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O medo e o excesso de confiança no trading

É improdutivo tentar aprender novas atitudes que evitem perdas sem entender a origem do medo ou do excesso de confiança
Por  Danuza Machado -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Lembro-me claramente das minhas primeiras negociações no mercado. Ao fazer uma autoanálise, eu me descreveria como ousada. Arriscava quantias muito acima de um gerenciamento de risco adequado. Sentia-me forte, confiante e extremamente satisfeita com a nova carreira, o que me tornava eloquente nos diálogos com leigos. No entanto, em determinado momento, diante de um ganho financeiro incomum, surgiu um pensamento desconfortável: “Eu sei por que obtive esse resultado na negociação de hoje?” A resposta a essa pergunta me levou à conclusão de que eu não sabia absolutamente nada do que estava fazendo. O ganho tinha sido pura sorte… A partir desse momento, o medo passou a dominar a maioria das minhas negociações.

O medo e a ansiedade são as duas emoções mais comuns entre traders e investidores. Geralmente, essas emoções são desencadeadas pela sensação de ameaça percebida no ambiente ou pela perda de controle da situação. É natural que situações ou ambientes percebidos como ameaçadores despertem instintos de autodefesa.

Imagine-se em uma rua escura e deserta, durante a madrugada, e de repente você começa a ouvir passos apressados se aproximando. Obviamente, o ambiente e as circunstâncias parecem extremamente ameaçadores. Nesse caso, talvez não seja recomendável esperar para verificar se o perigo é real ou imaginário. O instinto de autodefesa deve se manifestar para garantir sua segurança e proteção.

Da mesma forma, esse instinto de autodefesa pode ser acionado no ambiente financeiro quando percebido como ameaçador. Surgirão atitudes de defesa em resposta a essa percepção.

No entanto, o mercado em si não representa uma ameaça e, teoricamente, não há motivo para que seus instintos se defendam dele. Tudo no mercado são informações, e a interpretação dessas informações é determinada pela nossa própria estrutura mental. Consequentemente, as atitudes adotadas podem ser incoerentes com a situação.

O que pode distorcer as informações observadas no mercado, transformando-as em perigo, são as primeiras experiências emocionais aprendidas nessa relação: as dores ou os prazeres emocionais vivenciados no passado.

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Por outro lado, o excesso de autoconfiança é um sentimento que provoca reações opostas ao medo e à ansiedade, mas também leva a resultados negativos na mesma medida. Estudiosos pioneiros nesse tema, como os psicólogos David Dunning e Justin Kruger, sugeriram que o excesso de autoconfiança está relacionado a uma autoavaliação irrealisticamente positiva das próprias habilidades. Isso envolve uma superestimação do conhecimento e das possibilidades pessoais.

“…a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento”…”…Se você é incompetente, você não consegue saber que é incompetente (…) [A]s habilidades necessárias para fornecer uma resposta correta são exatamente as habilidades que você precisa ter para ser capaz de reconhecer o que é uma resposta correta. No raciocínio lógico, na educação dos filhos, na administração, na resolução de problemas, as habilidades que você usa para obter a resposta correta são exatamente as mesmas habilidades que você usa para avaliar a resposta. Portanto, nós demos continuidade a investigações para apurar se a mesma conclusão poderia ser verdadeira noutras áreas. E para nossa surpresa, era bem verdadeira.”

Considerando o relato do primeiro parágrafo e incorporando a teoria de Dunning-Kruger, a ousadia destemida nas negociações no início da carreira implicava na ausência de habilidades para distinguir entre um desempenho bom e ruim. Era impossível perceber a diferença qualitativa dos resultados porque a falta de habilidade era acompanhada pela ignorância dessa falta. Quando houve uma evolução cognitiva, também surgiu o medo. Segundo Dunning-Kruger, a razão desse medo subjacente é que a ignorância gera confiança.

A partir daí, surge um novo problema: sob o efeito do medo, pode ser difícil aprender novas atitudes que evitem perdas descontroladas. Qualquer atitude que eu tomasse teria a intenção, consciente ou inconsciente, de me proteger da ameaça percebida – o mercado.

Resumindo, o medo, a ansiedade e o excesso de autoconfiança têm raízes muito mais profundas do que imaginamos. É imprudente adotar estratégias de defesa sem conhecer a origem dessas emoções. É improdutivo tentar aprender novas atitudes que evitem perdas sem entender a origem do medo ou do excesso de confiança. O mercado é neutro, e a interpretação é construída com base na experiência emocional de dor ou prazer.

Danuza Machado Psicóloga há 25 anos e trader há quase 10 anos. Já trabalhou como Oficial Psicóloga nas Forças Armadas no Controle Emocional para Pilotos do Exército Brasileiro, também como facilitadora no processo de Desenvolvimento de Comportamentos Empreendedores para Empresários no SEBRAE-SP

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