Formador de mercado de opções deve trazer liquidez e alternativas aos investidores

Diversificação de prazos e empresas deve impulsionar mercado; bolsa pode estender programa para ETFs e ações

Julia Ramos M. Leite

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SÃO PAULO – Quem acompanha o mercado de opções sabe que Petrobras (PETR3, PETR4) e Vale (VALE3, VALE5) são as vedetes entre os investidores. Apesar da ausência da petrolífera na lista de opções mais negociadas nos últimos meses, suas opções ainda estão entre as mais líquidas do mundo, ao lado das da mineradora – segundo a bolsa, 88,5% do volume de opções no País vêm dessas duas empresas.

Mas toda essa liquidez de Vale e Petrobras tem seu lado ruim: se o investidor procurar opções de CSN (CSNA3) ou Itaú Unibanco (ITUB4), por exemplo, já terá um pouco mais de dificuldade, assim como aquele atrás de prazos mais longos.

Assim, a BM&F Bovespa decidiu que não quer apenas ser casa das duas opções mais líquidas do mundo, mas sim se estabelecer como um dos grandes mercados de negociação desse tipo de derivativo. Para isso, lançou um programa de formador de mercado para o mercado de opções.

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Como funciona
Julio Ziegelmann, diretor de renda variável da BM&F Bovespa, explica que o programa contempla as dez ações mais líquidas do Ibovespa, além do próprio benchmark, e será dividido em quatro fases – na primeira, a bolsa nomeará um market maker para os papéis de OGX Petróleo (OGXP3) e Itaú Unibanco. Vale dizer que os papéis ON da Petrobras e da Vale foram excluídos, assim como os da Itaúsa, devido ao entendimento da bolsa de que essas empresas já estão representadas.

Quem fará parte do
programa de formador
de mercado de opções? 
Fase 1 OGX Petróleo OGXP3
Itaú Unibanco ITUB4
Fase 2 BM&F Bovespa BVMF3
Usiminas USIM5
Ibovespa
Fase 3 Gerdau GGBR4
Bradesco BBDC4
Banco do Brasil BBAS3
Fase 4 PDG Realty PDGR3
CSN CSNA3
Cyrela CYRE3

As opções sobre o Ibovespa devem entrar na segunda fase do programa, apesar da expectativa da bolsa de que elas sejam as mais demandadas. “Não quisemos colocar na fase 1 caso precisemos fazer algum ajuste”, explica o diretor de renda variável da BM&F Bovespa.

Essas opções, segundo ele, “têm praticamente zero de participação de pessoa física” – a título de comparação, as opções de Petrobras e Vale têm cerca de 60%. “A opção de Ibovespa é muito mais negociada entre as mesas de bancos do que o mercado contínuo. Com o market maker, teremos esse mercado contínuo, negociado o tempo todo, permitindo que as pessoas físicas participem”, diz. “Provavelmente também vamos diminuir o tamanho do lote de opções do Ibovespa para torná-los mais atrativos”.

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O prazo para o envio de sugestões e comentários sobre a minuta de concorrência foi encerrado na última sexta-feira (18) e deve ser discutido nesta semana pela bolsa. “Há muito interesse em participar, tanto de brasileiros quanto de estrangeiros”, explicou Ziegelmann.

A primeira concorrência deve ser aberta em março – depois disso, os interessados têm até 60 dias para enviar as propostas. Os vencedores – selecionados pelos spreads mais justos – serão anunciados 75 dias depois do início do processo e, a partir daí, os escolhidos terão de 1 a 60 dias para começar a atuação como market maker. “Aí iniciamos a 2ª concorrência – e talvez na 3ª e na 4ª possamos encurtar um pouco esse período”, explica Ziegelmann.

São três market makers para cada ativo, sendo que cada instituição pode agir como formador de mercado para cinco opções pelo período de 12 meses.

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A bolsa pode incluir mais opções no programa caso o resultado seja satisfatório – e pode estender o programa de market maker também para ETFs (Exchange Traded Funds) e até mesmo para ações.

Boa recepção
O mercado parece ter reagido bem à iniciativa da BM&F Bovespa. “É extremamente positivo”, resume a equipe de análise da XP Investimentos, uma das maiores negociadoras de opções segundo o ranking de janeiro da bolsa.

Otávio Santana, gerente de marketing da Interfloat – também entre as cinco maiores negociadoras de opções em janeiro -, explica que o formador de mercado também oferece condições para a criação de estratégias com opções, já que há mais ativos à disposição.

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Rafael Giovani, gerente Comercial, de Marketing e Relacionamento com o Cliente da UM Investimentos, outra corretora no topo do ranking de opções da bolsa, destaca a importância desse leque maior de opções na hora de operar. “Vamos comprar uma Petrobras e vender uma opção dentro do dinheiro – fazer um financiamento. Hoje, eu posso fazer com Petrobras, Vale, OGX, BM&F Bovespa – mas se eu quiser fazer isso com Gafisa, não dá, porque não tem liquidez”, exemplifica. “Quando você amplia o leque de formadores de mercado em opções para oferecer taxa, você oferece ao investidor uma alternativa de diversificar melhor a carteira e fazer isso de acordo com o risco dele, e não de acordo com a liquidez de opções”.

Santana lembra ainda que uma maior liquidez no mercado de opções pode até mesmo impulsionar as negociações no mercado à vista. “Um cliente que lança uma série de opção de venda de um ativo que não tem liquidez, e que eventualmente ele leva até o vencimento e ele é exercido, acaba virando uma operação de compra no mercado à vista, então aumenta o giro nesse mercado também”.

Giovani, contudo, frisa que é preciso lembrar o principal uso de um derivativo: proteção. “Se você oferecer liquidez a derivativos visando que o investidor possa se proteger cada vez mais na compra à vista e em geral, acho que é uma evolução natural do mercado de capitais”.

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“O problema é que a maioria das pessoas só opera para especular, não usa os derivativos como eles devem ser usados. Especialmente para pessoa física, é um mito que só se perde dinheiro com derivativos. O que acontece são pessoas que não têm o menor conhecimento de derivativos e os usam para se alavancar, não sabem se alavancar e perdem tudo”, completa a equipe da XP, que vê um potencial “enorme” no mercado de opções brasileiro caso esses derivativos sejam usados da maneira corretora – ou seja, para hedge.

Prazos
Além de oferecer ao investidor a possibilidade de escolha entre mais empresas na hora de negociar esse tipo de derivativo, a BM&F Bovespa também quer diversificar os prazos para os contratos. Ziegelmann explica que inicialmente a obrigatoriedade do market maker será para os dois primeiros vencimentos – incluindo as opções de compra e de venda, já que atualmente a liquidez se concentra no primeiro vencimento e em opções de compra.

“Hoje, os exercícios com liquidez são para um e dois meses – no terceiro mês você já não encontra liquidez”, destaca a equipe da XP. A corretora explica que o processo é semelhante à compra de um carro novo acompanhado de um seguro, que nada mais é do que um preço a mais para garantir o valor de venda caso ocorra algum acidente.

“Na bolsa, é a mesma coisa: compramos a ação e um seguro – que é uma opção de venda. Mesmo acreditando que a ação vai se valorizar por muito tempo, até o final do ano, por exemplo, eu não consigo comprar um seguro para esse período”, aponta a XP.

Na mesma linha, Giovani, da Um Investimentos, afirma que uma operação de financiamento com opções de prazo mais longo traz proteção ao investidor por um período maior, além de um prêmio alto devido ao custo/tempo embutido. Já Santana, da Interfloat, lembra que mais séries abertas – ou seja, mais prazos disponíveis – significam mais alternativas para fazer uma “operação calendário”, que trabalha com vencimentos diferentes.

Impactos
Nenhuma das três corretoras calculou ainda o impacto em seus negócios. “Nossos clientes são muito ativos nesse mercado, e aumentando o leque de opções abre-se uma oportunidade para que eles operem uma maior quantidade de ativos, ou até mesmo aqueles que concorrem nas opções mais líquidas tenham oportunidade de operar outras opções, saindo um pouco das mais negociadas hoje”, diz Santana. “Nossos clientes têm um alto perfil de trading, então é uma boa oportunidade”.

A UM Investimentos, contudo, não espera um grande impulso em suas negociações de opções. “O volume grande, que faz com que estejamos grandes assim no ranking é especulação – as operações de hedge estão na média do mercado”, explica Giovani.

A própria bolsa também não estabeleceu metas em termos de volume de negociações ou investidores atingidos – que devem incluir tanto investidores institucionais quanto pessoa física. “Esperamos um crescimento expressivo”, resume Ziegelmann.

Outras barreiras
Apesar de ver a iniciativa da bolsa como bastante positiva, a equipe da XP ressalta que o mercado de opções brasileiro precisa de mais para deslanchar. A BM&F Bovespa cobra multas para ordens enviadas e canceladas após uma certa faixa de negociações – o que, na visão da corretora, impede que os market makers naturais consigam dar liquidez ao mercado.

“A XP já pagou R$ 190 mil por mês de multa por ordens canceladas enviadas via robô. A bolsa fala que é um número muito grande, e que atrapalha”, diz a corretora. “Se não fosse isso, íamos ter robôs no mundo inteiro dando preços de opções, e ia ser um mercado extremamente líquido, como é o norte-americano. Uma ação como a do Google, por exemplo, tem opção para vencimento daqui até um ano e todos os strikes. Acho que seria assim no Brasil”.

Para Santana, da Interfloat, o sistema é justo de certa forma, já que impede que robôs registrem um grande número de ordens simplesmente para “pescar” – ou seja, gerando um tráfego grande que não se traduz em ofertas, não trazendo benefícios para o mercado, somente desperdiçando recursos da bolsa. “Mas é preciso analisar com calma os diferentes perfis de clientes: há alguns que não se desenquadram muito, mas ao mesmo tempo geram uma receita de corretagem grande para a bolsa”.

Com as multas, as corretoras muitas vezes têm que fazer um “mercado de balcão” para negociar opções. Se aparece um investidor querendo vender uma determinada opção, a corretora precisa ir atrás de um market maker, como um grande banco estrangeiro, e procurar um comprador para essa opção, para então casar as operações.

Ziegelmann, contudo, afirma que as multas devem continuar. “O que fizemos foi diminuir o valor da multa e aumentar a franquia – antes era de cinco vezes, agora foi para oito vezes. Hoje temos muito sistema de trading baseado em programa de computador. Se esse programa está mal regulado, ele pode começar a dar muita ordem sem executar nada, e pode entupir o sistema, tornando a atividade de compra e venda de ações muito demorada para todos os investidores. Sem esse tipo de controle, podemos ter uma situação que prejudica os investidores em geral – isso é uma proteção do sistema”, explica.

No caso do market maker, o controle será diferente, feito através do chamado trottle. “Vamos limitar a quantidade de ordens que eles podem enviar por segundo para a bolsa – porque o market maker também poderia derrubar o sistema, mas para viabilizar sua atividade tivemos que fazer uma adaptação”, diz Ziegelmann, ressaltando que a bolsa trabalha continuamente no aprimoramento dos sistemas, devendo inaugurar a plataforma de negociação de derivativos estruturada junto com a CME ainda no primeiro semestre.

“A obrigação do market maker é estar no mercado o tempo todo, com um valor máximo de spread que vai ser definido e uma quantidade mínima em cada ponta. Qual o benefício? Não pagar as comissões da bolsa, inclusive essa multa”, resume o diretor de renda variável da BM&F Bovespa.