Opinião: Não confunda indisciplina com falta de motivação no trade

Para manter o comprometimento, seja com o setup ou o gerenciamento de risco, questione qual sua fonte de motivação

Danuza Machado

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(Getty Images)
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Inúmeras são as queixas de traders e investidores. A mais comum é a ausência de disciplina. Mas não é raro que esses mesmos negociadores que se dizem indisciplinados possuam histórico de horas dedicadas ao estudo, planejamento de objetivos e metas, por exemplo.

Parece contraditório que pessoas que se dedicam e conquistam certas aspirações se definam como indisciplinas. Pois não é a disciplina a prática de determinada ação, de forma organizada e perseverante, com a intenção de obter um bem ou um fim determinado?

Sendo este o conceito, neste contexto, não seguir o gerenciamento, por exemplo, pode não apontar para a indisciplina, mas para outro tipo de necessidade de desenvolvimento de habilidade.

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Descomprometimento e falta de interesse não são características comuns entre traders e investidores. Muito pelo contrário, considerável parcela chega a ter altas doses de perfeccionismo.

Se parece difícil seguir o gerenciamento, obedecer a estratégia, respeitar a quantidade de negociações pré-estabelecidas, pode se olhar para a razão que conduz a certas atitudes. Ao rotular, indevida e impulsivamente, estas limitações como indisciplina pode se perder a oportunidade de conhecer o verdadeiro problema.

A teoria da autodeterminação implica que, se escolhemos as metas certas pelas razões certas, teremos mais engajamento determinação, satisfação e sucesso. Ao realizar o que gosta, deseja ou aspira, verdadeiramente, poderá facilitar o rigor na execução das tarefas. A fonte de motivação adotada pelo negociador poderá impactar no desempenho e bem-estar dele no mercado financeiro.

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Estudos baseados nesta teoria apontam para alguns padrões comportamentais reguladores de sucesso ou fracasso profissional.

Consideremos três motivações comuns aos negociadores: a primeira trata dos traders e investidores que negociam baseados em objetivos mais amplos e longínquos, olhando o trade como um meio de satisfação de valores e objetivos. Esses tendem a ter maior e melhor satisfação profissional além de maior dedicação e proatividade, segundo o estudo.

Ao contrário daqueles que parecem trabalhar apenas para evitar sentimento de vergonha ou fracasso diante de negociações frustradas. Esse tipo de motivação, muitas vezes inconsciente, pode ser causadora de alto nível de ansiedade no trading.

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A terceira motivação é aquela que atribui o sucesso ou o fracasso profissional apenas ao reconhecimento e à fama. Perspectiva esta causadora de emoções que limitam o desempenho, a autoconfiança e o bem-estar.

Desse modo, queixas indevidamente rotuladas como indisciplina garantirão prescrição de “medicações” ineficientes. Para manter o comprometimento, seja com o setup ou o gerenciamento de risco, questione qual sua fonte de motivação. Isso poderá melhorar seus resultados.

A autoconsciência (autoconceito, autoanálise e autoconhecimento) tem papel fundamental para a consistência.

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Danuza Machado

Psicóloga há 25 anos e trader há quase 10 anos. Já trabalhou como Oficial Psicóloga nas Forças Armadas no Controle Emocional para Pilotos do Exército Brasileiro, também como facilitadora no processo de Desenvolvimento de Comportamentos Empreendedores para Empresários no SEBRAE-SP