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O integrantes do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do BC americano continuaram a mostrar confiança de que o processo de desinflação no país continua, mas optaram nesta quinta-feira (7) por uma comunicação que atenuou o discurso francamente otimista adotado em setembro, dizem os economistas.
Para o economista sênior do Inter, André Valério, chama a atenção a mudança no tom do comunicado, “com o comitê removendo a linguagem de que possui confiança de que a inflação está convergindo para a meta, adicionando um tom mais suave, afirmando que a inflação fez progresso em direção à meta, o que sugere uma maior cautela”.
O Inter ainda vê um cenário consistente com as projeções do próprio comitê, que antecipa mais um corte na última reunião do ano, em dezembro.
“Entretanto, dada a robustez da economia americana e a incerteza dos impactos econômicos das políticas de [Donald] Trump, a taxa terminal de ciclo é incerta. E pode ser maior que o mercado projetava até algumas semanas atrás, como se infere dos movimentos dos juros americanos no último mês”, alerta Valério.
O economista também destaca que Jerome Powell adotou esse tom mais cauteloso na coletiva de imprensa. “O atual cenário ainda é consistente com as projeções do próprio comitê, que antecipa mais um corte de 25 bps na reunião em dezembro, e uma desaceleração do ritmo dos cortes em 2025, o que significaria alguma pausa entre as reuniões, levando a taxa para 3,5% no próximo ano.”
Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, também ressalta o tom mais cauteloso, retirando do texto a “maior confiança” em relação ao progresso da inflação em direção à meta.
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A economista avalia que o resultado das eleições americanas pode influenciar os passos futuros do Fed. “Ao longo da campanha, o presidente eleito, Donald Trump, propôs aumentar as tarifas de importação. Essa medida, se implementada, pode impactar a inflação, diminuindo o espaço para corte de juros”, cita.
Mesmo que essas políticas sejam implementadas, a Claudia aposta mais na desaceleração do ritmo de cortes, já que o Fed deve continuar no caminho da flexibilização gradual de juros.
“Guidance” seguido
Pedro Moreira, sócio da One Investimentos, por sua vez, diz que o corte 0,25% na taxa de juros americana praticamente seguindo a orientação (“guidance”) que os diretores do Fed tinham colocado em seu último gráfico de pontos (“dot plot”), em setembro. “A única preocupação que eles colocam é que o núcleo de inflação ainda permanece elevado”.
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Sobre o mercado de trabalho, Moreira destaca que Jerome Powell comentou que a parte de empregos arrefeceu de uma condição que eles chamavam de “superaquecida”. “A última divulgação do payroll veio muito abaixo das expectativas, mas o Powell coloca que o payroll de outubro seria maior se não fosse pelos furacões e pelas greves”, comenta.
“Esse corte de 0,25 foi realizado para manter uma economia sólida, uma expansão sólida no ritmo de crescimento e também uma parte de empregos ainda forte (…) tentando controlar e afastar qualquer especulação de um risco de recessão nos Estados Unidos.”
Já Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, afirma que o comunicado do Fed manteve a terminologia usual das últimas reuniões, ao reconhecer que a economia permanece robusta embora o mercado de trabalho esteja mais equilibrado, enquanto a inflação está se aproximando da meta, mas ainda em patamar um pouco elevado.
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“Desta vez, no entanto, afirmaram que os membros consideram que o balanço de riscos para atingir seu duplo mandato estejam razoavelmente balanceados. Destacaram também que o cenário econômico está incerto. Finalmente, não ofereceram pistas sobre o que pode vir pela frente ao repetir que o Fomc estará preparado para os eventuais ajustes que se façam necessários e que as decisões vão levar em consideração um amplo conjunto de dados.”
Sobre a entrevista do presidente Powell, o economista cita a menção de que as eleições não tiveram nenhum impacto na decisão de política monetária e que não tem como antecipar eventuais efeitos de políticas que ainda nem foram anunciadas. “Mas não deixou de reconhecer que mudanças em políticas econômicas tem sim o poder de alterar a dinâmica das variáveis que importam para o duplo mandato do Fomc de combater a inflação e promover o emprego.”
Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, também chamou a atenção para as sutis mudanças no comunicado. “O comitê manteve a visão de que o crescimento está sólido, mas afirmou que o mercado de trabalho aliviou. Um ponto importante, o Fomc alterou os trechos sobre inflação: retirando o trecho ‘O comitê ganhou maior confiança de que a inflação está convergindo de forma sustentável para a meta’.”
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Segundo ele, essa mudança era esperada, pois o Fed projeta 4 cortes de 0,25% em 2025, sugerindo uma postura mais gradualista nos cortes de juros.
“No entanto, essas exclusões dão um tom mais cauteloso do que o esperado. Por enquanto, acredito que essas alterações são consistentes com cortes de juros não-consecutivos em 2025, mas elas também seriam consistentes com uma pausa no ciclo de cortes”, diz Borsoi.
Foco no mercado de trabalho
Para Andressa Durão, economista do ASA, ficou claro na coletiva do presidente do Fed que o principal driver para a política monetária hoje é o mercado de trabalho. “Powell destacou que o emprego esfriou significativamente e agora está equilibrado, e que o Fed acredita não ser necessário esfriamento adicional para atingir a meta de inflação”, comenta.
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Segundo a leitura da economista, ao afirmar que a política monetária continua restritiva, seu discurso sugere a continuidade do ciclo de queda dos juros até o nível neutro e possível calibragem, caso haja piora adicional.
“O Fed vai esperar para analisar quais movimentos do mercado desencadeados pela vitória de Trump terão impacto permanente nas condições financeiras. Ao mesmo tempo, Powell indicou que os efeitos de novas medidas a serem aplicadas pelo novo governo serão avaliados após a implementação e incorporados aos modelos, um processo que leva tempo.”
A projeção do ASA também é que o Fed siga cortando os juros em ritmo de 0,25 ponto percentual.
Na opinião de Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, a expectativa para o restante do ano é de mais um corte de 0,25 p.p., na reunião de dezembro. “Já para 2025-2026, a tendência é que o ciclo de ajuste continue, com a taxa de juros finalizando entre 3,5% a.a. e 4,0% a.a., dependendo da evolução do cenário econômico e de possíveis choques econômicos ou geopolíticos.”
Em relação as políticas econômicas do novo presidente eleito, Donald Trump, Sung lembra que ainda há dúvidas se ele colocará em prática as medidas prometidas em campanha, como o aumento das alíquotas de importação em 20% para todos os bens e, em especial, 60% para produtos chines.
“No curto prazo, o aumento dos preços dos bens importados elevará a demanda por bens produzidos nos EUA, pressionando os preços. No médio prazo, essas medidas podem aumentar os custos de importação, que serão repassados aos consumidores, gerando pressão inflacionária. Consequentemente, esse cenário limitaria a queda das taxas de juros no médio e longo prazo”, afirma.
Além disso, ele destaca que barreiras comerciais impostas pelos EUA podem levar outros países a retaliarem, ampliando as tensões no comércio internacional, resultando em problemas nas cadeias produtivas e custos maiores.
“Entretanto, importante ressaltar que a adoção e execução desse plano econômica é incerto. Haverá negociações e muita discussão até Trump assumir em 2025. Logo, o Fed deve manter a postura técnica e esperar a evolução da economia norte-americana para tomada de decisão, sem se precipitar, a fim de manter a sua credibilidade.”