Probabilidade de inflação passar intervalo de tolerância da meta cai para 17%, diz BC

Projeção do BC aponta que inflação acumulada em quatro trimestres termina 2023 em 4,6%, recuando para 3,6% no 1° tri de 2024

Roberto de Lira

Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (iStock)

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A probabilidade de a inflação brasileira ultrapassar os limites do intervalo de tolerância da meta em 2023 (de 4,75%) caiu de 67% para 17%, segundo o Relatório Trimestral de Inflação de dezembro, divulgado nesta quinta-feira (21) pelo Banco Central. Segundo o BC, essa alteração ante o relatório de setembro reflete a queda na projeção de inflação para este ano (de 5,0% para 4,6%) e a redução da incerteza associada a um horizonte mais curto de projeção.

Na projeção do cenário de referência do BC, que utiliza trajetória para o preço do petróleo seguindo aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses, taxa Selic da pesquisa Focus e taxa de câmbio seguindo a PPC, a inflação acumulada em quatro trimestres termina 2023 em 4,6%.

Já no primeiro trimestre de 2024, a inflação projetada cai para 3,6%, influenciada pelo efeito descarte do primeiro trimestre de 2023, quando ocorreu reoneração parcial de gasolina e etanol. A inflação projetada termina 2024 em 3,5% e cai para 3,2% em 2025 e 2026, diante de uma meta para a inflação de 3,00% para esses anos.

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Entre os riscos de alta para essas projeções, o BC citou uma revisão das projeções de curto prazo, afetadas pelo aumento do ICMS sobre combustíveis a partir de fevereiro de 2024 e pelo fenômeno do El Niño. Também há risco de indicadores de atividade econômica mais fortes do que o esperado, que podem afetar a estimativa do hiato do produto.

Já os principais fatores de revisão para baixo são uma inflação menor do que a esperada e seus efeitos inerciais, queda do preço do petróleo e das commodities em geral, trajetória levemente mais alta da taxa Selic na pesquisa Focus aumento da incerteza econômica, medido pelo IIE‑Br.

Política monetária

Sobre a condução da política monetária, o BC comenta no relatório que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação.

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O Comitê de Política Monetária (Copom), em sua última reunião do ano, reforçou a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, diz o texto.

Além disso, o relatório diz que o Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, “em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

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Cenário interno e externo

Segundo o BC, no cenário doméstico, a perspectiva de arrefecimento da atividade econômica se confirmou, com um crescimento de apenas 0,1% no terceiro trimestre de 2023, após forte elevação no primeiro semestre.

“Esse crescimento foi ligeiramente maior que o esperado. Destaca‑se a alta do consumo das famílias, especialmente de serviços e bens de consumo não duráveis. Por outro lado, os investimentos têm recuado há quatro trimestres”, diz o texto do Relatório de Inflação.

Também citado que a balança comercial deve apresentar saldo recorde em 2023, contribuindo para déficit em transações correntes moderado.

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Já as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) foram ajustadas ligeiramente. Para 2023, passaram de 2,9% para 3,0% e, para 2024, de 1,8% para 1,7%. “O cenário prospectivo inclui aumento do ritmo de crescimento ao longo do próximo ano, com moderação do consumo das famílias, retomada dos investimentos, e manutenção de um balanço favorável nas contas externas.”

Enquanto isso, o ambiente externo segue volátil. O texto diz que, desde o relatório anterior, houve movimentos expressivos das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos (EUA), primeiramente subindo e, mais recentemente, recuando.

“Os núcleos de inflação permanecem em níveis elevados em diversos países, e os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.”