IPCA abaixo do esperado em junho não significa que a inflação recuou; dados ainda exigem cautela, reforçam economistas

Na avaliação de economistas, pressão inflacionária e riscos políticos devem continuar levando o BC a normalizar a política monetária antes do fim do ano

Mariana Zonta d'Ávila

(AndreyPopov/Getty Images)

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SÃO PAULO – Com o mercado monitorando atentamente os dados de inflação, diante da forte alta dos preços nos últimos meses, que tem reduzido o retorno real dos investimentos, a notícia de que os dados do IPCA de junho vieram abaixo do esperado podem trazer um alívio, mas não deveriam. Ao menos essa é a opinião do Bradesco BBI.

Em relatório divulgado nesta quinta-feira (8), o banco escreve que apesar dos dados abaixo do estimado no último mês, a recomendação permanece a de atenção e cautela.

“Ver apenas a manchete de que o IPCA veio abaixo do esperado pode levar a uma equivocada confiança de que a inflação finalmente começou a recuar. Embora neste momento qualquer divulgação abaixo do esperado seja uma boa notícia, quando olhamos mais de perto os números, não há tal alívio no IPCA atual: a difusão continua alta, o núcleo da inflação está subindo, a inflação de serviços está voltando (por conta da crescente mobilidade), e a inflação industrial permanece em patamar elevado. De fato, a surpresa negativa foi muito concentrada em junho”, escreve o time de economistas.

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No último mês, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou alta de 0,53% ante maio, abaixo da expectativa dos economistas consultados pela Refinitiv, de alta de 0,59% na comparação mensal.

Com o resultado, o indicador acumula alta de 3,77% em 2021 e 8,35% nos últimos 12 meses. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a variação acumulada nos últimos 12 meses é a maior desde setembro de 2016 (8,48%). Leia mais aqui.

Neste cenário, o Bradesco BBI afirma que continua cauteloso com o indicador e que, por enquanto, optou por manter a estimativa de alta de 6,5% para o IPCA em 2021 e de 4,5% em 2022. Com relação à taxa básica de juros, a avaliação é de que o BC deve elevá-la acima do nível considerado neutro.

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Alberto Ramos, economista do Golman Sachs, também vê a taxa Selic ligeiramente acima do considerado neutro ao fim deste ano e início de 2022, em meio à alta dos preços e dos riscos políticos no horizonte.

Segundo ele, uma pressão inflacionária intensa e gradativamente disseminada, pressões intensas de custo, um desempenho da economia mais resiliente do que o esperado, bem como um fortalecimento do sentimento do consumidor e estímulo fiscal devem continuar levando o Banco Central a normalizar a política monetária antes do fim do ano.

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A expectativa é de que a inflação reacelere em julho, impulsionada por outra rodada de aumentos de preços de combustível e da eletricidade, além do impacto de condições climáticas adversas (geadas) sobre alimentos perecíveis, devendo chegar a cerca de 9% no comparativo anual em agosto.

Já a XP Investimentos destaca que o maior desvio das projeções ficou por conta do grupo de transportes, pelo fato de os economistas terem superestimado a variação de veículos e combustíveis no período.

Apesar de os dados terem vindo abaixo do esperado, a avaliação da XP é de que a perspectiva de curto prazo é de aceleração da inflação, impulsionada principalmente pelo aumento da energia elétrica, reajustes nos preços dos combustíveis e alimentação no domicílio. A casa optou por manter suas projeções para o IPCA este ano em 6,4%.

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Apostas mais baixas para a Selic

Na avaliação de João Leal, economista da Rio Bravo, o IPCA abaixo do esperado em junho deve levar o mercado financeiro a ver um menor espaço para a alta da Selic na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em agosto.

Segundo ele, as apostas devem se concentrar em alta de 0,75 ponto percentual, para 5% ao ano – abaixo do aumento de um ponto que estava sendo esperado por parte do mercado.

Quando aberto o índice de inflação, o economista da Rio Bravo afirma que o item de serviços é o que mais preocupa a casa nos próximos meses, uma vez que deve ser impulsionado neste segundo semestre diante da expectativa de reabertura econômica.

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No grupo, as atenções recaíram sobre o núcleo de serviços subjacentes, com alta de 0,32%, em maio, para 0,44% em junho, trazendo uma perspectiva de que o item de serviços, um dos maiores componentes do IPCA, pode colocar a inflação em um patamar mais elevado do que o estimado anteriormente, afirma.

“Isso pode se refletir também nas expectativas do mercado para o IPCA em 2022 – que é uma variável relevante no acompanhamento do BC”, diz Leal.

Outra forte pressão no índice em junho foi a de vestuário, destaca Leal, que veio acima das expectativas em meio à forte demanda, impulsionada por uma retomada da atividade e em meio aos pagamentos do auxílio emergencial.

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