PIB acima do esperado nos EUA realça discurso do Fed sobre novas altas de juros, dizem analistas

Além de a economia estar crescendo acima do potencial, mercado de trabalho americano permanece aquecido, dizem economistas

Roberto de Lira

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A nova prévia do PIB dos Estados Unidos, que apontou para um crescimento de 2% no primeiro trimestre de 2023, acima das projeções do mercado, mostra uma continuidade da resiliência da atividade econômica no país, segundo analistas, um sinal de que os efeitos da política monetária restritiva ainda não chegaram. Isso corrobora a linha de comunicação recente do Federal Reserve, que indicou para a necessidade de pelo menos mais duas altas de juros até o final do ano.

André Cordeiro, economista-sênior do Banco Inter, lembrou que a expectativa para o indicador hoje era de 1,4% e que em todas as três estimativas divulgadas para o primeiro trimestre a correção veio acima do esperado.

“O resultado reflete revisões nas exportações e no consumo das famílias, enquanto investimento e gastos do governo reduziram. Isso sugere que a economia americana ainda está crescendo acima da tendência, mantendo-se resiliente em meio à elevada taxa de juros. Outro ponto importante é o mercado de trabalho, que permanece aquecido, sustentando a demanda interna”, comentou Cordeiro.

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Ele também destacou que, nesta quinta-feira (29), foram divulgados os dados de pedidos de seguro-desemprego, que vieram abaixo do esperado, indicando que menos pessoas estão necessitando do benefício.

O economista do Inter lembrou ainda que o banco central americano acredita que o crescimento potencial da economia americana, ou seja, a taxa de crescimento que não é acompanhada de aceleração na inflação, seja de 1,8%.

“Portanto, vemos a economia ainda operando acima do crescimento potencial e o mercado de trabalho ainda aquecido, o que pode levar o Fed a interpretar que a economia não está reagindo à política monetária contracionista como esperado”, afirmou.

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Assim como os integrantes do Fomc já anteciparam mais duas altas na taxa de juros até o fim do ano, o desempenho da atividade econômica parece corroborar a visão do Fed, tornando novas altas mais prováveis, segundo Cordeiro.

Para Lucas Zaniboni, economista da Garde Asset Management, a terceira leitura do PIB mostrou um panorama ainda mais otimista para a economia americana. Ele também destacou que o PIB americano cresceu acima do potencial no início do ano. “Além disso, a composição da revisão também foi positiva, com o consumo crescendo fortes 4,2% em termos anualizados”, detalhou.

Zaniboni fez a ressalva de que os dados são relativamente defasados, mas que o padrão de surpresas positivas para dados de atividade americanos vem se mantendo também em divulgações mais recentes.

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Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, destacou que o resultado de hoje ficou bem acima não só das projeções, mas também da divulgação anterior (1,3%) e que esse crescimento do PIB refletiu tanto o aumento das exportações líquidas como o maior gasto com consumo de serviços.

Mas ela fez uma ressalva de que, apesar da surpresa positiva, o cenário é de desaceleração da economia americana, resultado de seguidos aumentos de juros por parte do Federal Reserve com o objetivo de conter a inflação. “Acreditamos que a economia americana crescerá em ritmo menor, abaixo do potencial, em 2023, mas não prevemos recessão”, disse.

Para a economista do C6 Bank, o cenário de inflação elevada e atividade resiliente é consistente com mais dois aumentos de 0,25 pontos-base na taxa de juros nas próximas reuniões do Fed, conforme sinalizado pelo próprio comitê de política monetária.