Startup que leva produtividade ao transporte recebe R$ 175 milhões

Cobli atende 3 mil empresas em 150 cidades e combina hardware, software e análise de dados para atendimentos mais velozes e custo menor com combustível

Mariana Fonseca

Rodrigo Mourad, cofundador da Cobli (Divulgação)

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SÃO PAULO — A logística é um dos maiores mercados brasileiros: o país gasta o equivalente a 12,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) no setor, de armazenamento até transporte. Nos Estados Unidos, por exemplo, o mesmo percentual é de 7,8%.

A Cobli é uma das startups de olho nesse mercado – especificamente, nos mais de 10 milhões de veículos comerciais no Brasil. A startup leva produtividade para o transporte por meio de hardware e software — e acabou de atrair um novo investimento. A Cobli anunciou nesta quarta-feira (21) seu investimento série B.

O aporte de US$ 35 milhões (cerca de R$ 175 milhões, na cotação atual) foi liderado pelo SoftBank, que já investiu em startups de logística como Doordash, Loggi e Rappi. Os recursos foram completados pelo fundo Qualcomm Ventures e pelos investidores prévios Fifth Wall, NXTP Ventures e Valor Capital.

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A startup de logística usará os recursos para desenvolvimento de produto e para contratações. O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com o cofundador Rodrigo Mourad sobre o modelo de negócio da Cobli e sobre os próximos passos da startup.

Produtividade ao transporte

A Cobli foi criada pelos empreendedores Parker Treacy e Rodrigo Mourad em 2017. Mourad é engenheiro de produção e trabalhou com logística na multinacional P&G, no banco de investimentos Morgan Stanley e na consultoria Bain & Company. Mas sua grande inspiração estava nos pais, que tinham as próprias pequenas empresas.

“Sempre tive noção dos altos e baixos de um negócio. Depois de uns sete anos de carreira empresarial, vi como a logística funcionava na prática e queria abrir um empreendimento de impacto”, diz Mourad.

Já Parker é americano e fundou anteriormente uma empresa de financiamento de veículos para imigrantes recém-chegados aos Estados Unidos. Ao fazer um MBA na Universidade de Harvard, Parker conheceu um amigo de Mourad e os empreendedores foram apresentados. “Queríamos empreender na logística, e o atraso brasileiro no setor era evidente em comparação com os Estados Unidos. A Cobli foi criada para aplicar as melhores tecnologias nos transportes comerciais brasileiros, levando produtividade”, completa Mourad.

A startup tem três frentes de atuação: hardware, software e análise de dados. A Cobli instala sensores e câmeras nos veículos comerciais. Por meio de internet das coisas (IoT), as informações coletadas são armazenadas em um software de computação na nuvem. Alguns exemplos são localização e comportamento de direção.

Essas informações são processadas e conectadas a outros bancos de dados, gerando dados de valor às empresas atendidas. Os dados podem ser acessados por aplicativo, e-mail ou site. As empresas pagam uma mensalidade que fica abaixo de R$ 100 por veículo.

“Contratar a Cobli vira um diferencial competitivo. Fazemos atendimentos e entregas chegarem mais barato, mais rápido e com mais segurança”, diz Mourad. Segundo a Cobli, 83% dos operadores de frotas na região ainda gerenciam suas frotas e processos de forma analógica. Elas usam ferramentas não integradas, como Excel, WhatsApp e até mapas, papel e caneta.

O cofundador dá alguns exemplos: uma empresa de transporte pode ter o preço de combustível reduzido em até 30% porque a Cobli cruza a rota feita com os preços registrados em postos de combustíveis pela provedora de benefícios Alelo. Já uma empresa de ambulância teve uma redução de até 50% no tempo de atendimento porque a Cobli ajuda com dados de trânsito e com contato com o paciente e com o hospital. É uma base de dados feita de mais 1 bilhão de quilômetros rodados.

A Cobli atende 3 mil empresas em mais de 150 cidades brasileiras, com “dezenas de milhares de veículos comerciais”. As companhias atendidas são desde negócios de pequeno porte, como sorveterias e lojas que instalam ar-condicionado, até gigantes como Mobly. São mais de 150 indústrias atendidas, desde ambulâncias até empresas de e-commerce e serviços de manutenção e de telecomunicações.

A pandemia de Covid-19 aumentou a procura pela Cobli. “Os profissionais de transporte estão em campo e voltam menos para os galpões, então o fluxo de comunicação pessoal piorou ou sumiu. Nós aparecemos como uma solução para digitalizar conversas e informações, dando mais transparência de processos. Essa demanda por mais tecnologia veio principalmente para que as empresas mantenham os clientes. As pessoas pedem cada vez mais pela internet e esperam que seu produto possa ser acompanhado e que chegue no horário certo”, diz Mourad.

Novo investimento, novos planos

O primeiro investimento recebido pela Cobli foi um aporte série A de US$ 10 milhões. O aporte série B de R$ 175 milhões será usado para desenvolvimento de produto e para contratações.

A Cobli pretende evoluir seus sensores e câmeras e capturar ainda mais dados. “Podemos criar produtos específicos com precificações melhores. Por exemplo, já temos parcerias com seguradoras para as quais fornecemos nossos dados e eles poderão criar seguros que podem cobrar bem menos dependendo do comportamento de direção do motorista e de quantas entregas ele tem no mês”, diz Mourad.

A startup de logística tem 200 funcionários e espera chegar a 500 deles até o final de 2022. “Investiremos não apenas em contratação, mas em capacitação técnica e em processos voltados ao crescimento. Precisamos de estrutura para continuar em ritmo acelerado.”

“Investimos em empresas que acreditamos definirão suas categorias, alavancando tecnologias disruptivas. Liderada por um time excepcional, a Cobli está ajudando a impulsionar a evolução do setor de transporte e logística na América Latina. Estamos animados em nos juntar e apoiar essa missão de trazer dados, insights e eficiência para as frotas em toda a região”, afirmou em comunicado sobre o aporte Matt Pieterse, investidor do SoftBank.

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“Na última década, os veículos conectados tornaram-se um dos mais importantes motores de transformação para os setores automotivo e de logística”, completou no mesmo comunicado Michel Glezer, diretor da Qualcomm Ventures. “A solução de gestão de frota da Cobli é fácil de usar e ajuda a aumentar a eficiência operacional e a visibilidade das frotas na América Latina. Estamos entusiasmados em investir na Cobli para acelerar a adoção de frotas conectadas, impulsionando ainda mais o crescimento dos setores automotivo e logístico.”

A Cobli cresceu mais de 100% na comparação entre 2019 e 2020. Em 2021 e 2022, a startup espera manter a taxa. “O mercado de logística é enorme e não faltam oportunidades. Tudo depende da nossa velocidade, e por isso decidimos antecipar nossa rodada série B em alguns meses. Pensamos em captar no final deste ano, mas vimos que nossos clientes têm problemas agora e decidimos trabalhar mais rápido. Já tínhamos um bom contato com SoftBank e Qualcomm”, diz Mourad.

Em longo prazo, a Cobli pensa em expandir para o resto da América Latina, ampliando o mercado de 10 milhões de veículos comerciais para cerca de 27 milhões deles, segundo o cofundador da startup. “Outros países da região têm uma adoção ainda menor de tecnologia em suas frotas do que o Brasil”, afirma Mourad. O plano deve começar apenas a partir de 2023 – até lá, o foco está completamente em levar mais produtividade às frotas brasileiras.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.