Twitter, IBM e Lew’Lara: executivas que chegaram ao topo de empresas compartilham trajetória

Executivas compartilharam trajetória e aprendizados em entrevista ao podcast Do Zero ao Topo

Letícia Toledo

Da esquerda para a direita: Ana Paula Assis, Marcia Esteves e Fiamma Zarife

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Elas sempre foram minoria nas companhias onde trabalharam, mas, superando preconceitos e vieses de gênero, chegaram ao topo do mundo empresarial. Em comum, Fiamma Zarife, diretora do Twitter no Brasil, Ana Paula Assis, diretora da IBM, e Marcia Esteves, CEO da agência Lew’Lara\TBWA, também têm o fato de adotarem a luta por uma maior diversidade dentro das empresas  como um dos pilares de suas gestões.

“Uma empresa não consegue ser inovadora sem ter diversidade de ideias, perspectivas e pontos de vista”, defende Ana Paula Assis. “A partir do momento que você trata diversidade como um negócio, ela torna-se uma iniciativa como qualquer outra iniciativa de negócio da empresa. Coloca-se objetivos, métricas e pessoas competentes e capazes para fazer com que funcione bem”, completa.

As três executivas compartilharam suas trajetórias em entrevista ao podcast do Do Zero ao Topo — marca de empreendedorismo do InfoMoney. A seguir, confira um trecho da entrevista de cada uma delas. É possível ouvir a entrevista completa nas principais plataformas de áudio do país.

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Ana Paula de Jesus Assis, da IBM

Formada em engenharia da computação, Ana Paula de Jesus Assis ingressou na multinacional IBM como estagiária. Ela foi representante comercial, diretora de vendas, trabalhou na empresa em Nova York, passou uma temporada na China e depois foi a primeira mulher responsável por todas as operações da IBM na América Latina. Atualmente é diretora das operações da IBM para Europa, Oriente Médio e África. Confira sua trajetória no episódio 48 do podcast.

“Olhando para a minha carreira, eu não lembro de situações de preconceito dentro da IBM. Isso dá a impressão de que foi sempre tudo muito fácil. E a gente sabe que não é né? Eu sempre tive por princípio me preparar muito para tudo o que eu ia fazer.

Eu acho que, no meu inconsciente, eu sempre tinha aquela preocupação de que eu ia ter que mostrar um pouco mais, mostrar competência, mostrar que sabia mais e que estava preparada. Então  sempre tive tanto essa preocupação que não conseguia enxergar muito os preconceitos que sofri, mas imagino que tenha acontecido. (…)

Um princípio básico para inovação é: você não vai conseguir ter uma empresa efetivamente inovadora senão tiver diversidade de ideias, de perspectivas, de ponto de vista. Então esse pra mim é um primeiro princípio básico, né? Desconecta a diversidade simplesmente de uma ação de responsabilidade social ou alguma coisa que é responsabilidade do RH.

A partir do momento que você trata diversidade como um negócio, ela torna-se uma iniciativa como qualquer outra iniciativa de negócio da empresa. Coloca-se objetivos, métricas e pessoas competentes e capazes para fazer com que funcione bem”.

Fiamma Zarife, do Twitter

Fiamma Zarife começou sua trajetória no banco Boa Vista. Depois, seguiu carreira no setor de telecomunicações trabalhando em empresas como Telecom Italia, Oi, Claro e Samsung. Em 2015, Fiamma ingressou no Twitter e em 2017, assumiu a diretoria geral da companhia no Brasil. Confira sua trajetória completa no episódio 51 do podcast.

“A minha mãe sempre me criou de uma maneira que eu não achava que tinha menos oportunidades ou que eu era pior do que os homens. Isso me deu um ponto cego que era bom. Eu sempre fui fazendo tudo na minha carreira, eu achava que eu era capaz. Mas é claro que eu trabalhei em ambientes muito marculinos como telecomunicação e bancos.

A fase em que eu mais me sabotei foi a fase da gravidez. Na época eu fui promovida e o meu chefe não sabia que eu estava grávida. Ele acabou me promovendo na frente de várias pessoas, não tinha nem o que falar. E aí, depois, eu tive uma conversa particular com ele e falei: ‘olha, você me pegou de surpresa, eu tô grávida, então, se você quiser rever essa promoção…’ . Na hora ele falou que ia fingir que nem tinha ouvido aquilo e que era pra eu voltar para o trabalho. (…)

Hoje, com repertório que eu tenho, de diversidade, de mulher na liderança e de gravidezm eu vejo o quanto o que disse foi um absurdo. É um absurdo e ainda uma atitude comum achar que a maternidade vai te tirar a oportunidade de crescimento, de uma promoção (…).

As pessoas falam que ‘aí vai virar mãe, vai virar café com leite e vai ter menos tempo, não vai poder assumir aquele cargo…’. Na verdade a mulher não perde o ritmo [depois de virar mãe]. O que ela faz é uma adaptação, ela começa a ser muito mais produtiva, economizar tempo para ficar em casa com os filhos. Você se torna mais pragmática, você se torna mais objetiva e foi isso que eu fui fazendo depois da minha primeira filha e do meu segundo, para dar conta de duas coisas. No meu caso, eu amo né? Eu sou uma mulher melhor trabalhando, eu sou uma melhor mãe trabalhando e eu sou uma melhor profissional porque eu sou mãe. As coisas são muito Integradas e eu procuro equilibrar”.

Marcia Esteves, da Lew’Lara\TBWA

Marcia Esteves construiu uma carreira de destaque e repleta de prêmios nacionais e internacionais no mercado publicitário. Passou pela agência global Rapp, pela Wunderman e pela Leo Burnett. Em 2017, assumiu a presidência da agência Grey Brasil em um ainda raro caso de uma mulher no cargo máximo nesse setor. Em dezembro de 2019, Marcia se tornou CEO da Lew’Lara\TBWA. Confira sua trajetória completa no episódio 117 do podcast.

“A Grey [agência de publicidade] sempre foi e será um capítulo muito importante na minha história (…). Eu me lembro que vieram me perguntar se eu queria assumir a presidência juntamente com o Rodrigo [Jatene], que é um irmão de vida meu. Eu falei: ‘eu não, não estou pronta’. Ele [Rodrigo] olhou pra mim e falou: ‘eu quero, a gente quer sim’. Por que é sempre assim, né? Os homens acham que estão sempre prontos e as mulheres acham que nunca estão. Isso é um ponto nosso que tem que mudar.

(…) A diversidade no mercado mostrou uma evoluçã,o a gente não pode negar. Há alguns anos não existia absolutamente nem o olhar de diversidade. Claro que a gente ainda está muito longe do que precisa, mas existe um processo. O que me preocupa bastante é que isso ainda fique como uma luta das minorias, das mulheres e demais comunidades. Precisa ser uma luta da sociedade. Enquanto homens e mulheres não se unirem, para não ser uma briga e sim uma soma, eu acho que a gente não transforma. Eu tenho convidado muito em todas as conversas que faço para esse equilíbrio”

Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.