Credit eleva projeção do PIB do Brasil para alta de 3,6% em 2021; UBS vê normalização a partir de outubro com vacinas

Economistas mostram maior otimismo com dinâmica da economia a partir de vacinação e menores efeitos da 2ª onda, mas riscos seguem no radar

Lara Rizério

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Credit Suisse elevou a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 3,2% para R$ 3,6% em 2021, destacando que a recuperação do lado da oferta, assim como uma demanda externa muito robusta, devem ser os principais catalisadores de crescimento para o ano. A expectativa para 2022 também foi revista de 2,4% para 2,5% em função do carry over (herança estatística do ano anterior).

Cabe destacar que os economistas do mercado financeiro alteraram para cima suas projeções para o  em 2021, de acordo com Relatório de Mercado Focus divulgado nesta segunda-feira (10). A expectativa para a economia este ano passou de alta de 3,14% para elevação de 3,21%. Há quatro semanas, a estimativa era de 3,08%. Para 2022, o mercado financeiro alterou a previsão do PIB de alta de 2,31% para 2,33%; quatro semanas atrás, também estava em 2,33%.

Solange Srour e Lucas Vilela, economistas do Credit, destacam alguns pontos para a revisão dos números para cima para a economia.

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Em primeiro lugar, o balanço de riscos para a inflação permanece negativo, com a segunda onda de infecções na pandemia Covid-19 tendo um impacto menor na inflação e na atividade econômica do que o esperado.

A inflação foi menos afetada pelo segundo surto de infecções pois os serviços foram menos afetados, enquanto os preços globais das commodities aceleraram com a retomada da demanda global.

As commodities tiveram alta de 26% em real no acumulado do ano e os preços ao produtor do IGP aumentaram 10,2% nos primeiros quatro meses do ano. Por outro lado, a inflação de serviços manteve-se no período. “Esperamos agora que a inflação do IPCA atinja 7,9% na base de comparação anual em maio e depois caia para 5,4% ao final do ano de 2021, acima do limite superior da meta do Banco Central de 5,25%, e para 4,2% em 2022”, destacam Solange e Vilela.

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Os riscos são de alta à medida que os preços das commodities continuem subindo, enquanto a alta incerteza fiscal pode limitar uma valorização mais robusta do real.

Já a conta corrente deve registrar superávit de 0,1% do PIB em 2021, o primeiro saldo positivo desde 2007 com melhores termos de troca, safras maiores, real desvalorizado e restrições de viagens.

Ainda em destaque, os indicadores econômicos iniciais para março e abril apontam que a segunda onda de infecções teve um impacto muito moderado na economia em comparação com a primeira onda. Eles destacam que o PMI, os índices de confiança, a balança comercial e o licenciamento de veículos em abril apresentaram crescimento positivo em termos dessazonalizados, a despeito das restrições de mobilidade generalizadas no país.

“Esperamos que a economia ganhe ritmo com o recuo da pandemia e com a redução das medidas de distanciamento social em maio”, avaliam. De acordo com os economistas, o principal risco negativo para o cenário é ainda outro surto de infecções.

Os maiores fluxos de dólares podem beneficiar a moeda, mas uma valorização mais acentuada depende da menor incerteza quanto ao cenário fiscal.

Por sinal, o fiscal segue sendo uma preocupação. A expectativa é de que déficit primário atinja 4,4% do PIB em 2021 e a dívida bruta não deva se estabilizar até 2026.

O governo deve aumentar as despesas para R$ 125 bilhões além do limite de gastos. Essas despesas mais altas têm como objetivo amenizar os efeitos da segunda onda, incluindo R$ 44 bilhões em gastos com ajuda emergencial e R$ 20 bilhões em programas para pequenas e médias empresas e a manutenção de empregos formais. “Despesas maiores além do nosso cenário ainda são prováveis ​​e continuarão a depender da dinâmica da pandemia e a retomada da atividade econômica”, avaliam os economistas.

Com relação à dívida bruta, a expectativa é de que ela chegue a 96% do PIB em 2026 e então comece a
recuar. Na avaliação do Credit, o governo permanecerá comprometido com a regra do teto de gastos, sendo que uma mudança no teto de gastos ou taxas de juros mais altas provavelmente adiariam a estabilização da dívida e desencadeariam uma crise de confiança. O declínio da credibilidade fiscal do governo associada ao alto nível de dívida e do financiamento poderia acelerar a deterioração do perfil da dívida e aumentar o risco de liquidez.

Sobre política monetária, Solange e Vilela mantêm a expectativa de que a taxa Selic será elevada em 75 pontos-base em cada uma das próximas quatro reuniões de política monetária, atingindo 6,5% em outubro.

Em relação ao noticiário político, os economistas avaliam que o Senado deverá se concentrar na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, enquanto a Câmara poderá avançar na discussão de uma versão diluída da reforma tributária, com a unificação apenas dos tributos federais. A discussão sobre outros tributos, como estaduais, locais e corporativos, provavelmente não ocorrerá este ano.

Retomada em outubro?

Também com uma visão mais otimista, o banco suíço UBS destacou que a atividade econômica brasileira pode se normalizar no mais tardar em outubro, a depender do ritmo de vacinação.

De acordo com os economistas Alexandre de Azara e Fabio Ramos, a economia do Brasil pode começar a se normalizar antes que a clássica “imunidade de rebanho” seja alcançada – e, portanto, antes do esperado.

“Achamos que a distribuição de idade da população permitirá ‘imunidade de rebanho efetiva’ e um retorno ao normal ocorrerá quando os brasileiros 30 anos ou mais forem vacinados”, apontam.

Eles ressaltam que novo conjunto de dados do Ministério da Saúde, com mais de 40 milhões de registros disponíveis, permite uma análise profunda da Covid-19 no Brasil sobre internações diárias e óbitos.

“Usando dados de vacinação do mesmo banco de dados – e suposições que são mais conservadoras do que as do governo – esperamos uma queda significativa nas hospitalizações, idas para a UTI e mortes no Brasil a partir do final de maio ou início de junho, e a atividade deve se normalizar no mais tardar em outubro”, avaliam.

De acordo com os economistas, a chamada imunidade de rebanho clássica, de pouco mais de 70% da população, pode ser atingida até o fim do ano levando em conta a hipótese conservadora de que pessoas com 20 anos ou mais sejam vacinadas.

Contudo, a retomada pode acontecer com a imunização de brasileiros acima de 30 anos, de forma a aliviar o sistema de saúde e liberar o funcionamento de atividades que dependem de maior aglomeração. O grupo corresponde a  56% da população, o que pode ser considerado a “imunidade de rebanho efetiva” no país na avaliação do banco. Com a avaliação que o grupo deve receber as duas doses da vacina até setembro, a expectativa é de retomada ao “velho normal” até outubro.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.