Após ter virado unicórnio, dona da CargoX investirá R$ 300 milhões em fusões e aquisições

Frete.com se tornou unicórnio em novembro do último ano, após ter captado mais de R$ 2 bilhões com investidores

Mariana Fonseca

Federico Vega, da CargoX (Divulgação)

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Depois de ter virado um unicórnio, o Frete.com vai sair para compras. A holding que une as empresas CargoX, FreteBras e FretePago anunciou nesta quarta-feira (6) que destinará R$ 300 milhões para fusões e aquisições (M&A). O objetivo é “melhorar a eficiência e a sustentabilidade do setor logístico”, informou a Frete.com em comunicado. Nós próximos 24 meses, a holding vai analisar mais de 20 potenciais transações, majoritariamente com outras empresas brasileiras.

O Frete.com se define como um ecossistema de soluções para transportadoras e caminhoneiros autônomos. O transportador encontra cargas pela FreteBras, recebe pagamentos pela FretePago e se digitaliza pela CargoX.

O Frete.com tem 320 mil caminhoneiros ativos, enquanto outros 140 mil usuários contratam esses caminhões. Segundo a holding, suas soluções promovem um aumento de até 50% no lucro líquido dos caminhoneiros, enquanto quem pede esse transporte de cargas economiza até 25%.

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“Falando de eficiência, permitimos que os caminhoneiros encontrem cargas em tempo real. No mercado offline, 45% do tempo os caminhões rodam vazios”, afirmou Federico Vega, cofundador do Frete.com, ao Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney. “Falando das transações, temos como objetivo fazer algo parecido com o Mercado Livre: ter uma plataforma que permite encontrar caminhões de forma mais fácil, mais rápida, mais barata e também mais segura. Começamos a desenvolver um roadmap, e estamos vendo em quais verticais podemos comprar empresas para acelerá-lo.”

Segundo Vega, o Frete.com está de olho em empresas de software com boas equipes, que queiram continuar dentro da holding. Alguns mercados visados são segurança no transporte, por meio de rastreamento de telefones e de aceleração ou frenagem, e crédito para capital de giro e compras de caminhões. A holding deve anunciar sua primeira aquisição nas próximas três semanas.

O grupo de logística processou R$ 109 bilhões em transações nos últimos doze meses. Recentemente, atingiu a marca de R$ 2,5 trilhões em valor de mercadoria transportada ao longo de sua história. O Frete.com cresce a um ritmo de 74%, comparando janeiro a maio deste ano com o mesmo período de 2021.

M&As como saída

O Frete.com captou US$ 390 milhões (R$ 2,2 bilhões) com investidores como a gigante chinesa de tecnologia Tencent e o banco Goldman Sachs. O anúncio dos recursos para fusões e aquisições acontece em um momento diferente para a captação de aportes por parte de empresas de tecnologia. Elas enfrentam correção nos múltiplos, e mais seletividade por parte dos investidores de venture capital.

“Essas ações acontecerão em um momento no qual a liquidez está mais restrita para empresas de tecnologia, que verão em uma transação de M&A oportunidades para acelerarem o crescimento. Acreditamos que existem muitas empresas, realmente interessantes, e que terão muitas sinergias conosco, gerando valor para o setor como um todo. Nos próximos 12 meses, veremos consolidações significativas”, afirmou Vega em comunicado.

Ao Do Zero Ao Topo, o CEO detalhou que as soluções poderiam ser desenvolvidas organicamente, dentro de casa, mas isso tomaria mais tempo. O M&A surge como uma forma de lançar soluções ao mercado mais rapidamente.

“Agora que o mercado de capital secou, pode ser que encontremos empresas muito boas a um preço razoável. A venda é uma saída. Enxergamos empresas que são boas, mas que deveriam ter captado quando os juros estavam baixos e havia muito dinheiro a investir no mercado. Elas agora precisam não apenas do capital, mas podem também se beneficiar da nossa rede de caminhoneiros. Existem sinergias que tornam o produto maior do que a soma das partes.”

No Brasil, as fusões e aquisições envolvendo negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos deram um salto na última década. Foram 247 M&As envolvendo startups em 2021, ante apenas seis transações do tipo em 2011. O crescimento foi de 41 vezes. Os dados são de um estudo da empresa de inovação Distrito.

“O melhor momento da história para captar capital foi no ano passado. Mas o melhor momento da história para fazer investimentos e comprar empresas serão os próximos dez meses”, concluiu Vega ao Do Zero Ao Topo.

Frete.com: união entre CargoX e FreteBras

O Frete.com é o terceiro unicórnio brasileiro no burocrático e complexo mercado de logística, após as empresas de entregas iFood e Loggi. Mas é o primeiro unicórnio atacando especificamente as cargas pesadas, transportadas por caminhões

A holding nasceu a partir da união entre CargoX e FreteBras. A FreteBras foi fundada em 2008, em Goiás, e compartilha grandes investidores com a CargoX desde 2019. Já a CargoX foi fundada pelo argentino Federico Vega em 2013. Por fim, a empresa de pagamentos FretePago foi criada depois da união.

No começo, a CargoX conectava caminhoneiros a empresas que precisam escoar seus produtos, como Ambev e Votorantim. Em 2019, a CargoX decidiu focar na digitalização dos caminhoneiros e transportadoras, deixando a plataforma de conexão para a FreteBras e os pagamentos para a FretePago. A CargoX defende que sua solução gera um lucro líquido 50% maior aos caminhoneiros e 25% maior às transportadoras, em média.

A história de Vega, que teve a ideia enquanto pedalava de bicicleta pela Patagônia e enfrentou mais de 200 rejeições de investidores, foi tema de episódio no podcast do Do Zero ao Topo:

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.