BCE “agarrar-se” agora à alta de 50 pontos-base nos juros seria repetir o erro de 2011, alerta ex-integrante do conselho

Presidente do Société Générale comparou situação atual com a da crise da Grécia, quando BCE ajudou acelerar a instabilidade

Roberto de Lira

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O Banco Central Europeu (BCE), que vai anunciar sua decisão sobre a taxa de juros na quinta-feira (16), não deveria nesse momento de turbulência causada pela crise nos bancos regionais dos Estados Unidos “agarrar-se” a um já antecipado aumento de 50 pontos-base como se nada tivesse acontecido desde sua última reunião. A opinião é de Lorenzo Bini Smaghi, presidente do banco Société Générale, em entrevista ao diário econômico alemão Börsen-Zeitung.

Smaghi, que membro do comitê do BCE entre 2005 e 2011, argumentou que assumir uma postura mais dura do que se pensava anteriormente pode ser arriscado no momento e levar a mais instabilidade. “Quanto mais rápido os mercados se estabilizarem, mais cedo o BCE poderá retornar à sua política de redução da inflação”, disse.

Para o executivo, um movimento de alta de apenas 25 pontos base não seria um problema agora se for bem explicado.

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Para ele, o BCE deve evitar repetir o erro de 2011, quando continuou a aumentar as taxas de juros sem levar em conta o crescente contágio da reestruturação da dívida da Grécia. “Isso acelerou a crise e levou a uma reversão de curso depois de apenas alguns meses”, lembrou.

Smaghi explicou que, quando uma parte do sistema financeiro entra em crise (como aconteceu agora com o colapso do SVB), é normal que haja algum contágio para todo o sistema, pois os investidores tendem a se perguntar: “Quem será o próximo?”.

“Levará tempo para ficar claro se existem outras vulnerabilidades no sistema e onde estão localizadas. Como resultado, a aversão ao risco aumenta. O problema desta vez parece ser de natureza diferente, pois não é tanto a qualidade dos ativos dos bancos, mas sim sua liquidez e o descasamento de prazos entre ativos e passivos dos bancos”, analisou.

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No entanto, ele não acredita numa crise sistêmica como a de 2008. “Haverá algum contágio que pode levar a uma desaceleração ou recessão”, ponderou.

Sobre as futuras decisões do Federal Reserve, o presidente do Société Générale acredita que as taxas de juros devem continuar subindo ao longo do tempo para trazer a inflação de volta à meta.

Mas ele advertiu que o choque financeiro aumentou a aversão ao risco no curto prazo e que isso deve ser levado em consideração na avaliação do Fed sobre as condições monetárias, o que pode resultar na desaceleração temporária do ritmo de aumentos de juros ou no adiamento de aumentos de juros.

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“No entanto, é crucial para o Fed manter a credibilidade em sua tentativa de reduzir a inflação”, defendeu.