Ação da Eletrobras pode valer 2% do seu patrimônio; chance ou loucura?

Valor patrimonial da companhia é utilizado por investidores para definir o que comprar, mas no caso da Eletrobras, pode ser perigoso

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – A Eletrobras (ELET3; ELET6) vê suas ações derreterem nos últimos meses. Com a queda de cerca de 20% nessa quarta-feira (21), os papéis atingem patamares vistos em 2004 – retrocedendo ganhos acumulados nos últimos oito anos em apenas dois meses.

O colosso, com patrimônio de R$ 79 bilhões, pode se encaminhar para um preço de R$ 1 por ação ordinária ou preferencial, segundo avaliação feita pelos analistas do Barclays, garantindo valor de mercado de R$ 1,4 bilhão – ou 2% do patrimônio atual. Para muitos, esse descolamento pode ser visto como uma ótima oportunidade de investimento; já para outros, a aposta na valorização de uma empresa nessa situação é quase que insana.

Muitos investidores usam o VPA (Valor Patrimonial por Ação) para definir o que comprar em bolsa. A conta é simples: se uma empresa vale menos em bolsa do que seu patrimônio, isso sinaliza que as expectativas para o futuro da companhia resultam em um preço menor do que ela de fato vale hoje – tendo como base seus ativos e passivos. Esse descasamento entre preço esperado no futuro e valor de mercado atual abriria espaço para uma boa oportunidade de investimento.

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Contudo, é importante ponderar que a Eletrobras é uma estatal e seu capital não circula todo na bolsa. Uma “oferta hostil”, no jargão do mercado, é impossível e improvável. A companhia se habituou a ver suas ações operarem abaixo do valor patrimonial durante boa parte de sua existência, uma exceção no mercado. E uma aposta, agora frustrada, de tantos outros.

Além disso, é importante ressaltar que, caso a companhia aceite a renovação estipulada pela MP (Medida Provisória) 579 – o que de fato deve acontecer -, boa parte desse patrimônio deve diminuir, visto que uma parcela dele é composta por ativos não-amortizados e, por consequência, não deverão ser reembolsados pelo governo. E esse impacto pode ser percebido já no próximo balanço trimestral a ser divulgado pela empresa.

Resultados não escondem situação difícil

Os resultados recentes da companhia também merecem ser avaliados de perto. A Eletrobras teve lucro de R$ 1 bilhão no terceiro trimestre de 2012 – o lucro mais “barato” do Ibovespa –  e pode repetir o resultado no último. Esses resultados não deverão se repetir em 2013, sob os novos termos da MP 579 (Medida Provisória), que deve destruir a rentabilidade da companhia para o ano que vem.

“A situação não está fácil para a companhia, está bem complicada. É a pior possível”, alerta Henri Evrard, analista da Infinity Asset. Para ele, investir agora na elétrica estatal não é a coisa certa a ser feita, as incertezas são tantas e as respostas são poucas. “E quando há muitas dúvidas, a gente vende”, destaca.

Dividendos serão um problema

O primeiro processo que a empresa precisa passar é pela profissionalização da gestão, atualmente muito dependente da política. A empresa deve precisar de muito gingado para superar os problemas que virão com a adoção das novas medidas da MP 579. “[A MP 579] vai criar uma situação insustentável, algo absurdo”, diz Evrard.

O analista ressalta o contrato que a companhia tem, que a obriga a pagar dividendos para os detentores de suas ações preferenciais. “A companhia é obrigada a distribuir dividendos, independendo do resultado”, diz. E conforme ela precise desembolsar a quantidade de dinheiro, maior ainda deverá ficar a sua dívida.

Oferta de ações?

Uma nova emissão de ações já foi especulada. Nos termos atuais, ela é praticamente uma certeza para parte do mercado. Ela serviria para capitalizar a empresa e permitir que ela continue com alguns investimentos básicos, já que é provável que ela perca a capacidade de se capitalizar através de sua própria atividade ela capacidade, visto que o próprio diretor de relações com investidores da empresa disse em teleconferência realizada na segunda-feira que a MP deve fazer com que o Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da Eletrobras fique zerado em 2013.

“É algo que não tem sustentação, vai ter que ser revisto. Mas enquanto não é revisto, não dá para fazer muito”, afirma Evrard, destacando que acredita que o R$ 1,00 previsto pelo Barclays é difícil de ocorrer, mas que do mercado, é impossível duvidar de algo. Se essa é uma oportunidade ou uma loucura a se fazer, só o tempo dirá.