Flash: startup brasileira de benefícios flexíveis recebe US$ 100 milhões de investidores como a Tencent

Flash atende milhares de empresas, como Loggi e VTEX. Mudanças regulatórias devem impulsionar benefícios flexíveis, na visão dos fundadores

Mariana Fonseca

Cofundadores da Flash (Divulgação)

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Os benefícios flexíveis vieram para ficar, mesmo com um progressivo retorno ao mundo físico. Essa é a tese de startups como a Flash – e ela é apoiada por empresas como a gigante de tecnologia Tencent e por fundos de investimento nacionais e globais. A startup, que vende um aplicativo para que funcionários decidam quanto será gasto em categorias como cultura, educação, alimentação e transporte, anunciou nesta quarta-feira (9) um investimento de US$ 100 milhões.

A série C foi liderada pelos novos investidores Battery Ventures (Coinbase, Niantic) e Whale Rock (Loft, Nubank). Outra adição foi a gigante chinesa de tecnologia Tencent, que investiu em negócios brasileiros como Nubank e Omie.

“Battery e Whale têm a visão de plataformas que atendem outras empresas, inclusive na área de recursos humanos, enquanto a Tencent tem uma visão do mundo de pagamentos. Os dois primeiros estão nos Estados Unidos, enquanto a Tencent está na China. Então ganhamos agora uma visão global sobre os nossos mercados”, afirmou o cofundador Ricardo Salem em conversa com o Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney.

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Por enquanto, não há planos de internacionalização: o desafio continua gigante no Brasil. O mercado de benefícios movimenta R$ 150 bilhões anualmente, segundo estimativas da própria indústria. Apenas 2% das empresas brasileiras adotam o modelo de benefícios flexíveis – mas outras 48% pretendem no futuro deixar que seus funcionários escolham em quais áreas preferem ter um auxílio financeiro, segundo a 30ª Pesquisa de Benefícios Corporativos, publicada em julho de 2021.

A Flash foi criada por Salem, um engenheiro que virou consultor; Guilherme Lane, administrador que virou programador; e Pedro Lane, advogado que virou comunicador. Pedro estava insatisfeito com o mercado de benefícios corporativos. Além de ver reclamações sobre atendimento e nível de serviço das operadoras de vale-alimentação e vale-refeição, via funcionários que vendiam seus benefícios em troca de uma taxa só para usarem melhor o valor investido neles.

Pedro, seu irmão e seu amigo conversaram com advogados e profissionais de recursos humanos para entender como mudar o mercado, mas ainda se manter de acordo com a legislação de benefícios corporativos.

A Flash começou a operar em 2019, como um aplicativo de benefícios flexíveis. A depender das categorias escolhidas por cada empresa contratante, os usuários do aplicativo podem mover seu saldo entre benefícios como alimentação, refeição, mobilidade, saúde, educação, cultura e entretenimento. Os valores são gastos por meio de um cartão com bandeira Mastercard, aceito em mais de 2 milhões de estabelecimentos.

A Flash tem uma plataforma de pontos para gerenciar essas transferências de valores entre categorias. A plataforma também permite administrar outros benefícios, oferecidos por parceiros ou pelas próprias empresas. Por exemplo, o próprio funcionário pode fazer um upgrade e administrar seus dependentes do plano de saúde.

Salem afirmou que a Flash atende “milhares de empresas e centenas de milhares de funcionários”. Algumas das empresas atendidas são MadeiraMadeira, Loggi e VTEX. Para as companhias, o primeiro objetivo é tirar a carga operacional de benefícios do departamento de recursos humanos. “Ficou difícil manter as rotinas físicas da área de recursos humanos durante a pandemia, como as aprovações em papel. O RH teve que se digitalizar. Então, construímos produtos para resolver as dores decorrentes dessa transformação”, disse Salem.

Um segundo objetivo é transformar os benefícios em uma ferramenta de atração e retenção de talentos. Uma pesquisa encomendada pela startup com mais de 100 departamentos de recursos humanos atendidos pela Flash mostrou que, para 62% deles, os benefícios flexíveis melhoraram a retenção de talentos.

A startup se monetiza de duas maneiras. Na condição de emissora do cartão de crédito, ganha uma comissão a cada transação. Além disso, cada empresa paga uma mensalidade por funcionário ativo, dependendo do tamanho da empresa e da complexidade dos produtos contratados.

A Flash já tinha captado US$ 30 milhões em três rodadas, feitas com fundos como Global Founders Capital (que tem no portfólio negócios como Facebook e Slack), Monashees (99, Rappi) e Tiger Global (Conta Azul, Daki).

O novo investimento de US$ 100 milhões veio apenas dez meses depois da última rodada. “Não estávamos procurando uma captação, já que sempre calculamos até dois anos de caixa depois de cada investimento. Antecipamos porque investidores excepcionais nos procuraram, olharam nossas métricas e sugeriram uma aceleração dos planos. Vendo também as mudanças regulatórias, concordamos que o cenário era positivo para nossos produtos atuais e para a criação de novos produtos”, acrescentou o cofundador.

O Decreto nº 10.854 mudou algumas regras para empresas que aderem ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), voltado a negócios de grande porte. Publicado em novembro do último ano, o decreto prevê, por exemplo, o fim do “rebate”. Esse é um desconto pedido pelas empresas para as administradoras dos vales. Para cobrir esse custo, as administradoras costumavam uma taxa dos restaurantes credenciados.

Os contratos firmados depois de maio de 2023 não poderão mais ter previsão desses descontos para as empresas. “O rebate gerava uma reserva de mercado. Era uma barreira comercial que inviabilizava nossa competição com as administradoras de benefícios tradicionais”, defendeu Salem. “O mercado já era grande entre as empresas que atendíamos: as pequenas e médias, e as grandes que preferiam oferecer nosso benefício a receber o dinheiro do rebate. Sem artifícios como esse na mesa, nosso potencial de expansão para as grandes empresas cresceu”, completou o cofundador Pedro Lane.

A série C será usada justamente para expandir as soluções da Flash. Segundo Salem, cada categoria será mais aprofundada para aumentar o número de transações. Ainda, mais dores da área de recursos humanos serão resolvidas. A startup não detalhou exatamente quais soluções chegarão ao mercado nos próximos meses. Mas a expansão pedirá contratações: a startup pretende dobrar o quadro de 320 funcionários até o final deste ano.

Na comparação entre 2020 e 2021, a startup multiplicou sua receita em dez vezes. O objetivo é repetir essa proporção de crescimento na comparação entre 2021 e 2022, mesmo com uma base de clientes maior. “O crescimento na receita virá tanto do aumento da base quanto da contratação de mais produtos por cada empresa”, afirmou Salem. O plano é continuar atraindo negócios de grande porte – e tanto a adoção do trabalho híbrido quanto as mudanças regulatórias seguirão como impulsos para a Flash.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.