Campos Neto vê bancos com “pedaço menor” da torta de serviços e aponta razões para estrangeiros terem saído da Bolsa

Em evento no Credit Suisse em SP, presidente do Banco Central destacou aumento da competição no setor financeiro e falou sobre o dólar em alta

Anderson Figo

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SÃO PAULO – O choque inflacionário por conta da alta dos preços da carne veio mais rápido e de forma mais intensa do que a esperada, mas também se dissipará mais rapidamente, apontou Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, durante evento do Credit Suisse realizado em São Paulo.

“O choque teve efeito grande na China, mas efeito imediato foi forte e a grande parte já voltou”, avaliou, destacando que o impacto maior foi em 2019 e será menor em 2020.

Campos Neto ainda apontou que está acompanhando de perto o crescimento mundial e o ambiente geopolítico (no cenário externo) e a inflação e o crescimento econômico (no cenário doméstico) para a definição de política monetária. Vale destacar que, atualmente, a taxa básica de juros (Selic) está em 4,5% ao ano, na mínima histórica. Na próxima semana, haverá reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que poderá marcar uma nova redução dos juros. “Eu ainda vejo uma volatilidade muito grande das projeções de crescimento”, apontou.

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No exterior, ele citou a relevância da disputa presidencial nos EUA, mas que uma piora do mercado devido à eleição está afastada no curto prazo; para ele, o rebalanceamento da economia da China é outro ponto relevante para emergentes.

Sobre o Brasil, presidente do BC destacou a importância não só das reformas econômicas, como das microrreformas, citando as mudanças nos canais de crédito.  Neste ambiente, a construção civil é avaliada por ele como, até agora, o grande motor da recuperação nesse começo de ciclo. “A renda voltou a subir, isso foi uma boa notícia também, o emprego também está se recuperando. Enquanto isso, não vemos o superendividamento como um problema no momento”, afirmou.

Campos Neto também avaliou os avanços para o aumento da competição bancária. “O mundo bancário tem alguns pilares: são barreiras de entradas, como sistema de agência pulverizado, dados fechados, entre outros. Um banco tem muita informação sobre todos os clientes. As plataformas de crédito preferem entrar no mercado onde as informações assimétricas pesam menos”.

Neste cenário, o presidente do BC vê o processo de open banking como importante, uma vez que dará aos clientes de bancos poder sobre seus dados financeiros, aumentando a competição, levando à redução de taxas de juros e tarifas do sistema. “Vejo maior bancarização, menor custo de intermediação financeira e maior pulverização de serviços”, avalia.

No futuro, avaliou, os bancos “provavelmente” não disponibilizarão todos os serviços que ofertam agora, ao comentar sobre mudanças na dinâmica dos serviços financeiros. “Vejo uma coisa instantânea, interoperável e aberta” para a oferta de serviços financeiros, afirmou. “No final, teremos uma torta muito maior, (mas) talvez os bancos grandes (ficarão) com um pedaço menor”.

Incerteza adicional com medidas micro

Segundo ele, as medidas microeconômicas adotadas pela instituição representam uma “incerteza adicional” na condução da política monetária, pois é difícil estimar os efeitos dessas ações nos canais de transmissão do crédito, o “timing” e o “gap”.

Esse tema, aponta o presidente do BC, foi muito debatido nas duas últimas reuniões do Copom, tendo como decisão tomada incluir essa discussão na linguagem dos dirigentes. “Decidimos começar a falar sobre os canais de transmissão, pois a política monetária tem um ‘lag’ e um efeito que levam um tempo”, destacou.

Ele apontou que há outras medidas microeconômicas pela frente a serem adotadas. “Então, entendemos que o efeito dessas medidas nos canais de transmissão será muito mais intenso”, disse. “Precisamos colocar o máximo de potência possível (na política monetária)”, afirmou também.

Campos Neto reiterou nesta terça-feira que o efeito de medidas microeconômicas nos canais de transmissão não começou agora, mas sim com as ações tomadas na gestão de Ilan Goldfajn e com as mudanças na Taxa de Longo Prazo (TLP).

Câmbio e bolsa

Ao falar sobre o câmbio acima de R$ 4, ele destacou que o movimento de alta da moeda americana não tem correlação com o risco Brasil ou outras variáveis – e sim há um efeito por conta da curva de juros, em meio à forte queda da Selic nos últimos meses.

Para Campos Neto, os movimentos do câmbio precisam ser visto com dois focos: i) se eles representam uma elevação da percepção de risco em relação ao País e ii) se pode impactar a inflação. Contudo, apontou, não houve o efeito “contaminação”: “estamos em um ambiente novo. O movimento do câmbio foi muito diferente do que vimos no passado”.

Campos Neto também mencionou a entrada maior de pessoas físicas na bolsa, permitindo aos estrangeiros saírem do mercado em migração para outras bolsas. Ele justificou que a saída do estrangeiro do mercado de ações do Brasil se deve em boa parte a uma comparação do mercado local, que ficou mais valorizado, com outros, como na Ásia.

Segundo ele, que citou conversas com investidores internacionais, o fluxo estrangeiro para o Brasil não acontece por problema político, mas sim por conta de um momento de pausa para observação para saber o que vai acontecer.

“É mais do que a justificativa de que o fundamento não está bom, de problemas de governo”, disse o presidente do BC em evento promovido pelo Credit Suisse. “Os locais fizeram movimento de migração (para bolsa) muito forte. E o estrangeiro acabou comprando outros mercados.”

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(Com agências)

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.