BC deve acelerar ritmo e subir Selic em 0,5 ponto, com cenário ainda mais desafiador

Expectativas de inflação e cenário fiscal pressionam BC; alta de 0,5 ponto é consenso

Murilo Melo

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Analistas financeiros dos principais bancos estão certos de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) vai aumentar a taxa básica de juros, a Selic, durante reunião marcada para esta quarta-feira (6), para 11,25%.

Na segunda-feira (4), o boletim Focus informou que os especialistas consultados pelo BC voltaram a subir a projeção da inflação para este ano pela quinta semana consecutiva. Com isso, eles preveem a Selic em 11,75% ao fim deste ano, o que indica um aumento de 0,5 ponto nesta reunião e mais 0,5 na próxima.

XP Investimentos e Bradesco BBI afirmam, em seus relatórios, que o Brasil está enfrentando um ambiente inflacionário mais desafiador do que o previsto, o que deve levar o BC a adotar uma postura monetária mais dura.

Para a XP Investimentos, a deterioração do cenário inflacionário demanda uma política monetária mais restritiva. A instituição revisou suas projeções, elevando a expectativa de inflação para este ano, de 4,3% para 4,6%, e para 2025, de 3,7% para 3,9%. Segundo os analistas, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve se manter elevado, com maior probabilidade de ultrapassar o teto da meta, atualmente em 3,0%.

Diante desse cenário, a XP projeta que o Copom vote por um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa Selic na próxima reunião. A projeção da corretora para a Selic terminal também foi elevada para 12%, destacando que essa postura mais agressiva poderá abrir espaço para cortes de juros em uma fase posterior, caso o aperto monetário consiga conter as expectativas inflacionárias.

“Uma postura mais dura no curto prazo pode viabilizar uma queda dos juros mais cedo adiante. Esperaremos o resultado do IPCA de outubro para eventuais ajustes na nossa projeção”, afirma o relatório.

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Fatores domésticos e internacionais

Goldman Sachs, JP Morgan e Itaú BBA esperam um aumento de 50 pontos-base na taxa Selic, elevando-a para 11,25%, em resposta aos desafios econômicos e financeiros recentes, tanto domésticos quanto internacionais. Esse ajuste maior, segundo os analistas, é justificado por um mercado de trabalho superaquecido, crescimento elevado dos salários, uma política fiscal frouxa e desancoragem das expectativas de inflação.

O Goldman Sachs projeta um cenário com o real em R$ 5,75 e preços de petróleo em alta, enfatizando a importância de um balanço de riscos inflacionário assimétrico, conforme relatório.

O JPMorgan, entretanto, argumenta que o BC precisa manter flexibilidade para adaptar sua política conforme os dados de inflação e a conjuntura econômica externa. As pressões fiscais e o câmbio enfraquecido, diz o banco, são outros fatores que podem justificar um aperto monetário adicional até o próximo ano.

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O Itaú BBA diz que espera que a inflação do IPCA para outubro seja de 0,59%, refletindo pressões em itens como proteínas e serviços. Os estrategistas estimam que a taxa anual de inflação chegue a 4,8%, com o mercado de trabalho aquecido e expectativas de inflação acima da meta, justificando um ajuste mais rápido.

O BBA projeta que o Copom deve manter flexibilidade em suas decisões futuras, dada a volatilidade econômica e os desafios fiscais e cambiais. Na balança comercial, os analistas preveem um superávit menor, de US$ 4,5 bilhões em outubro, devido a uma desaceleração nas exportações e aumento das importações.

Inflação deteriorada

O Bradesco, por sua vez, aponta que o atual ciclo de aperto monetário já coloca a Selic em um patamar de restrição elevado, mas as projeções de inflação continuam se deteriorando. Um dos principais pontos de pressão identificado pelo banco é a depreciação do real frente ao dólar, que elevou o câmbio de R$ 4,85 para R$ 5,80 entre o final de 2023 e outubro deste ano. Essa desvalorização afeta diretamente os preços dos bens industriais e de alimentos, como carnes, que apresentaram alta de cerca de 40% nos últimos três meses.

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Além disso, o Bradesco alerta para a possibilidade de novos aumentos no preço da carne bovina ao longo de 2025 devido à redução dos abates e ao aquecimento das exportações. A expectativa é de que a carne bovina encareça em cerca de 14% até o final de 2024, o que representa um risco significativo para a inflação de alimentos.

O banco também analisa a volatilidade na inflação de serviços, especialmente em itens como cinema, seguros e serviços bancários, que apresentaram variações atípicas em 2023. Espera-se que esses componentes se estabilizem, mas a alta recente impacta o núcleo de serviços do IPCA, que pode encerrar o último trimestre com um crescimento anualizado de até 7%, segundo o BBI.

Por outro lado, o banco vê alguns fatores positivos para a inflação no curto prazo, como o retorno das chuvas, que deve aliviar a pressão sobre os preços de energia elétrica e contribuir para uma maior oferta de alimentos frescos. Esse cenário de maior regularidade nas safras pode moderar os preços de alguns alimentos, ajudando a controlar a inflação no curto prazo.