Discurso de Biden foca na economia dos EUA e na defesa da manufatura local

Presidente dos EUA apelou para a relação bipartidária, prometeu responsabilidade fiscal e disse querer competição e não conflito com a China

Roberto de Lira

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante discurso (Foto: Saul Loeb - Pool/Getty Images)

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez na noite desta terça-feira (7), em seu discurso do Estado da União, uma defesa das conquistas econômicas de seu mandato e um apelo à volta das legislações bipartidárias, cujas negociações têm sido dificultadas nos últimos anos pela extrema polarização da política local.

Na tradicional mensagem anual feita pelos presidentes americanos em sessão conjunta do Congresso, Biden começou listando o que considera os principais avanços de sua gestão: a criação de empregos. Eles destacou que a atual taxa de desocupação está em 3,4%, a mais baixa em 50 anos, com recordes para trabalhadores negros e hispânicos. “Já criamos 800.000 empregos bem remunerados na indústria, o crescimento mais rápido em 40 anos”, afirmou.

Nesse trecho, ele aproveitou para defender sua política de incentivar a manufatura local, numa tentativa de inverter o processo macroeconômico das últimas décadas, quando os EUA passaram a importar produtos e exportar empregos. “Agora, graças a tudo o que fizemos, estamos exportando produtos americanos e criando empregos americanos”, disse.

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O principal exemplo citado foi o da indústria de semicondutores, uma “invenção americana” essencial para toda a cadeia produtiva e onde os EUA vinha perdendo competitividade, uma vez que o país costumava fornecer 40% dos chips do mundo, fatia que caiu para 10% ao longo do tempo. Nesse ponto, ele elogiou o projeto bipartidário que aprovou os incentivos para a recuperação dessa indústria local. “Estamos garantindo que a cadeia de suprimentos para a América comece na América”, disse.

Com esta nova lei, lembrou Biden, serão criados centenas de milhares de novos empregos em todo o país. “Isso virá de empresas que anunciaram mais de US$ 300 bilhões em investimentos na indústria americana nos últimos dois anos”, destacou. Como exemplos, ele citou um complexo que a Intel está instalando nos arredores de Columbus, Ohio, um espaço de fábricas de semicondutores com mil acres de extensão, que ele chamou de “campo de sonhos”.

Ele também citou o empenho bipartidário para aprovar leis que beneficiam a infraestrutura, como rodovias, pontes, ferrovias, túneis, portos e aeroportos, água potável e internet de alta velocidade. Nesse pontos, ele anunciou que sua gestão vai exigir novos padrões para que todos os materiais de construção usados ​​em projetos federais de infraestrutura, como madeira, vidro, drywall e cabos de fibra ótica,  sejam produzidos nos Estados Unidos.

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Inflação

Sobre a inflação alta, um dos principais problemas de sua gestão, Biden elogiou a Lei de Redução da Inflação sancionada no ano passado, citando que ela já ajudou a reduzir os preços de medicamentos importantes, como a insulina para diabéticos.

Biden também prometeu mais justiça tributária, destacando que, em 2020, 55 das maiores empresas da América lucraram US$ 40 bilhões e pagaram zero de imposto de renda federal. “Isso simplesmente não é justo. Mas agora, por causa da lei que assinei, empresas bilionárias têm que pagar no mínimo 15%”, afirmou.

Nesse ponto, ele confirmou uma notícia já esperada que está propondo quadruplicar o imposto sobre a recompra de ações corporativas, para encorajar os investimentos de longo prazo.

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Biden também se comprometeu com a responsabilidade fiscal, lembrando que sua gestão já  cortou o déficit público em mais de US$ 1,7 trilhão (a maior redução de déficit na história americana), aproveitando para alfinetar o ex-presidente Donald Trump, administração que, segundo ele, elevou o déficit americano por quatro anos consecutivos. “Quase 25% de toda a dívida nacional, uma dívida que levou 200 anos para ser acumulada, foi adicionada apenas por esse governo”, disparou.

China

Sobre as questões externas, Biden defendeu o posicionamento dos Estados Unidos e da OTAN, de apoiar a Ucrânia contra a invasão praticada pela Rússia e disse em relação à China que sua administração busca a competição, não o conflito. “Não vou me desculpar por estarmos investindo para fortalecer a América. Investir na inovação americana, em indústrias que definirão o futuro e que o governo da China pretende dominar”, alertou.

Ele reafirmou que os EUA vão continuar a investir em e a trabalhar com seus aliados para proteger tecnologias avançadas para que não sejam usadas contra os americanos. “Modernizar nossas forças armadas para salvaguardar a estabilidade e deter a agressão. Hoje, estamos na posição mais forte em décadas para competir com a China ou qualquer outro país do mundo”, destacou.

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“Estou empenhado em trabalhar com a China onde ela pode promover os interesses americanos e beneficiar o mundo. Mas não se enganem: como deixamos claro na semana passada, se a China ameaçar nossa soberania, agiremos para proteger nosso país. E nós fizemos”, disse, numa referência ao episódio do suposto balão espião chinês que sobrevoou os EUA na semana passada e que foi abatido.

Sobre o clima belicoso da política local, Biden citou as lições aprendida após a invasão do Capitólio por partidários de Donald Trump há dois anos. “Não há lugar para violência política na América. Devemos proteger o direito de voto, não suprimir esse direito fundamental. Honramos os resultados de nossas eleições, não subvertemos a vontade do povo. Devemos defender o estado de direito e restaurar a confiança em nossas instituições de democracia.”