Recondução de Campos Neto no BC seria excelente, mas política fiscal é entrave, diz Gustavo Franco

Expansão de gastos pode exigir que BC suba juros, o que levaria a conflito; inflação via crédito subsidiado também é desafio à frente

Roberto de Lira

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A possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconduzir Roberto Campos Neto à presidência do Banco Central após o término de seu mandato à frente da autoridade monetária é excelente, afirmou nesta quinta-feira (8) o ex-presidente do BC Gustavo Franco. Ele alertou, no entanto, que há um conflito entre as políticas fiscal e monetária que o BC independente terá de resolver.

A notícia de que Lula teria enviado um representante até Campos Neto para sondar sua opinião sobre uma recondução em 2024, quando termina o mandato atual foi publicada pelo jornal Folha de S. Paulo.

Franco disse que pode acontecer um teste sobre essa independência do BC no ano que vem, nas primeiras reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). “Em janeiro, provavelmente não acontece nada (a possibilidade maior é de manutenção da Selic em 13,75%). Mas tem um em março, que vai ser o primeiro onde vai dar para ver o tamanho do risco fiscal. Se o panorama estiver com a cara ruim, vai ter que subir o juro. Aí, quero ver se vai ter recondução”, questionou, durante o evento Macro Vision 2022, do Itaú.

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O ex-presidente do BC lembrou de uma situação no passado para ilustrar as dificuldades. O ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliário Luiz Cantidiano foi indicado por Fernando Henrique Cardoso em 2002 e foi o primeiro a comandar a CVM já no remite de autonomia. Ele reclamava do tratamento que recebia em Brasília após troca de poder, que levou Lula pela primeira vez ao Palácio do Planalto. Cantidiano ficou no cargo até o fim do mandato, em 2004.

Franco também lembrou que uma das questões é a própria formação do colegiado do Copom, formado por diretores do BC, uma vez que dois titulares terão o mandato expirando em fevereiro e outros dois no final de 2023.

No debate do evento do Itaú, Affonso Celso Pastore, outro ex-presidente do BC, comentou sobre o risco da expansão fiscal que virá com a aprovação da PEC da Transição no Congresso Nacional. “Tem um impulso fiscal num momento no qual a política monetária tem que se manter restritiva. Uma das claras consequências disso está nos prêmios de risco”.

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Ele lembrou que já estava se falando em reduzir juros, quando Lula bateu o martelo que queria mais expansão do gasto. Segundo Pastores, a taxa de um ano foi parar acima de 14% e isso indica que existe na visão do mercado, na curva de juros, uma probabilidade alta que aquele espaço que o BC teria de reduzir a taxa de juros se reduziu, ou até terminou.

“Tem uma precificação para a subida de juros. Ela não é dominante, mas ela está lá. Depende do que acontecer com a política fiscal”, disse.

Tanto Fraco como Pastore também mostraram preocupação com um pressão inflacionária extra caso o novo governo opte pela fórmula antiga de oferecer crédito subsidiado via BNDES. “A esquerda tem preferência pelo crédito subsidiado. É muito melhor usar o mercado, com taxas neutras mais baixas”, disse Pastore.

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Franco disse que é sempre um trabalho enorme tentar convencer Brasília que há um componente fiscal na taxa de juros. “Se fizer uma política fiscal doida, o juro sobe”, afirmou.