China reage com rigor a comunicado do G7 contra suas políticas externa e comercial

Governo chinês convocou embaixador do Japão para fazer queixa formal sobre comunicado da reunião de cúpula em Hiroshima

Roberto de Lira

(Shutterstock)

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A China decidiu reagir com rigor ao comunicado divulgado pelo G7 neste domingo (21), após sua reunião de cúpula realizada em Hiroshima, na Japão, no qual foram feitas várias referências contra as políticas comerciais, tecnológicas e de relações externas do gigante asiático. Pequim convocou o embaixador do Japão na China, Hideo Tarumi, ainda no domingo para apresentar um protesto formal sobre o documento.

Segundo órgãos de imprensa dos dois países, o vice-ministro das Relações Exteriores chinês, Sun Weidong, expressou a “forte insatisfação e oposição resoluta” de seu governo sobre as declarações emitidas no comunicado. Segundo a agência japonesa Kyodo News, Tarumi, por sua vez, respondeu a é “natural” que tais referências tenham sido feitas e incentivou a China a mudar de rumo, segundo informações da Embaixada.

Entre os temas que mais irritaram o governo chinês estão a menção à questão de Taiwan, nação insular autogovernada que a China considera parte do seu território. Sun disse do embaixador japonês que as questões relacionadas à ilha estão no centro dos principais interesses chineses e que essa é uma linha vermelha que não deve ser cruzada por outros países.

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O diplomata chinês afirmou que o G7 ( formado por Grã-Bretanha, Canadá, Alemanha, França, Itália, Japão e Estados Unidos, além da União Europeia) “interferiu grosseiramente nos assuntos internos da China” e que violou os princípios básicos do direito internacional, prejudicando a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento de seu país.

O comunicado do G7 afirmou que os países do Grupo continuam “seriamente preocupados” com a situação nos mares do Leste e do Sul da China. “Nós nos opomos fortemente a qualquer tentativa unilateral de mudar o status quo pela força ou coerção”, disse o texto.

“Reafirmamos a importância da paz e da estabilidade no Estreito de Taiwan como indispensáveis para a segurança e a prosperidade da comunidade internacional. Não há mudança nas posições básicas dos membros do G7 sobre Taiwan, incluindo políticas declaradas para a China. Apelamos para uma resolução pacífica das questões através do Estreito”, afirmou o documento do Grupo.

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Sobre menções à situação dos direitos humanos na China, o vice-ministro das Relações Exteriores afirmou ainda que os assuntos relacionados a Hong Kong, Xinjiang e Tibete são “puramente internos” do país e que “nenhuma força externa terá permissão para fazer comentários irresponsáveis ​​e interferir arbitrariamente”.

Mas a embaixada japonesa respondeu que, a menos que a China mude seu comportamento, os países do G7 continuarão a expressar suas preocupações comuns sobre Pequim. “Se a China não quiser que essas questões sejam mencionadas, ela deve primeiro responder de forma mais positiva”, disse Tarumi.

Nesta segunda-feira, a China também defendeu sua política nuclear, ignorando a preocupação expressa pelos líderes do G7 em Hiroshima sobre o “acúmulo acelerado” do arsenal nuclear chinês, sem transparência ou diálogo significativo.

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Segundo Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, a China rejeita a “apontamento do dedo” do G7, dizendo narrativa é falsa. “Qualquer país estará livre da ameaça das armas nucleares da China, desde que não use ou ameace usar armas nucleares contra a China”, disse Mao. “É a transparência mais realista”, acrescentou.

Boicote à Micron

O governo chinês também adotou medidas do ponto de vista comercial. A Administração do Ciberespaço da China (CAC, na sigla em inglês) informou ter feito uma revisão de segurança de rede dos produtos da Micron vendidos no país e que constatou que os produtos da fabricante norte-americana têm problemas.

Por conta do “grande risco de segurança para a cadeia de fornecimento de infraestrutura de informações” do país, o órgão do governo chinês decidiu não aprovar os produtos da Micron e recomentou que os operadores de infraestrutura de informação locais devem parar de comprar esses itens.

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“O objetivo desta revisão de segurança de rede dos produtos da Micron é evitar que problemas de segurança de rede de produtos coloquem em risco a segurança da infraestrutura de informações chave do país, que é uma medida necessária para manter a segurança nacional. A China promove firmemente a abertura de alto nível para o mundo exterior. Desde que cumpram as leis e regulamentos chineses, empresas de todos os países e várias plataformas são bem-vindas para entrar no mercado chinês”, comentou a CAC.

No documento da G7, o grupo de países prometeu “enfrentar os desafios colocados pelas políticas e práticas não comerciais da China, que distorcem a economia global”.

“Iremos combater práticas malignas, como transferência ilegítima de tecnologia ou divulgação de dados. Promoveremos a resiliência à coerção econômica. Também reconhecemos a necessidade de proteger certas tecnologias avançadas que podem ser usadas para ameaçar nossa segurança nacional sem limitar indevidamente o comércio e o investimento”, disse o comunicado.