Serviços voltam a assustar no PCE de janeiro e devem manter Fed ‘sem pressa’ de cortar juros

Categoria de serviços apresentou um forte aumento de 0,60% no mês, marcando a sua variação mensal mais forte desde junho de 2022; taxa anual dos serviços passou de 3,87% para 3,90%

Roberto de Lira

Sede do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA

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A esperada divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) apenas confirmou a expectativa dos economistas sobre a reaceleração da inflação americanas, especialmente a de serviços.

Embora ainda seja insuficiente para mexer com projeções do início da queda de juros (entre maio e junho), o dado deve reforçar a mensagem do Fed de que não há motivo para pressa.

O PCE, considerado uma medida de inflação de grande interesse para o banco central norte-americano, registrou um aumento mensal de 0,3% em janeiro, em linha com as expectativas do mercado. No acumulado dos últimos 12 meses, o índice desacelerou de 2,5% para 2,3%.

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o núcleo do PCE teve um incremento mensal de 0,4%, enquanto na comparação anual registrou 2,7%, o que significou uma queda em relação aos 2,9% do mês anterior e também o menor valor desde abril de 2021.

Para Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, a composição do índice deixou claro que a inflação vem apresentando sinais de maior resiliência. “A inflação de serviços acelerou, refletindo o aquecimento do mercado de trabalho nos EUA”, comentou.

Ela compara com a inflação de bens, que costuma ser mais volátil, e que segue em queda, o que traz algum alívio, ainda que temporário, para os preços.

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“Na nossa visão, os dados divulgados hoje justificam a cautela adotada pelo Fed para iniciar o ciclo de corte de juros. Mantemos nossa visão de que os cortes devem começar no terceiro trimestre deste ano”, prevê.

Segundo a economista do C6 Bank, os riscos para esse cenário são simétricos. Caso a inflação apresente um comportamento mais benigno do que o esperado, a autoridade monetária pode optar por antecipar os cortes para o segundo trimestre. “Por outro lado, caso a inflação se mantenha resiliente, o início do corte pode ser postergado para o final do ano ou até mais tarde”, alerta.

Francisco Nobre, economista da XP, também afirma que os preços PCE de janeiro reforçaram a reaceleração da inflação de serviços. Esse subíndice, destaca,  apresentou um forte aumento de 0,60% no mês, marcando a sua variação mensal mais forte desde junho de 2022.

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Também foi destacado que a taxa anual dos serviços passou de 3,87% para 3,90%, enquanto a medida trimestral anualizada cresceu para 4,05%, seu nível mais elevado desde junho. ano passado. “As maiores variações foram observadas em serviços recreativos (0,86% mensais) e serviços financeiros e seguros (0,75%)”, detalha.

Nobre lembra que os dados de hoje estiveram globalmente em linha com as expectativas, enviando a mesma mensagem que o CPI de janeiro, mas que a reação do mercado foi bastante nula, com os ‘yields’ dos títulos do Tesouro a 10 anos caindo cerca de 4 pontos-base.

“Enfatizamos que a continuidade da rigidez na categoria de serviços é uma preocupação, especialmente tendo em conta que este setor tende a ser sensível ao apertado mercado de trabalho dos EUA”, comenta o economista da XP.

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A avaliação de Gustavo Sung, economista chefe da Suno Research, é um pouco mais benigna. Ele afirma que, ao contrário do CPI, que atribui maior peso às despesas com habitação, o PCE oferece uma visão mais precisa da evolução do processo inflacionário.

“No geral, o dado veio benigno com uma contínua desaceleração dos preços. Mas, observando algumas categorias que compõem o índice, serviços voltou a acelerar e isso traz uma certa preocupação.”

Mercado de trabalho

Ele destaca que outro dado divulgado pela manhã, e que trouxe um certo alívio, foi o número de pedidos de auxílio desemprego superaram as expectativas do mercado, atingindo 215 mil ante 210 mil previstos.

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“Portanto, os dados divulgados nesta quarta-feira são positivos para o cenário do banco central norte-americano. Contudo, é sabido que o segundo processo de desinflação é mais lento do que o primeiro, e por isso a autoridade monetária não terá pressa em modificar o atual plano de ação”, pondera.

Sung diz que os próximos dados serão importantes, pois indicarão se a inflação vai convergir de forma sustentável para a meta de longo prazo, que é de 2,0%.

“Nossa expectativa, caso não ocorram choques que pressionem a inflação, é de um arrefecimento dos preços ao longo dos próximos meses, com a inflação se aproximando da meta no terceiro trimestre deste ano. Além disso, teremos os dados econômicos do primeiro trimestre de 2024 até maio. Nossa previsão é de desaceleração desses indicadores.”

Dessa forma, a Suno mantém sua perspectiva de redução na taxa de juros para o segundo trimestre deste ano, com maior probabilidade em maio.