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SÃO PAULO – Não teremos vacinas suficientes para imunizar toda a população brasileira contra a Covid-19 ainda neste ano e o fim da campanha de imunização deve ficar para 2022, na visão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A Fiocruz desenvolve em terras brasileiras a vacina AstraZeneca/Oxford, produzida pela farmacêutica e pela universidade britânicas. A fundação planeja entregar 210,4 milhões desses imunizantes em 2021.
O Brasil também tem cerca de 210 milhões de habitantes – mas, como o regime de aplicação das vacinas contra Covid-19 é feito em duas doses, o país precisaria de cerca de 420 milhões de imunizantes.
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“Não tem vacina no mundo para todo mundo, vai faltar vacina”, resumiu, em entrevista ao jornal Valor Econômico, Maurício Zuma, diretor de Bio-Manguinhos, unidade técnico-científica da Fiocruz.
Dependência de insumos e de aprovação da Anvisa
A Fiocruz espera entregar as duas primeiras doses ao governo brasileiro em março. Das 210,4 milhões de vacinas prometidas para 2021, 100,4 milhões serão produzidas no primeiro semestre a partir do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) importado da China. Os 110 milhões de imunizantes restantes, previstos para o segundo semestre, serão produzidos localmente, a partir do acordo de transferência de tecnologia de produção do IFA assinado com a AstraZeneca e com a Universidade de Oxford.
O IFA está atualmente retido em uma empresa chinesa. Contratualmente, esse insumo só pode ser obtido do país asiático. A falta de insumos vindos da China é um problema enfrentado também por outro produtor brasileiro de vacinas contra Covid-19, o Instituto Butantan.
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Zuma afirmou ao Valor Econômico que a demora na liberação da matéria-prima se dá por “questões burocráticas, incluindo um novo processo de tramitação no país asiático” e por questões logísticas. O diretor de Bio-Manguinhos acredita que o IFA chegará “em breve.”
“Algumas pessoas veem isso [o atraso] como derrota, nós vemos como vitória. Geralmente leva dez anos para disponibilizar uma vacina, estamos levando dez meses”, disse Zuma ao jornal.
“Isso [o atraso] tecnicamente não é um grande problema, mas estamos fazendo todos os esforços para ter a vacina o mais breve possível, porque a situação exige vacina”, afirmou. Ele descartou motivações diplomáticas ou políticas para a demora na entrega de matéria-prima.
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Mesmo que os insumos cheguem em terras brasileiras, ainda é preciso levar em consideração seu tempo de processamento pelos laboratórios. No Butantan, por exemplo, o processo de recebimento dos insumos, envase das doses e finalização do produto leva em torno de 20 dias.
Outro fator que impede a entrega mais imediata das vacinas AstraZeneca/Oxford são as aprovações sanitárias. No último domingo (17), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou os pedidos de uso emergencial para as vacinas AstraZeneca/Oxford e CoronaVac (produzida pelo Instituto Butantan e pelo laboratório chinês Sinovac).
No caso da AstraZeneca/Oxford, o pedido foi referente às 2 milhões de doses que seriam importadas do laboratório Serum, da Índia, que também produz o imunizante. Porém, o Brasil acabou ficando de fora do primeiro lote de exportações.
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Nesta sexta-feira (22), técnicos de Bio-Manguinhos se reunirão com a Anvisa para entregar um lote final de documentos para o registro definitivo da AstraZeneca/Oxford produzida pelo Fiocruz. O pedido inclui tanto as doses que precisam do IFA importado (primeiro semestre) quanto as doses com IFA nacional (segundo semestre).
Zuma espera que a Anvisa aprove a distribuição das vacinas em até 30 dias, o que se alinharia com a entrega das primeiras doses em março. O IFA nacional deve começar a ser produzido em abril. Todo o processo de fabricação de um lote deve levar 45 dias. Zuma estima que a produção tenha capacidade inicial de 15 milhões de vacinas por mês.
Quantas vacinas o Brasil tem hoje?
Atualmente, apenas a CoronaVac está sendo usada na campanha de vacinação brasileira. 6 milhões de doses do imunizante já foram aprovadas pela Anvisa. A campanha de vacinação contra Covid-19 começou no último domingo (17) em São Paulo e na última segunda (18) no restante do país.
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Mas, atualmente, não há doses suficientes nem para a primeira etapa de vacinação. O primeiro grupo prioritário é formado por trabalhadores da saúde (5,88 milhões), pessoas de 80 anos ou mais (4,26 milhões), pessoas de 75 a 79 anos (3,48 milhões) e indígenas com idade acima de 18 anos (410 mil). No total, seriam cerca de 14 milhões de brasileiros. Ou seja, 28 milhões de doses seriam necessárias.
O Instituto Butantan realizou um segundo pedido de uso emergencial para 4,8 milhões de doses da CoronaVac à Anvisa.