Adesão da Argentina ao BRICS já causa polêmica na campanha presidencial

A candidata Patricia Bullrich disse ser contrária à entrada no grupo e o libertário Javier Milei declarou que não vai se alinhar com comunistas

Roberto de Lira

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O anúncio do convite formal dos países integrantes do BRICS para que a Argentina faça parte do grupo – junto com Etiópia, Irã, Emirados Árabes, Arábia Saudita e Egito -, anunciado nesta quinta-feira (24), virou tema na campanha presidencial do país sul-americano. A candidata de centro-direita Patricia Bullrich, da coligação Juntos pela Mudança, disse que se opõe à entrada do país na aliança. E o libertário Javier Milei disse que não vai se alinhar com comunistas.

Ao sair de uma palestra que proferiu no Conselho das Américas, Bullrich declarou que “um presidente que está saindo (se referindo a Alberto Fernández) não pode dizer o que vai acontecer na política internacional nos próximos anos e comprometer a Argentina com um sistema que nada tem a ver com os nossos princípios”.

A ex-ministra da Segurança criticou o presidente, que para ela se encontra numa situação de enorme fragilidade e sem exercer a sua posição, não podendo portanto comprometer a Argentina a aderir ao BRICS , particularmente no momento em que ocorre a guerra na Ucrânia.

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Ele citou o desconforto particular com o convite feito ao Irã, “país com o qual há uma ferida aberta”. Bullrich se referia ao atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina, em 1994, que matou mais de 80 pessoas e feriu outras 300. Em 2006, a Promotoria da Argentina acusou formalmente o governo do Irã de planejar o atentado e a milícia do Hezbollah de realizá-lo.

Respondendo a Bullrich, Fernández disse esperar que a candidata não se eleja presidente “porque não entende o que diz”. Segundo o presidente, há problemas quando a política externa começa a ser ideologizada. “A política externa não tem ideologia, mas interesses”, comentou.

O candidato libertário Javier Milei, que também esteve com os empresário no Conselho das Américas, foi mais incisivo. “Nosso alinhamento geopolítico é os Estados Unidos e Israel. Não vamos nos alinhar com os comunistas”, disse. “Isso não significa que o setor privado não possa negociar com quem quiser”, ponderou.

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Hoje, Bullrich disse divergir de Milei nesse ponto, comentando que pretende permanecer no Mercosul e manter as relações comerciais com o Brasil.

Impacto comercial

O jornal Clarín conversou com especialistas nessa quinta-feira para saber os impactos esperados da adesão do país aos BRICS. Alguns deles comentaram que o fortalecimentos dos laços com os demais países pode ser positivo e que o aceso ao Banco dos BRICS pode ser um grande instrumento para o futuro, mas que muda muito pouco a situação atual.

“A entrada no BRICS não implica benefício econômico direto. Não é uma área de livre comércio, não tem benefícios tarifários para acesso a mercados”, disse ao jornal Marcelo Elizondo, especialista em comércio exterior. Para o economista, o bloco é mais uma aliança estratégica do tipo político e que tem um grande instrumento que é o Banco.

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Para Martín Kalos, Diretor da EPyCA Consultores, estar no grupo tem um peso geopolítico importante, mas que “a priori isso não muda nada”. É apenas uma incorporação para ter uma ligação inicial com países importantes como a China, a Índia e o Brasil a nível regional. Mas que poderia significar benefícios financeiros e comerciais para a Argentina num prazo mais longo.

Ariel Slipak, Coordenador da Área de Pesquisa da FARN, fez uma observação socioambiental sobre o assunto.: “A entrada da Argentina no BRICS sempre representará uma oportunidade para setores econômicos específicos, mas também pode ser uma ameaça para outros setores econômicos ou sociais”.

A imprensa local destacou a potencialização comercial que pode vir após a adesão. A Índia, por exemplo, é um mercado estratégico para as exportações argentinas, especialmente de óleo de soja, além de ser um relevante comprador do milho local. Já  a China é um destino chave para as carnes argentinas, absorvendo de forma constante mais da metade deste comércio exterior, além de ser também o principal mercado para sua soja.

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O trigo e a cevada produzidos na Argentina têm no Brasil seu principal comprador, que também é um grande demandante de milho.