Indicador salarial da zona do euro acelera e reforça argumentos de cautela do BCE

Salários negociados no bloco monetário de 20 países subiram 4,69% no 1º trimestre, depois de uma alta de 4,45% nos três meses anteriores; sindicatos continuam a exigir compensação por perdas com a inflação

Reuters

Sede do BCE em Frankfurt, Alemanha 14/09/2023 (Foto: Wolfgang Rattay/Reuters)

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Frankfurt (Reuters) – O crescimento dos salários negociados na zona do euro acelerou ligeiramente no primeiro trimestre de 2024, mostraram dados do Banco Central Europeu (BCE) nesta quinta-feira (23), reforçando a justificativa para cautela no corte das taxas de juros.

Os salários negociados no bloco monetário de 20 países aumentaram 4,69% no primeiro trimestre, depois de uma alta de 4,45% nos três meses anteriores, uma vez que os sindicatos continuaram a exigir compensação pelos rendimentos reais perdidos em anos de inflação rápida.

O BCE há muito tempo associa a expectativa de corte nas taxas ao dado salarial, mas essencialmente se comprometeu com um afrouxamento da política monetário em 6 de junho, de modo que é mais provável que o novo número influencie as decisões mais à frente.

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“De modo geral, espera-se que o crescimento dos salários negociados permaneça elevado em 2024”, disse o BCE em um comunicado publicado nesta quinta-feira. “No entanto, parece que as pressões salariais deverão desacelerar em 2024”.

O banco apontou que os salários anunciados para novas contratações estão desacelerando, com o Indeed Wage Tracker diminuindo para 3,4% em abril de 2024, de um pico de 5,1% em outubro de 2022.

O BCE espera que a remuneração por empregado na zona do euro cresça 4,5% este ano, 3,6% no próximo e 3,0% em 2026. Isso é mais do que os 3% que o BCE considera consistentes com sua meta de inflação de 2%.

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Mas o banco central também afirmou que os trabalhadores merecem alguma compensação pela perda de renda, portanto um período de crescimento mais rápido dos salários é aceitável, especialmente porque as margens de lucro corporativo acima da média poderiam absorver grande parte do aumento.

“Não esperamos que os números dos salários do primeiro trimestre impeçam o BCE de cortar os juros em 25 pontos-base em junho, mas achamos que um crescimento mais firme dos salários reduz a probabilidade de cortes consecutivos em julho”, disse Diego Iscaro, economista da S&P Global Market Intelligence.

Indicadores recentes, incluindo uma série de leituras de confiança que captam as intenções das empresas, também mostraram um arrefecimento das demandas salariais no segundo trimestre.

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De fato, até mesmo o presidente do banco central alemão, Joachim Nagel, uma das autoridades mais conservadoras do Conselho do BCE, composto por 26 pessoas, disse que a evolução dos salários está indo na direção certa.

A 2,4%, a inflação da zona do euro está agora a uma pequena distância da meta de 2% do BCE, mas ainda pode levar até 2025 para realmente chegar lá, devido em parte aos efeitos estatísticos e à volatilidade dos preços das commodities.