Queda da inflação é ‘insuficiente’ e Copom deve ter cautela sobre juros, avalia XP

Relatório da XP aponta manutenção da Selic em 15% nesta quarta-feira (10), apesar da redução da inflação, que está sendo “mais gradual” e “menos intensa”

Élida Oliveira

(Foto: Jakub Żerdzicki /  Unsplash)
(Foto: Jakub Żerdzicki / Unsplash)

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Embora a inflação do Brasil esteja em queda, o quadro geral ainda demanda cautela do Comitê de Política Monetária (Copom), que divulgará a decisão sobre os juros do país nesta quarta-feira (10). Para a XP, a inflação está em queda, mas o risco persiste. Por isso, o Copom deverá manter a Selic em 15% e iniciar o ciclo de cortes só em março, chegando a 12% ao fim de 2026.

Em relatório, os economistas da XP Caio Megale, Rodolfo Margato e Alexandre Maluf afirmam que, embora o cenário inflacionário tenha apresentado evolução, o ritmo dessa melhora é “mais gradual e menos intenso do que o esperado”.

Inflação cede, mas riscos persistem

De acordo com a análise macroeconômica da XP, os dados divulgados desde a última reunião do Copom foram “marginalmente favoráveis”. 

O relatório destaca a inflação corrente em trajetória de queda, com os núcleos — que excluem os itens mais voláteis — rodando próximos à meta pela primeira vez em muitos meses. Além disso, cita também a inflação ao produtor (medida pelo IPA-FGV), que retornou ao território negativo, impulsionada pela queda nos preços dos alimentos.

A taxa de câmbio para o dólar também recuou, de R$ 5,40 para R$ 5,35, considerando a cotação média dos últimos dez dias. 

Além disso, os indicadores de atividade que captam a produção industrial, as vendas no varejo, e as receitas de serviços apresentam uma desaceleração gradual, especialmente nas áreas mais sensíveis ao crédito. Tanto que o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre veio praticamente estável em relação ao trimestre anterior, considerando o ajuste sazonal.

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Outro dado é a cotação das commodities que recuaram desde a última reunião do Copom, especialmente alimentos e petróleo – o que é um sinal benigno para o IPCA, desde que a taxa de câmbio se estabilize.

Parece tudo muito bom, certo? Mas este cenário, aparentemente benigno, esconde riscos que impedem um corte de juros imediato, segundo a XP. E, entre estes riscos, está a política fiscal expansionista, com maiores gastos do governo.

Política fiscal expansionista e a inflação

Para os economistas da XP, é importante considerar que a política fiscal expansionista dos governos federal e estaduais, em um ano eleitoral, pode pressionar a inflação. Assim, essa eventual reaceleração do crescimento doméstico poderia limitar o ciclo de cortes esperado para 2026.

A expectativa da XP é que o Copom mantenha a taxa de juros no patamar atual por mais algum tempo, abandonando aos poucos a indicação de mantê-la assim por período “bastante prolongado”.

Comunicado

Para a XP, o Copom deverá sinalizar amanhã que este ainda não é o momento para flexibilizar os juros.

 “Em suas comunicações oficiais (atas, discursos públicos), os membros do Copom têm argumentado que o cenário inflacionário melhorou, porém de forma mais gradual e menos intensa do que o esperado. A nosso ver, o comunicado pós-decisão desta semana transmitirá uma mensagem semelhante”, dizem os economistas. Para eles, o Copom deve sinalizar que ficará “dependente de dados”, mas não tanto a ponto de iniciar o corte logo em janeiro.

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“Como as expectativas inflacionárias seguem distantes da meta e o mercado de trabalho continua aquecido, acreditamos que o Copom concluirá que ainda é cedo para migrar para um modo totalmente dependente de dados, o que deixaria a reunião de janeiro muito aberta”, concluem.

Ciclo de cortes em março

Diante deste cenário, a XP projeta que o início do ciclo de cortes virá em março, apesar do risco de o Copom antecipar a decisão para janeiro. 

No cenário-base da XP, os cortes começariam em 0,50 pontos percentuais, acumulando seis cortes consecutivos até atingir 12% ao fim do ciclo.

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Reuniões do Copom e projeção da Selic, segundo a XP
Datas das reuniõesDecisãoProjeção da Selic
27 e 28 de janeiromanutenção15%
17 e 18 de marçocorte de 0,50 p.p.14,50%
28 e 29 de abrilcorte de 0,50 p.p.14%
16 e 17 de junhocorte de 0,50 p.p.13,50%
4 e 5 de agostocorte de 0,50 p.p.13%
15 e 16 de setembrocorte de 0,50 p.p.12,50%
3 e 4 de novembrocorte de 0,50 p.p.12%
8 e 9 de dezembromanutenção12%
Fonte: XP

Apesar do início do ciclo de cortes, ter uma taxa básica de juro em 12% ainda é considerado bastante restritivo, porque encarece o crédito e torna os investimentos mais difíceis.

Segundo a XP, para que os juros básicos se aproximem do nível neutro – estimado em torno de 5,5% em termos reais – serão necessárias “reformas que reduzam o ritmo de crescimento das despesas públicas”, dizem os economistas.