Bolsa: quais serão os próximos passos para a união com a Boeing?

Governo aprovou negócio entre a brasileira e americana após dar "susto" no mercado na última semana; mercado espera por próximos dois eventos para a conclusão do acordo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – “Não será exercido o poder de veto ao negócio”. Com essa frase, o governo deu seu aval e saiu de cena para que a Embraer (EMBR3) faça a sua tão aguardada parceria estratégica com a Boeing, anunciada em julho de 2018. 

Para que essa aprovação acontecesse, bastava que o governo não lançasse mão de uma das prerrogativas da golden share, a ação especial detida pelo governo que poderia barrar a fusão tão aguardada pelo mercado. E foi justamente isso o que aconteceu. 

Esse era um dos grandes pontos de tensão para o mercado e que, inclusive, fez com que a ação caísse 5% na sexta-feira passada com o presidente Jair Bolsonaro levantasse dúvida sobre a última proposta para o acordo, citando preocupação com a proteção do patrimônio nacional. 

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A semana que se seguiu foi de oscilação em meio a incertezas sobre a posição de um governo que tem vários postos-chave ocupados por militares, reconhecidos num passado não muito distante por posições nacionalistas sobre a economia. 

Desta forma, diante de tantas tensões, o anúncio de ontem reforçou a postura liberal do governo e foi visto como um grande alívio para o mercado, fazendo com que a ação subisse até 10% na variação máxima desta sexta-feira, para depois amenizar os ganhos. Às 12h30 (horário de Brasília), os ativos subiam 4%, a R$ 21,83, ainda uma das maiores altas do Ibovespa na sessão. 

Com o governo deixando de ser um fator de incerteza para a parceria entre Embraer e Boeing, o mercado se atenta agora o próximo “obstáculo” que está pela frente para a aprovação do negócio. 

Trata-se da aprovação dos acionistas em AGE (Assembleia Geral Extraordinária), cuja data é esperada com ansiedade pelo mercado. A expectativa, de acordo com a equipe de análise do Bradesco BBI, é de que a votação aconteça em ao menos trinta dias, com grande chance de que aprovação. 

O preço de aquisição de US$ 5,3 bilhões à toda divisão de jatos comerciais da empresa brasileira e a possibilidade de pagamento de dividendos extraordinários entre US$ 1,6 bilhão e US$ 1,7 bilhão por ADR (American Depositary Receipts, ou recibo de ações da empresa negociados na bolsa americana) são fatores que guiam essa visão. Vale ressaltar que a companhia distribuiu US$ 250 milhões em dividendos no último ano. 

Uma vez aprovada em assembleia, a parceria entre as duas empresas será alvo do crivo de agências anti-truste em vários países. Contudo, essa etapa tem um risco baixo para o negócio pela complementaridade do portfólio e pelo fato de que a parceria Airbus-Bombardier, nos mesmos moldes, ter obtido o aval das mesmas autoridades. Desta forma, a expectativa é de que a união Embraer-Boeing seja finalizada no final de 2019. 

Participações nas companhias

Na nova estrutura, o segmento de aviação comercial vai para uma empresa chamada de NewCo, controlada pela Boeing. A companhia brasileira terá uma participação de 20% na Newco, enquanto seguirá com as divisões de aviação executiva e defesa. 

A questão sobre a NewCo foi justamente a que fez Bolsonaro fazer ponderações na semana passada sobre o acordo Boeing-Embraer. A FAB (Força Aérea Brasileira) tinha manifestado incômodo com a possibilidade da Embraer vender a qualquer momento os 20% da nova empresa.

Conforme ressalta a Folha, isso fez com que a empresa intensificasse suas conversas com o governo e o convencesse de que não interessa à “antiga companhia”, somente com os segmentos de defesa e executiva, se desfazer dos 20% na nova companhia. Isso porque ela será uma das grandes fontes de renda para a Embraer. 

Com o imbróglio resolvido – e ainda com um “bônus”, a joint-venture para novos contratos do KC-390 com controle brasileiro – o governo aprovou o acordo no limite de tempo. 

E as expectativas são positivas: a empresa nasce com ganhos de sinergia de custos na operação estimados em US$ 150 milhões por ano, em um acordo visto como ganha-ganha;

“Para a Boeing, é um ótimo negócio, visto que a empresa entrará no negócio de aviões até 150 passageiros, seja via a parceria com a Embraer ou de outra forma. Para a Embraer, também é um ótimo negócio, visto que a empresa ganhará uma visibilidade internacional com um grande nome de peso e evitará que a Boeing vire sua concorrente”, avaliam os analistas da Levante.

Nas estimativas preliminares, a Embraer deve ficar com um caixa de um pouco menos que US$ 1 bilhão, que seriam usados para investimentos em novos projetos na área de aviação executiva e de defesa, fazendo com que a brasileira fique praticamente sem dívidas, com elevada liquidez e condições de alavancagem.

Desta forma, tendo em vista o que se segue para a frente para a Embraer e o potencial de sinergias, analistas de mercado têm se mostrado positivos com o papel, o que é o caso do Bradesco BBI, que possui recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), com preço-alvo de US$ 28 por ADR, o que representa um potencial de valorização de 23% frente o fechamento de quinta-feira (10). 

Após meses à espera o aval do governo, a companhia finalmente angariou uma boa oportunidade para destravar valor na Bolsa; mas esse pode ser só o começo. 2019 será o ano da conclusão do acordo Embraer-Boeing e os próximos passos para tanto serão acompanhados de perto pelo mercado. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.