Economistas mantêm projeções para a Selic após ata do Copom e citam incertezas

Entendimento é que há riscos tanto de fortalecimento da atividade, via consumo, como na inflação de serviços, e que essas dúvidas precisam ser dissipadas antes de qualquer revisão

Roberto de Lira

(Getty Images)

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O reforço da mensagem conservadora pelo Banco Central na ata da reunião do Copom da semana passada, citando a necessidade de cautela diante de sinais de uma atividade econômica menos fraca e de um mercado de trabalho ainda aquecido, levou o economistas a segurar, por ora, suas projeções para a taxa Selic final em 2024. O entendimento é que haveria espaço para cortes adicionais apenas se essas incertezas se dissiparem.

O Bradesco viu um tom um pouco mais cauteloso na ata do Copom em relação ao comunicado divulgado logo após a decisão de corte de 0,50 ponto percentual na Selic, para 11,25% anuais.

O banco comenta que não houve mudança substancial no cenário, mas que a ata trouxe alguns elementos que qualificam o cenário e recomendam cautela na condução de política monetária. Foi citada a expectativa pelo BC de que o ritmo de desaceleração da atividade deva ser menor do que o observado atualmente.

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“Como já havia aparecido nas últimas comunicações, o Copom segue monitorando de perto o comportamento de salários, que teve ganhos reais no final de 2023”, comenta o Bradesco

Assim , o banco afirma que a prescrição de política monetária do Copom não mudou e que o BC entende que deve manter uma postura cautelosa e serena, mantendo a política monetária restritiva até que a inflação e as expectativas convirjam para a meta.

O Bradesco manteve a expectativa é de redução da Selic até 9,25%, mas admitiu que uma convergência mais intensa das expectativas, combinada com uma valorização do real, pode abrir espaço para cortes adicionais em relação ao nosso cenário.

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A leitura de Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter é parecida, avaliando que o Copom citou o comportamento benigno da inflação recente, mas seguiu atento aos riscos, tanto externos como domésticos.

“Os pontos de atenção continuam sendo o mercado de trabalho mais forte, com a forte geração de empregos e reajustes acima da inflação, e agora com a pressão de nova correção real do salário-mínimo nesse começo do ano”, lista a economista, acrescentando que houve comentário sobre a melhora no mercado de capitais e de crédito, o que pode também ter impacto positivo no consumo

Segundo Rafaela, considerando a avaliação do cenário do Copom, está mantida de cortes de 50 bps nas próximas reuniões, “um ritmo moderado que acomoda a volatilidade que podemos esperar dos dados de inflação e atividade no primeiro trimestre.”

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Ela prevê que a incerteza maior deve continuar em torno da taxa terminal. O Banco Inter estima que a taxa chegara a 8,5% neste ano, mas também argumenta que ela poderia ser menor, caso o risco fiscal seja controlado e as expectativas mais longas não se alterem.

Plano de voo mantido

Para a XP, a ata reitera o plano de voo de cortes de 50 pontos-base na taxa Selic nas próximas reuniões. A projeção é que a taxa básica de juros atingirá 9,0% até o 3º trimestre de 2024.

A XP também cita os comentários do BC sobre o cenário global, que “continua volátil, marcado por renovadas tensões geopolíticas e pelo debate sobre o início da flexibilização da política monetária nas principais economias”.

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“Uma dinâmica benigna das commodities ou uma inflação mais baixa nos serviços poderiam contribuir potencialmente para um processo desinflacionário mais rápido.”

Já o Itaú comenta em relatório que o documento do BC acrescentou algumas observações de viés mais duro, particularmente no que diz respeito à atividade econômica. No que diz respeito à inflação, foi destacada a menção à pressão de ganhos salariais acima da inflação.

Segundo o Itaú, a avaliação do BC não altera a avaliação geral de como o ciclo de flexibilização irá caminhar. “Mantemos nossa expectativa de manutenção do ritmo de 50 pontos base nas próximas reuniões, e de taxa Selic em 9,00% a.a. ao final do ciclo.”