Para analistas, melhora do rating pela Fitch é positiva, mas grau de investimento depende de reformas

Especialistas defendem continuidade de mudanças estruturais para atrair investimentos e elevar crescimento da economia

Roberto de Lira

(Getty Images)

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A elevação do rating soberano do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch nesta quarta-feira é um reconhecimentos dos esforços do Brasil nos últimos anos para recuperar a confiança dos investidores, mas é apenas um passo na direção do grau de investimento. A nota de risco soberana brasileira subiu de BB- para BB, pude já no campo especulativo, e ainda está a dois degraus do patamar do risco de crédito baixo ou moderado.

A notícia veio praticamente um mês após outra agência, a S&P, ter elevado a perspectiva de seu rating para o Brasil de estável para positiva, um movimento que estaria antecipando uma melhora da nota. Nesse caso, o país ainda está três degraus abaixo do grau de investimento.

Para o banco Goldman Sachs, a subida da nota representa uma evolução positiva, mas o Brasil precisa de mais reformas e de políticas macro e microeconômicas e regulatórias para se colocar na posição de investimento seguro.

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Para o banco de investimentos, essas reformas precisam apoiar o investimento e promovem o crescimento da produtividade, ou seja, elevar o atual modesto potencial de crescimento real do PIB brasileiro. Além disso, é necessário estabilizar a dinâmica da dívida, que tem inclinação ascendente.

Para Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, há semelhanças e diferenças nos relatórios de S&P e Fitch. “A Fitch coloca a parte ambiental nos últimos meses como um ponto de destaque, algo que a S&P não fez”, comenta.

A semelhança na análise está tanto no elogio à atitude mais pragmática do atual governo como no equilíbrio entre os poderes, que tem dificultado retrocessos, como no caso da ideia de rever o marco do saneamento básico. “Sobre reforma tributária, colocaram como um ponto de destaque positivo hoje.”

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“Isso favorece o fluxo de recursos para cá, pois diversos fundos internacionais têm limitações por nota. É preciso estar em um determinado patamar de rating para que receba a alocação de recursos de alguns fundos”, lembra Cruz.

O analista da RB acha difícil mensura que impacto a notícia de hoje pode ter sobre os ativos porque o mercado está muito voltado à decisão dos juros nos Estados Unidos. “Em linhas gerais (o anúncio) um pouco mais focado no curto prazo e elogiando as medidas fiscais, que não resolvem, mas estancam o endividamento em proporção do PIB pelo próximos anos.

Pedro Wilson Domingues, sócio da Nexgen Capital, também comenta que o Brasil ainda está no grau especulativo de investimento na visão do investidor internacional, mas afirma que a mudança sintetiza um pouco a melhora do compromisso do país em relação às suas contas. “Para atingir o grau de investimento, teria de subir mais dois níveis, chegando ao triplo B- pela Fitch e pelo S&P”, destaca.

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O economista e coordenador da comissão de economia da Apimec Brasil, Álvaro Bandeira, afirma que o upgrade da nota melhora o risco do país perante os grandes investidores, mas também considera que estamos muito longe de retomar o grau de investimento.

“O governo comemorou, e com alguma razão, essa melhora na classificação de risco no rating Brasil, mas certamente estamos longe de conseguir esse grau de investimento. Isso vai depender fundamentalmente de avaliar as reformas que estão em curso no Congresso Nacional e se elas efetivamente serão eficientes e suficientes para reposicionar o país na rota do crescimento maior, que é o que Brasil precisa. E para isso precisa também de atração de novos investimentos.”