PIB do 4º trimestre nos EUA reforça cautela do Fed com o consumo interno, dizem economistas

Revisão do crescimento da economia americana no final do ano passado foi muito pequena para mexer com o mercado, que aguarda com mais atenção a publicação amanhã do PCE de janeiro

Roberto de Lira

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A nova estimativa do PIB dos Estados Unidos divulgada nesta quarta-feira (28) veio marginalmente inferior à esperada, mas os economistas acreditam que isso não deve trazer nenhum tipo de embaraço à estratégia cautelosa do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de esperar um pouco mais antes de iniciar o ciclo de quedas nas taxas de juros.

Assim, a expectativa de um evento de divulgação de indicador que possa mexer com os humores do mercado ficou para amanhã, quando deve vir a público o índice de preços de gastos com o consumo (PCE, na sigla em inglês), o preferido pelo Fed para decidir sobre a política monetária.  

A economia americana teve expansão de 3,2% no 4º trimestre de 2023 em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. O dado ficou apenas marginalmente abaixo da alta de 3,3% da prévia feita em janeiro.

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Para Roberto Motta, estrategista macro da Genial Investimentos, o dado de hoje teria que vir muito diferente do esperado para fazer algum preço nos ativos. Ele comentou em live da plataforma de investimentos nesta manhã que a peça principal do tabuleiro é mesmo a saúde do consumidor americano, que é exatamente o que está sustentando o PIB.

Ele considera que o único dado que veio diferente hoje foi justamente o gasto pessoal, uma vez que a expansão esperada para o último trimestre de 2023 passou de 2,7% para 3,0%. “É um número ruim, em termos de inflação”, comentou.

Olhos no PCE

Por isso, ele acredita que as atenções se voltam para o PCE de janeiro, especialmente após os dados de inflação do consumidor (CPI) e do produtor (PPI) do início do ano, que vieram acima do esperado pelo mercado. Motta lembrou que o núcleo desse indicador estava rodando entre 0,10% e 0,15% mensais, mas que projeção para janeiro está em 0,40%.

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A leitura que o estrategista faz é que o mundo tinha virado o ano muito otimista, com a probabilidade de corte dos juros nos em março em torno de 80% e projeções de pouso suave da economia mais próximo e inflação controlada.

A mudança de expectativa, pode ser ilustrada pela curva futura de juros, que projetava quase 200 pontos-base de cortes pelo Fed no ano e agora convergiu para a visão do Fed, de 75 bps. “Para mudar de novo, não basta o PCE vir ruim amanhã. Precisa de uma sequência de inflação ruim. O ajuste de juros que o mercado precisava fazer, já fez”, analisou.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, concorda que o nova estimativa do PIB reforça a tendência de que vai demorar um pouco mais realmente para o Fed praticar seu primeiro corte de juros. “Parece que o mercado finalmente aceitou que não vem agora em março e colocou cada vez mais a expectativa para junho em diante”, disse.

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Para ele, houve uma piora na margem na questão da inflação, mas nada muito preocupante, e  também leve piora na atividade não deve ser suficiente para mudar o pensamento dos dirigentes do Fed.

“Imagino que que deve demorar um pouco mais para vir esse primeiro corte, o que pressiona um pouco as bolsas e pressiona em termos de valorização do dólar”, comentou. “Tudo aponta para um crescimento da demanda doméstica mais do que se pensava anteriormente e uma economia mais aquecida em geral”, disse à Bloomberg James Knightley, economista-chefe internacional do ING, em nota.