Primárias da oposição põem à prova processo de abertura política na Venezuela

Candidatos como a ex-deputada María Corina Machado estão inabilitados de concorrer contra Nicolás Maduro nas eleições de 2024

Roberto de Lira

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O processo de abertura política da Venezuela passará neste domingo por uma prova de fogo com a realização das primárias da oposição ao regime de Nicolás Maduro, que devem definir o candidato da coalizão que disputará com ele a eleição presidencial marcada para o segundo semestre do ano que vem. Na terça-feira (17), governo e oposição assinaram acordo em Barbados para retomar o processo democrático no país, permitindo que a disputa eleitoral se realize em 2024 com a presença de observadores internacionais independentes.

O acordo foi o principal motivo pelos Estados Unidos terem levantado ontem parte das sanções econômicas contra a Venezuela, adotando licenças temporárias para petróleo, gás e ouro do país.

A atual polêmica reside na autorização para que as primárias sejam abertas a todos os interessados, mas há nomes fortes que são considerado inabilitados. O principal nome nessa lista é o da professora e ex-deputada María Corina Machado, que lidera as pesquisas das prévias, mas que perdeu os direitos políticos por 15 anos por decisão da Controladoria Geral da República.

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Partidários de Maduro a acusaram de ligações com o agora autoexilado Juan Guaidó – ex-líder da oposição na Assembleia Nacional – e ao apoio da política às sanções econômicas que o país ainda enfrenta.

Ontem, o primeiro vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, reiterou em discurso que os adversários que tiverem qualquer desqualificação não poderão participar nas próximas eleições.

“O que está escrito é o que vale, em lado nenhum (do acordo) se fala de inabilitações ou de questões que alguns queiram impor”, enfatizou o também deputado da Assembleia Nacional. Ele também disse ser contrário a “qualquer acompanhamento externo”.

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Os EUA esperam que o governo venezuelano defina um calendário para levantar a desqualificação de candidatos às eleições de 2024, conforme comunicado assinado pelo secretário Antony Blinken na quarta-feira. No mesmo aviso, Blinken disse esperar que “todos os cidadãos norte-americanos e presos políticos venezuelanos detidos injustamente” no país comecem a ser libertados.

Pelo menos essa parte começou a ser cumprida. Numa demonstração de que vai seguir com os termos do acordo, o governo bolivariano libertou alguns presos políticos, entre eles Juan Requesens, condenado por “conspiração” após uma explosão de dois drones durante um ato de Maduro com militares em Caracas, em 2018.

Outro libertado foi Roland Carreño, que era coordenador do partido Vontade Popular – no qual militava Juan Guaidó. Ele foi preso em 2020, acusado de se ser o operador financeiro de “planos conspiratórios e terroristas” contra o governo.