Fed sinaliza que taxas serão mantidas mais altas por um período longo, dizem analistas

A taxa de referência subiu para uma faixa entre 3% e 3,25%, a maior para os fed funds desde o início de 2008

Roberto de Lira

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A decisão do Federal Reserve de elevar a taxa de juros nos Estados Unidos em 75 pontos base anunciada nesta tarde veio em linha com as projeções e reforça que a autoridade monetária está empenhada em trazer a inflação doméstica de volta à meta de 2% no longo prazo. E que isso vai acontecer mesmo que implique em desaquecimento da economia, comentam analistas.

A taxa de referência subiu para uma faixa entre 3% e 3,25%, a maior para os fundos federais desde o início de 2008.

A média das projeções dos dirigentes do Fed aponta para juros em 4,4% ao final de 2022. A autoridade monetária vê juros entre 4% e 4,5%. Para o final de 2023, a projeção média é de juros em 4,6%. Para o final de 2024, a projeção é de 3,9% e de 2,9% ao final de 2025.

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A mediana das projeções para o Produto Interno Bruto também caiu drasticamente. Em junho, os dirigentes do Fed projetavam crescimento de 1,7% para a economia americana em 2022. Agora, preveem um leve avanço, de 0,2%. Para 2023, a projeção caiu de 1,7% para 1,2% e em 2024 foi de 1,9% para 1,7%.

O Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, acredita ter ficado claro que pode se esperar uma taxa de juros mais alta e um ciclo de alta nos juros mais prolongado. “Se estavam fragmentadas (as projeções) para novembro e dezembro, agora vai alinhar”, disse.

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Ele prevê uma nova alta de 75 ponto base na reunião de novembro e uma desaceleração em dezembro, para alta de 0,50%, “caso seja possível, com a inflação menor”.

Para Celso Pereira, Diretor de Investimentos da Nomad, o Fed fez o esperado porque a economia ainda está às voltas com uma inflação alta (em agosto, o índice de preços ao consumidor, CPI, subiu 0,1% no período, somando alta de 8,3% em 12 meses).

Para as próximas reuniões, Pereira prevê que Fed deve adotar novas altas, “atingindo um pico entre 4% e 5%”. “De forma geral, a nossa expectativa é de que o cenário de juros mais elevados nos EUA deverá ser mantido pelo menos até o final do próximo ano, considerando as informações atuais e a incerteza sobre a gravidade de uma recessão nos EUA”, afirmou.

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Leia também: Banco Central interrompe ciclo de alta da Selic e mantém taxa em 13,75%

Fed: Termo “suave” sumiu no comunicado

O BTG Pactual avaliou que o comunicado do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) teve pouca alteração em relação à decisão de julho, “mas manteve a decisão ‘hawkish’ necessária após as surpresas com inflação (CPI)”.

Prova disso, dizem os analistas, é que o comitê alterou o trecho em que reconhece a moderação da atividade econômica (antes definida como suave), mas ainda enxerga uma criação de trabalho robusta e reforça estar atento aos riscos inflacionários.

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Para Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, a decisão e o comunicado trazem uma mensagem de que novas altas nos juros serão apropriadas para controlar a inflação.

“É possível esperar altas de magnitude mais alta para as próximas reuniões, taxa terminal também mais alta do que a expectativa e possivelmente uma manutenção das taxas mais altas por mais tempo. Esse cenário amplia a possibilidade de uma recessão nos EUA”, afirmou.

Para Izac, tendo esse cenário de inflação mais pressionada e provável elevação mais forte dos juros e manutenção por mais tempo das taxas altas, empresas muito endividadas, como o setor de tecnologia por exemplo, e empresas que dependem de ciclo de consumo interno, como varejo, devem seguir mais pressionadas em um primeiro momento.

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Débora Nogueira, economista chefe da Tenax Capital, argumenta que o juro terminal mais elevado sinalizado pelo Fed hoje combina com um risco crescente de recessão no próximo ano. “O momento exato desse arrefecimento da economia é difícil de se precisar. Por enquanto, ainda temos uma situação muito favorável da poupança das famílias e há consumo de reabertura em curso”, afirmou Débora.

Para ela, em 2023, com o cumprimento das defasagens da política monetária e a desaceleração do consumo de bens depois das compras adiantadas na pandemia, será observada uma desaceleração importante da economia.

Sobre as projeções piores para o PIB incluídas no comunicado, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, acredita que isso deixa em aberto a possibilidade de que haja a necessidade de subir o juro para além de onde se precifica.

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William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, também fixou a atenção nessas projeções. “Apresentaram uma perspectiva bastante negativa, com inflação maior e mais permanente. Taxas de juros que devem se manter altas por um período prolongado e com projeção de menor crescimento para economia americana”, avaliou.

Para ele, os impactos disso são um dólar mais forte, um cenário desafiador para o mercado de ações em um cenário de desaceleração ou recessão nos EUA. “O Fed parece buscar recompor a credibilidade com o mercado através de uma postura mais ‘hawkish’ frente ao cenário inflacionário que teima em não ceder”, comentou Castro Alves.

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Maior aperto?

Para Carlos Vaz, CEO e fundador da Conti Capital, é possível até que na próxima decisão o Fed promova uma elevação, maior de 100 pontos base na taxa, embora ainda acredite, particularmente, que o aumento total de 75 bps seja o mais provável.

“Considerando isso, prevejo que a taxa de fundos federais terminará o ano em 3,875%. O que não é tão alto, se avaliarmos o contexto econômico histórico dos EUA. Como sempre, vale a ponderação de que essa previsão depende quase que inteiramente do que veremos nas leituras de inflação nos próximos meses e nos diversos fatores factuais que impactam nisso, sabidamente”, disse Vaz.

João Beck, economista e sócio da BRA, viu a decisão como dentro do esperado. Para ele o dilema no anúncio de hoje era sobre uma alta de 75 pontos ou algo maior, porque a inflação nos EUA não cedeu como esperado e porque o presidente do Fed, Jerome Powell havia aberto as portas para uma alta maior quando comentou que “não hesitaria fazer aumentos maiores” se o comitê concordasse.

“De uma forma ou outra, o mercado projeta uma taxa terminal por volta de 4,5% em março 2023. Isso pode ser antecipado se o Fed optar por altas mais agudas ou mantido pela velocidade de cruzeiro atual.”

Desemprego

Entre as projeções mais negativas para a atividade feitas pelos integrantes do Fed, Rafael Marques, economista e CEO da Philos Invest, destacou as referentes ao desemprego.

As projeções apontam que a taxa continuará em níveis baixos em 2022: passaram de 3,7% para 3,8%. Mas para 2023, a expectativa para a taxa subiu de 3,9% para 4,4%. Para 2024, a mediana das projeções para taxa de desemprego foi de 4,1% para 4,4%.

Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital, foi outro analista que preferiu focar mais a atenção no sumário das projeções que o Fed realiza periodicamente do que na decisão em si ou no comunicado. “A taxa mediana do ano passou de 3,4% para 4,4%, 100 pontos”, destacou. Ele disse que esperava uma alta, mas não deste tamanho.

Alison Correia, CEO da Top Gain, teve tempod e acompanhar parte da coletiva de Powell após a decisão e acredita que ele passou muita tranquilidade quando disse que as expectativas de inflação estão ancoradas.