Choques em países emergentes têm afetado cada vez as nações ricas, diz FMI

Emergentes do G20 representam hoje cerca de 30% da atividade econômica global e perto de um quarto do comércio e choques interferem nas cadeias de valor

Roberto de Lira

Logo do Fundo Monetário Internacional em Washington (Reuters/Yuri Gripas)

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O avanço da participação dos países emergentes na economia global nas últimas décadas tem aumentado os efeitos de eventuais choques nesses países para o crescimento no restante do mundo, até mesmo nas nações mais ricas.

A conclusão está em relatório divulgado nesta terça-feira pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), um dos documentos de preparação para a reunião de primavera do Fundo e do Banco Mundial marcada para a semana que vem, em Washington.

O estudo considera os 10 principais mercados emergentes do G20, numa relação que vai da gigante China, passando por Índia, Brasil, México, Turquia, África do Sul, Rússia, Arábia Saudita, Indonésia e Argentina.

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Segundo o relatório, depois de mais de duas décadas de crescimento impressionante – com uma média de quase 6% ao ano – os mercados emergentes do G20 representam agora cerca de 30% da atividade econômica global e perto de um quarto do comércio.

Ao mesmo tempo que estas economias se tornaram cada vez mais sistêmicas por meio da sua integração nas cadeias de valor globais, com potencial para movimentar os mercados globais, as repercussões dos choques também crescem. Para o FMI, esses impactos são agora comparáveis em dimensão às dos choques nas economias avançadas.

O cálculo é que choques nos mercados emergentes dentro do G20 podem explicar até 10% da variação da produção após três anos em outros mercados emergentes e 5% nas economias avançadas.

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Para o bem e para o mal

A força dos emergentes, lembra o estudo, não só ajudou a proporcionar um impulso global para o crescimento e o comércio, como também tem sido uma aliada para uma menor volatilidade do produto – graças à diversificação entre países – e para a convergência nos rendimentos e nos padrões de vida.

Mas o enfraquecimento das perspectivas de crescimento para dessas nações motivou mais de metade do abrandamento de 1,9 ponto percentual no crescimento global a médio prazo desde a crise financeira global, com a China representando 40% desse impacto.

E as perspectivas de crescimento a médio prazo para os mercados emergentes do G20 enfraqueceram 0,8 ponto percentual, para 3,7%, em resultado das cicatrizes da pandemia e dos choques de preços que se seguiram à invasão russa da Ucrânia.

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Um dos canais de propagação que tem se fortalecido é o do comércio, nomeadamente através das cadeias de valor. 

“As empresas mais dependentes da demanda dos mercados emergentes do G20 registam um maior crescimento das receitas após um aumento inesperado no crescimento dos mercados emergentes, enquanto as repercussões de baixa podem reduzir as receitas das empresas em países mais expostos à concorrência das importações”, comenta o estudo.

Impactos nas economias regionais

O estudo também fala dos impactos regionais. A China, por exemplo, tem forte influência na Ásia, dada a elevada integração comercial intrarregional, e, em menor grau, na América Latina. Já Rússia e Turquia geram repercussões regionais significativas na Europa e na Ásia Central.

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Enquanto isso, os choques internos do lado da oferta no Brasil e no México têm um impacto acentuado na América Latina também por conta das fortes ligações comerciais e de mercadorias.

Olhando para o futuro, as simulações sugerem que uma aceleração plausível do crescimento nos mercados emergentes do G20, mesmo excluindo a China, poderá apoiar o crescimento global no médio prazo e repercutir-se noutros países.

Assim o FMI defende que a tarefa dos decisores políticos nas economias receptoras – avançadas ou não – é manter reservas suficientes para gerir a possibilidade de choques maiores por parte dos mercados emergentes do G20.