Powell diz que serão necessárias mais evidências de queda sustentável da inflação

Presidente do Fed diz que há um "longo caminho a percorrer" para restaurar a estabilidade dos preços e que manterá o curso atual

Roberto de Lira

O presidente do Fed, Jerome Powell

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O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, disse hoje em entrevista coletiva após a decisão do Comitê de Política Monetária (Fomc) de elevar as taxas de juros em 50 pontos-base nesta terça-feira (14), que os dados  de inflação recebidos em outubro e novembro mostram uma bem-vinda redução no ritmo mensal de alta de preços.  Mas alertou que serão necessárias mais evidências para dar a confiança de que a inflação está num caminho descendente sustentado.

“Temos um longo caminho percorrer para restaurar a estabilidade dos preços. Manteremos o curso até que o trabalho esteja concluído”, afirmou.

Para Powell, a questão mais importante agora não é mais a velocidade ou o ritmo da política de juros. “Não é tão importante o quão rápido vamos. É muito mais importante pensar qual é o nível final e, a certa altura, a questão será por quanto tempo permaneceremos restritivos”, afirmou na entrevista.

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Em seu discurso antes da entrevista coletiva, ele se dirigiu ao povo americano e disse entender as dificuldades que a alta inflação está causando e que disse que o Fed está “fortemente comprometido” em reduzir a inflação para a meta de 2%.

“Ao longo do ano, tomamos medidas para endurecer a postura da política monetária. Percorremos muito terreno e os efeitos totais de nosso rápido aperto até agora ainda não foram sentidos. Mesmo assim, temos mais trabalho a fazer”, esclareceu.

Powell afirmou que, sem estabilidade de preços, a economia não funciona para ninguém. “Em particular, sem estabilidade de preços, não alcançaremos um período sustentado de fortes condições do mercado de trabalho que beneficiem a todos”, disse.

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Ele lembrou que a economia dos EUA desacelerou significativamente em relação ao ritmo mais acelerado do ano passado. Powell ponderou que, embora o PIB real tenha subido 2,9% no último trimestre, ele permaneceu praticamente inalterado nos três primeiros trimestres de 2022

“O crescimento dos gastos dos consumidores desacelerou em relação ao ano passado, em parte refletindo a renda disponível real mais baixa e as condições financeiras mais rígidas. A atividade no setor imobiliário enfraqueceu significativamente, refletindo em grande parte as taxas de hipoteca mais altas”, citou

Projeções

Powell também deu destaque à projeções econômicas divulgadas hoje junto com a decisão dos juros. A projeção mediana para o crescimento real do PIB é de apenas 0,5% neste ano e no próximo, bem abaixo da estimativa mediana da taxa de crescimento normal de longo prazo, afirmou.

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Apesar da desaceleração do crescimento, o presidente do Fed disse que o mercado de trabalho continua extremamente apertado, com a taxa de desemprego próxima do menor nível em 50 anos, a oferta de empregos ainda muito alta e o crescimento salarial elevado.

“Os ganhos de emprego foram robustos, com o emprego aumentando em média 272.000 vagas por mês nos últimos três meses. Embora as ofertas de emprego tenham ficado abaixo de suas máximas e o ritmo de criação de vagas tenha desacelerado em relação ao início do ano, o mercado de trabalho continua desequilibrado, com a demanda superando substancialmente a oferta de trabalhadores disponíveis”, explicou.

Sobre esse aspecto, a projeção mediana para a taxa de desemprego subiu para 4,6% no final do próximo ano.

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A projeção mediana para a inflação total do PCE é de 5,6% neste, caindo para 3,1% no ano que vem, 2,5% em 2024 e 2,1% em 2025.

Expectativas

Apesar da inflação elevada, Powell disse que as expectativas de inflação de longo prazo parecem permanecer bem ancoradas, conforme refletido em uma ampla gama de pesquisas com famílias, empresas e analistas, bem como medidas dos mercados financeiros.” Mas isso não é motivo para complacência. Quanto mais tempo o atual surto de inflação alta continuar, maior a chance de que as expectativas de inflação mais alta se tornem arraigadas”, alertou

“Meus colegas e eu estamos perfeitamente cientes de que a alta inflação impõe dificuldades significativas à medida que corrói o poder de compra, especialmente para aqueles menos capazes de arcar com os custos mais altos de itens essenciais como alimentação, moradia e transporte”, declarou.

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Sobre a decisão de hoje, quando o Comitê elevou a meta para a taxa dos Fed Funds em meio ponto porcentual,, Powell afirmou que as condições financeiras flutuam no curto prazo em resposta a muitos fatores, mas é importante que, ao longo do tempo, reflitam a restrição política que está sendo implementada para que a inflação retorne à metade 2%.

“Estamos vendo os efeitos sobre a demanda nos setores mais sensíveis a juros da economia, como o imobiliário. Levará tempo, no entanto, para que todos os efeitos da contenção monetária sejam percebidos, especialmente sobre a inflação”, afirmou.

Para o presidente do Fed, a redução da inflação provavelmente exigirá um período sustentado de crescimento abaixo da tendência e algum abrandamento das condições do mercado de trabalho. “O registro histórico adverte fortemente contra o afrouxamento prematuro da política. Entendemos que nossas ações afetam comunidades, famílias e empresas em todo o país. Tudo o que fazemos está a serviço de nossa missão pública”, disse.