Tony Blair: Poder se conquista com boa comunicação, mas burocracia ‘engole’ execução

Ex-primeiro ministro do Reino Unido participou do CNC Global Voices, promovido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo

Augusto Diniz Rodrigo Petry

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Ex-primeiro ministro do Reio Unido, Tony Blair afirmou que a burocracia “engolia” toda decisão que tomava, enquanto ocupou o cargo, entre 1997 a 2007. Segundo ele, o poder é conquistado pela “boa comunicação”, em referência às campanhas eleitorais, mas que a “política”, no sentido da construção da maioria, cria obstáculos para a execução dos planos de governo.

Blair ressaltou que a política é diferente da maioria dos setores que moldam a sociedade. Para ele, é uma atividade que não exige qualificação prévia e fez uma comparação com o mundo dos esportes: “Um técnico pode ser escolhido pelos torcedores mais ávidos, não exatamente por sua competência.” E prossegue: “Depois (de ser eleito), é preciso ter atitudes de executor.”

O ex-primeiro ministro do Reino Unido, participou do CNC Global Voices, realizado nesta segunda-feira (25), no Palácio Tangará, em São Paulo (SP), promovido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Nesse aspecto, ele considera fundamental construir uma liderança que estabeleça direção clara. “Aprendi mais com os meus erros do que com os meus sucessos”, reconhece. “Pensei que se tomasse uma decisão, ela aconteceria. Mas a burocracia engolia tudo”, recorda.

Segundo ele, em seu primeiro mandato, tinha a “maioria”, mas não tinha aprendido ainda a capacidade executiva. “No segundo mandato, me concentrei na capacidade política”, complementa.

Blair: dificuldade com reformas

Para ele, “causar mudanças é muito difícil”, exemplificando isso com as dificuldades encontradas por seu governo durante as muitas reformas que tentou implementar, como na saúde e educação, que sofreram muitas resistências.

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“As políticas são brutas. É necessário apertar a mão, abraçar as pessoas. Mas é uma empreitada difícil”, diz, acrescentando sempre ser necessário fazer concessões para que as reformas sejam concluídas.

“Nenhuma reforma me fez popular. Fiz uma para saúde, ampla, e os médicos não gostaram”, lembra. “Reforma será sempre difícil”, conta.

Ainda sobre as reforma, disse que elas devem ser vistas sob a ótica de quem é diretamente impactado. “Na educação, tem que se pensar com a cabeça dos pais, não dos políticos… Na saúde, é preciso pensar nos pacientes”, exemplificou.

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Brasil

Sobre o Brasil, Blair disse reconhecer que a política no país enfrenta “turbulência”, ponderando, contudo, que o país “tem um potencial enorme”. “Quando falamos sobre o potencial, as pessoas acabam se cansando, de só se falar no potencial”, emendou.

Em relação aos desafios fiscais no Brasil, ele destacou ser “alta” a dívida, mas, quando comparada a de outros países da Europa, “não é” tanto.

Tecnologia

Tony Bair crê ainda que a tecnologia pode ajudar muito na educação. “A revolução tecnológica é a que mais impactará a vida das pessoas. Se você quer reformar sistemas complicados, com a revolução tecnológica isso será possível”, diz.

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Para o britânico, a resposta da produtividade das empresas está na tecnologia. “Qualquer empresa vai ter que usar a inteligência artificial”, cita, vendo com grande potencial sua utilização na saúde preventiva. “Essas tecnologias são assustadoras, mas importantes”, comenta.

Ele ainda criticou a polarização política: “Podemos superar o sistema ideológico e concentrar no que funciona”, avalia. “No fundo, as pessoas querem que o governo faça sua vida melhor”, diz.