Fintech recebe R$ 350 milhões para ampliar acesso a compras parceladas no Brasil

Addi é uma startup colombiana que busca atualizar os carnês e crediários; em dois meses, negócio forneceu crédito para 15 mil transações no Brasil

Mariana Fonseca

Santiago Suarez, Daniel Vallejo e Elmer Ortega, cofundadores da Addi (Divulgação)

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SÃO PAULO – Lojas dando crédito aos seus consumidores é uma prática que existe faz décadas no Brasil — um dos primeiros exemplos são carnês e crediários. Para uma fintech colombiana, porém, o problema das empresas que concedem esse parcelamento está em sempre pensar nos lucros em curto prazo.

A Addi defende que mostrar aumento de vendas aos estabelecimentos, e uma visão de taxas menores a longo prazo para os consumidores, é uma forma de obter lucros mais sustentáveis e com foco em longo prazo. A fintech chegou ao mercado brasileiro há dois meses e atende negócios de varejo online, como Nuvemshop e VTEX.

A ideia de mediar o crédito entre estabelecimentos e consumidores por meio de um algoritmo proprietário para precificação de risco atraiu um novo investidor: o Union Square, fundo por trás de empreendimentos como Coinbase, Duolingo, Lending Club, Twitter e Zynga.

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A Addi captou uma rodada série B de R$ 350 milhões liderada pela Union Square, e acompanhada por investidores de rodadas anteriores, como Andreessen Horowitz e Monashees. O InfoMoney conversou com Daniel Vallejo, cofundador da Addi, sobre o modelo de negócios e os planos da Addi para o Brasil.

“Compre agora, pague depois”

A Addi foi criada pelos empreendedores Daniel Vallejo, Elmer Ortega e Santiago Suarez no final de 2018. Vallejo tem experiência em private equity e trabalhou também na consultoria McKinsey. Já Ortega foi diretor de tecnologia em um hedge fund. Por fim, Suarez trabalhou em companhias como Lending Club e J.P. Morgan.

Segundo Vallejo, a Addi surgiu a partir de duas grandes oportunidades. “Primeiro, vimos que a classe média e o uso de smartphones estava crescendo, mas a experiência de compra permaneceu a mesma e a penetração de cartão de crédito segue baixa. Em segundo lugar, mesmo quem tem um cartão de crédito vê diversas transações negadas sem saber direito o porquê.”

A Addi é uma empresa de tecnologia focada em reduzir tais fricções e promover o comércio na América Latina. Seu primeiro produto é um “compre agora, pague depois” para pessoas que não têm um cartão de crédito, ou que estão cansadas de terem suas compras rejeitadas quando o usam.

Consumidores recebem o produto e pagam as parcelas por boleto ou Pix. A Addi pode ou não cobrar juros, dependendo do risco de crédito. “Com a função de pagamentos agendados do Pix, poderemos reduzir ainda mais o risco e oferecer descontos aos consumidores, permitindo um relacionamento de longo prazo”, diz Vallejo.

A Addi pede dados como CPF, e-mail e telefone para o cadastro. “Tentamos pedir apenas o necessário, com foco em termos uma experiência com a menor fricção possível”, diz Vallejo. A Addi coleta dados de fontes tradicionais (como bureaus de crédito) e fontes alternativas (como localização, item comprado e dia/hora da compra) e os passa por um algoritmo proprietário para tomar a decisão de conceder o crédito. A Addi também pode pedir uma identificação (como selfie e foto do documento de identidade).

Outro ponto que ajuda a reduzir o risco da Addi é seu histórico de transações. “Vimos que compras feitas durante a semana apresentam riscos diferentes das vistas durante o final de semana dependendo do item adquirido. Alguns itens também costumam ter maior risco, como os produtos com grande potencial de revenda – que podem ser depois mais facilmente convertidos em dinheiro. Nosso modelo aprende com os pagamentos anteriores, enquanto o cartão de crédito concede limite para quaisquer compras”, diz Vallejo.

O cofundador afirma que o foco da Addi está em construir relacionamento com os consumidores, o que também ajuda a reduzir riscos. “A primeira compra pode ser parcelada com juros, mas se ela pagou certinho pode ganhar mais limite de aprovação e nenhum juro na próxima compra”, explica Vallejo.

Do lado dos comércios, as vendas aumentam pela opção de parcelamento – o risco de transação é terceirizado para a Addi. A fintech atende mais de 200 estabelecimentos na Colômbia e 15 estabelecimentos no Brasil. Exemplos são Nuvemshop e VTEX.

Segundo a Addi, os estabelecimentos que usam a solução veem tíquetes de compra de duas a três vezes maiores, e um aumento de 20% a 30% nas vendas. A Addi cobra uma comissão a cada compra. “Diante dos resultados, os estabelecimentos veem essa taxa mais como um investimento em marketing”, afirma Vallejo.

A fintech mediou 35 mil transações na Colômbia e 15 mil transações no Brasil apenas em 2021. A Addi chegou ao país apenas em março deste ano, depois de ter um 2020 difícil por conta da Covid-19.

“Estávamos focados em lojas físicas na Colômbia, onde tivemos longos lockdowns. Decidimos atender nossa base existente de consumidores, vendo se eles precisavam adiar seus pagamentos. O volume de compras no e-commerce também ganhou relevância e ajudou nos resultados. No Brasil, temos foco total em lojas virtuais”, diz Vallejo. A fintech chegou ao país em março de 2021.

Investimento e planos

Neste ano, o negócio cresceu cinco vezes comparando os resultados de maio com os de janeiro. A fintech espera crescer 12 vezes neste ano. A nova rodada captada ajudará no plano de escalar a empresa de tecnologia pela América Latina. O aporte de R$ 350 milhões será destinado para contratações e para aumentar a rede de estabelecimentos parceiros.

A Addi tem 230 funcionários, cerca de 30 deles no Brasil. A fintech busca dobrar a equipe brasileira nos próximos meses. Também pretende alcançar mais de 300 estabelecimentos parceiros no Brasil até o final de 2021.

“Quanto mais amplo for nossa rede, mais relevante ela será ao consumidor porque ele vê as marcas de que gosto. Também teremos um sistema de recomendação de produtos de e-commerces complementares após o usuário pagar sua primeira parcela. Queremos aproveitar ao máximo o potencial de termos uma plataforma”, diz Vallejo. “Focando mais na satisfação do vendedor e do consumidor e menos na lucratividade do empréstimo, conquistaremos mais espaço no concorrido espaço do crédito ao consumidor no varejo.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.