Campos Neto alerta que crescimento do crédito subsidiado pode reduzir eficácia da política monetária

Em entrevista sobre Relatório de Inflação, presidente do BC defendeu comunicação e transparência como armas pra reduzir ruídos

Roberto de Lira

José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil

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Um possível crescimento muito forte no crédito subsidiado pode acarretar numa perda da potência da política monetária, alertou hoje o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Em resposta a um questionamento sobre o que o BC considera um risco parafiscal, que a autoridade monetária tem citado em suas comunicações, Campos Neto afirmou que a diminuição no crédito subsidiado nos últimos anos teve grande importância tanto da redução da taxa neutra de juros – aquela que seria adequada para estimular a economia sem gerar instabilidade na inflação ao longo do tempo – como na eficácia da política do banco central.

No contexto do risco de revisão de reformas estruturais, ele comentou que a substituição da antiga TJLP pela Taxa de Longo Prazo (TJLP), em 2018, trouxe um “ganho institucional”. Campos Neto disse que isso estimulou grandes empresas a procurarem mais o mercado de capitais para se financiar, abrindo espaço para que pequenos acessar os bancos públicos.

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Ele preferiu não comentar ou especular sobre eventuais mudanças nesse sistema pelo novo governo, conforme rumores têm apontado.

Na coletiva para esclarecimentos sobre o Relatório de Inflação divulgado nesta quinta-feira (15), Campos Neto disse ter considerado o almoço que teve nesta semana com o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e seu secretário-executivo, Gabriel Galipolo, foi ótima no sentido da ampliar coordenação entre as políticas fiscal e monetária.

Campos Neto defendeu a transparência como uma forma de reduzir atritos. “Quando você comunica melhor, traz menos danos à credibilidade. Se comunicar bem, pode fazer menos e conseguir mais potência”, defendeu.

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Sobre a proposta de “institucionalizar” mais essa relação, citada por Haddad numa entrevista, Campos Neto disse que o mais provável é que isso se dê com reuniões mais frequentes.

Sobre a atual transição de poder, a primeira na qual o Banco Central tem autonomia operacional, ele disse isso está sendo um experimento para ambos os lados, mas destacou que a autonomia tem sido um atenuante ao ambiente de volatidade atual. Ele não quis entrar em mais detalhes sobre uma ampliação da independência do BC para outras áreas, como a financeira e administrativa, mas que existem conversas nesse sentido.

O presidente do BC comentou ainda sobre as próximas substituições na diretoria do Banco no ano que vem. Ele lembrou que, por lei, isso é atribuição do Presidente da República, mas que é possível conduzir o processo de forma suave e consensual, uma vez que alguns desses cargos são essencialmente técnicos e os demais diretores costumam participar da escolha.

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Sobre sua permanência após o fim do atual mandato, Campos Neto só se comprometeu ficar até o fim da gestão definida, ou seja, até 2024.