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XP Investimentos: 20 anos e muitas lembranças

Hoje é simples entender o que é uma plataforma aberta de investimentos. Durante grande parte da década passada, contudo, parte importante do nosso trabalho era realmente pedagógico, abrindo a mente das pessoas
Por  Thomas Keiserman -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Nesta sexta-feira à tarde meu pai me mandou esta foto acima. Leitor assíduo de Zero Hora em sua versão física, volta e meia ele me traz recortes ou manda foto de algum conteúdo ou crônica a qual acha que pode me interessar. Fiquei bem contente por esta sacada da ZH e muitas lembranças e conexões me vieram à mente. Escrevo para compartilhar algumas delas.

Em primeiro lugar, trouxe-me satisfação ver a homenagem de uma empresa que admiro muito — o Grupo RBS — a outra que eu admiro enormemente. Além disso, ler esta propaganda de hoje da Zero com a propaganda da XP de 20 anos atrás traz um gostinho bom, já que acompanhei boa parte do desenvolvimento da XP em seus primórdios aqui em Porto Alegre, onde residia e ainda resido.

Confesso que nunca cheguei a conhecer o já famoso primeiro escritório da XP — de 30 m² –, mas ele ficava em um prédio pelo qual eu passava na frente quase todos os dias, em uma área da cidade que conheço certamente mais que a palma da minha mão. Esta sensação de familiaridade com a história (já famosa) de uma empresa de sucesso, é boa e me faz sentir bem.

A história da XP já foi contada várias vezes por alguns de seus principais protagonistas — e é o enredo de um livro muito interessante, cuja leitura recomendo, chamado “Na Raça”, escrito por Maria Luíza Filgueiras. Eu não sou protagonista desta história, mas enquanto espectador tive a sorte de vivenciar, relativamente de perto, boa parte dela. E não exatamente porque passava em frente ao prédio do escritório em que nunca entrei. Neste momento que se vão 20 anos de sua gestação, é bom reviver mentalmente algumas lembranças.

Minha condição de espectador se divide em duas. Como cliente, há quase 15 anos, e como assessor de investimentos e empresário parceiro da XP, há quase oito anos.

Foi em algum momento de 2006 ou 2007, que meu primo, Bernardo Keiserman, me convenceu a começar a investir na bolsa. Ele tinha começado a trabalhar recentemente como broker na XP. Leigo total em investimentos, naquele momento eu era um estudante de engenharia civil tentando de alguma forma encontrar meus verdadeiros interesses e, então, algum destino profissional de médio e longo prazo. Quis o destino que aquele fosse o início de uma estrada longa que eu tomaria — e divergente daquela que eu vinha traçando até então.

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Depois de um curso de iniciação na bolsa — o famoso Aprenda a Investir na Bolsa, carro-chefe da XP Educação naquela época, ministrado com muita propriedade por Leandro Rassier, então diretor acadêmico da XP Educação –, um interessante curso de iniciação sobre análise gráfica — em que felizmente tive como professor Fernando Wallau, que muitos anos depois eu viria a ter como colega e sócio — e não mais que dois anos enquanto investidor, em algum momento de 2008, na reta final do curso de engenharia, eu já havia decidido que queria mesmo era trabalhar no mercado financeiro. Mais especificamente, com métodos quantitativos de investimento.

Em outras palavras, aquele mundo ao qual a XP e meu primo haviam me dado acesso — o mundo do mercado de capitais, até então desconhecido para mim — acabou mudando o meu destino profissional. Pode soar piegas, mas é verdade. E aqui minha intenção não é romantizar, muito menos dar margem para que algum leitor conclua que, à época, eu era (mais) um prop trader caricatural, iniciante, cego, achando que ficaria rico facilmente operando por conta própria na bolsa.

Naqueles dois anos iniciais eu nunca operei por conta própria, era basicamente um curioso que foi se interessando por aquele vasto mundo de números, ativos e estratégias, até que decidisse que aquela realmente era a área para a qual queria se dedicar profissionalmente no longo prazo. Daí a conclusão de causa e consequência de algumas linhas acima.

Ao decidir trabalhar no mercado financeiro, achei importante buscar formação técnica sólida. Afinal, no início de 2009, eu não passava de um engenheiro civil recém formado e consultor/programador de sistemas de gestão em Excel para pequenas empresas… E investidor leigo da bolsa, é claro. Foi então que fui para a França fazer um mestrado acadêmico em economia na Paris 1 Panthéon-Sorbonne e um mestrado profissional em engenharia econômica e financeira na Paris-Dauphine. Foram anos desafiadores, de intenso e riquíssimo aprendizado.

Fora do Brasil, apesar de ter mantido meus investimentos aqui, foram os 3 anos em que estive mais afastado da XP. Acompanhei bem de longe a campanha Acorda Brasil, muito embora sobre este tema valha umas palavras a mais: quem conhece mais a fundo a história da empresa sabe que foi naquela época que tomou-se uma das decisões estratégicas mais importantes e acertadas destes 20 anos de história: focar-se na distribuição horizontal de investimentos financeiros, através da construção de uma plataforma de arquitetura aberta, ao invés de manter o foco tão somente no serviço de corretagem de bolsa.

Se os cursos sobre bolsa de valores trouxeram viabilidade econômica para a empresa lá na época daquele anúncio da Zero Hora, o investimento na construção da plataforma de fundos e de renda fixa entre os anos de 2010 e 2012, na minha opinião, foi a decisão mais disruptiva que o management da empresa tomou até hoje. A partir daquele momento a XP começaria aos poucos a ser outra, a indústria de investimentos financeiros para pessoas físicas no Brasil passava a ser outra. In fine, a vida do investidor brasileiro pessoa física passava a ser outra.

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A grande maioria das pessoas até hoje ainda não enxerga isso (incrivelmente, mesmo aquelas que trabalham no mercado de investimentos), mas a criação da plataforma de investimentos aberta da XP (inspirada no modelo americano bem sucedido da Charles Schwab) foi para os investimentos pessoais dos brasileiros o que o Uber foi para o transporte individual urbano. Basta analisarmos como a roda dos investimentos funciona no Brasil hoje e como funcionava 10 anos atrás.

Por óbvio, a queda dos juros também foi fator decisivo, não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Entretanto, a queda dos juros, além de paulatina, não muda a regra do jogo nem as engrenagens do sistema, ela muda o balanço de (des)incentivos que investidores (não) têm ao escolher esta ou aquela alternativa de investimento.

Posto de forma técnica, ela altera o custo de oportunidade das escolhas de investimentos (não apenas financeiros). As plataformas com arquitetura aberta de investimento mudam a própria estrutura do sistema, aumentam exponencialmente as alternativas de escolha e diminuem substancialmente as dificuldades operacionais e os custos transacionais. Afinal, quem no Brasil em 2010 tinha conta em 15 instituições diferentes para conseguir investir em dez fundos de investimentos distintos e 5 títulos de renda fixa de emissores diferentes? No way!

Naqueles anos embrionários, aquela nova e revolucionária plataforma foi de fato revolucionária apenas para alguns poucos clientes — afinal a base de investidores da XP ainda era pequena –, para os seus visionários criadores — e aqui cito com deferência Gustavo Pires, o pai da plataforma PCO de fundos da XP –, para um punhado de profissionais parceiros da XP — os Assessores de Investimento — e, não menos importante, para os parceiros institucionais que acreditaram no modelo desde sua gênese. Afinal, sem gestoras de ativos, bancos e financeiras dispostos a disponibilizar seus produtos naquela plataforma visionária, ela simplesmente não pararia em pé.

Felizmente, esta grande disrupção — que naquele momento foi silenciosa pois a empresa ainda era pequena — foi implementada à perfeição nos anos subsequentes. Em 2021, investir em plataformas de investimentos abertas, seja na XP, em outras corretoras ou mesmo através dos bancos incumbentes, é uma realidade.

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Foi no contexto desta nova e revolucionária plataforma de investimentos que, no meu retorno ao Brasil, já em 2013, eu então passaria a ser um espectador, digamos, mais bem informado. Afinal, em setembro daquele ano, Felipe Beck literalmente abriu as portas da Esquadra Investimentos para mim, empresa da qual passei a fazer parte e faço parte até hoje. Contextualizando brevemente: a Esquadra é um escritório de investimentos fundado em 2011 por Felipe e Fernando Petersen e, desde então, tem contrato de parceria com a XP. Ou seja, todos os investidores que são assessorados por nós têm seus investimentos através da XP.

A partir daquele momento, passei então a ser um daqueles ainda poucos Assessores de Investimento que acreditavam naquela plataforma como um meio seguro, prático e eficiente através do qual pessoas físicas podiam escolher e gerenciar seus investimentos.

Hoje em dia é simples entender o que é uma plataforma aberta de investimentos, afinal, a maioria dos investidores já tem acesso a uma ou conhece alguém próximo que tem e sobre a qual já lhe deu uma “aula”. Durante grande parte da década passada, contudo, parte importante do nosso trabalho era realmente pedagógico, abrindo a mente das pessoas, presas ao modelo antiquado de investimento dos sistemas fechados dos bancos, a respeito daquele outro sistema/realidade.

Muita coisa aconteceu desde 2013, tanto comigo quanto com a XP. O propósito deste texto não é relatar o meu percurso profissional. Logo, o que aconteceu comigo eu passo. Com relação à XP, o que ocorreu nos últimos 8 anos está muito mais fresco nas memórias das pessoas e nos textos e vídeos na internet do que aqueles já longínquos anos 2000 e o anúncio da XP na Zero Hora. Então também passo.

Não poderia deixar passar, entretanto, a oportunidade de reconhecer e citar pessoas (além daquelas já citadas no texto) que, de alguma forma, tiveram papel fundamental em minha relação com a XP — seja enquanto cliente, seja enquanto parceiro profissional/comercial: Guilherme Benchimol, Eduardo Bugs, Vinicius Bello, Rogério Carvalho, Guilherme Kolberg, Gabriel Boselli, Marcos Corazza, Guilherme Leite.

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Em alguns momentos talvez elas até tenham generosamente me dado o gostinho de me sentir também protagonista — muito embora eu tenha clareza de que na maior parte do tempo eu definitivamente tenha sido, e ainda sou, um sortudo espectador de grande parte da história desta magnífica e revolucionária empresa. Parabéns, XP, pelos 20 anos muito bem vividos!

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Thomas Keiserman É assessor de investimentos e sócio-diretor da Esquadra Investimentos, onde trabalha desde 2013. Formado em engenharia civil pela UFRGS, é mestre em economia pela Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne e mestre em engenharia econômica e financeira pela Université Paris-Dauphine. Já trabalhou na Fideas Capital, em Paris, e é CFP desde 2017.

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