Fechar Ads

Overhang de um papel caro: a combinação que fez do Santander a “venda quase unânime” na Bolsa

Analistas já viam a ação como cara - e comunicado da Qatar da última terça-feira aumentou ainda mais as perspectivas de queda
Por  Lara Rizério -
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – Como destacamos no Insight da última sexta-feira (você pode conferir clicando aqui), os bancos são vistos como uma boa opção de investimentos pelos analistas de mercado. Contudo, se você viu a análise, deve ter reparado que, dentre os grandes bancos do País, havia um que estava de fora: o Santander (SANB11).

Entre 15 casas de recomendação que cobrem as units do banco, 13 possuem recomendação de venda para os papéis e dois possuem recomendação neutra. E, já no mês de março, o Bradesco BBI reforçou a perspectiva de queda para os papéis da filial brasileira do banco espanhol, destacando também o forte desempenho das units no último ano.

Vale destacar que, no acumulado dos últimos doze meses, as units SANB11 acumulam avanço de 67%; contudo, o desempenho estável neste ano, o que já reflete a sinalização do mercado de que o ativo pode estar “caro demais”. Enquanto isso, Banco do Brasil (BBAS3) vê suas subirem 22%, o Itaú Unibanco (ITUB4) vê seus papéis avançarem 16%, ao mesmo tempo que os ativos PN do Bradesco (BBDC4) sobem cerca de 13% no acumulado do ano.

Mas por que o mercado possui essa visão tão negativa ou cautelosa para o banco? O Bradesco BBI, por exemplo, apontou continuar vendo risco de desvalorização para os papéis, em meio à estimativa de crescimento baixo (ou zero) dos lucros para 2017 e 2018. Além disso, como Santander não teve a mesma deterioração da qualidade de ativo como os pares, os analistas do banco não apontam os papéis SANB11 como beneficiário de uma redução maior no custo de risco. O banco possui preço-alvo de R$ 19,00 para as units.

Já o Credit tem uma visão mais positiva e possui recomendação neutra para os papéis, apontando em relatório do último dia 20 que a recente boa performance dos ativos do banco ocorria em meio aos esforços de diminuição dos riscos do banco. Contudo, as units do banco ofereciam pouco espaço para alta, apontam os analistas, possuindo preço-alvo de R$ 32,00.

O trigger para queda mais fortes

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Se a perspectiva já era negativa ou bem cautelosa para o papel, no último dia 28 um comunicado do banco levou às units a registrarem uma forte queda, que se estenderam na sessão seguinte.  O banco informou o início da oferta pública de distribuição secundária de 80 milhões de units detidas hoje pela Qatar Holding, grande acionista individual da operação brasileira desde 2010. O Santander destacou posteriormente que a oferta de units iria aumentar de forma significativa sua liquidez na bolsa brasileira, representando um “benefício de curto e médio prazo para a operação, ao permitir que mais acionistas participem do crescimento do Santander no Brasil”.

“Em 2014, a Qatar Holding reafirmou sua confiança em nossa operação, ao manter sua posição diante da oferta de compra da totalidade dos papéis em circulação pelo controlador, à época com um acréscimo de 20% sobre a cotação em Bolsa”, frisou o Santander Brasil em nota, destacando que a venda dos papéis “representa o reconhecimento ao desempenho atual do Santander Brasil”.

Porém, o impacto do anúncio foi negativo no mercado, principalmente pela perspectiva de um overhang (ou excesso de ações no mercado). O overhang é muito comum após ofertas de ações: com uma enorme quantidade de novos papéis na Bovespa, o lado da “oferta” ficará muito mais forte do que o lado da “demanda”; tendo mais gente disposta a vender a ação do que interessados em comprar, a tendência natural deste papel é de queda.

Desta forma, o anúncio da venda de ações da Qatar se uniu ao cenário já cauteloso para a companhia que existia antes da notícia, formando uma “tempestade perfeita” para os papéis, visão esta corroborada pelo banco alemão Deutsche Bank – que também possui recomendação de venda para os ativos.

“A venda pela Qatar gera pressão sobre um papel que já está caro. (…) O Santander Brasil está sendo negociado com múltiplo de 14,2 vezes, com prêmio de 49% em relação a outros bancos brasileiros, que estão com 9,5 vezes, e de 15% ante bancos da América Latina (12,4 vezes)”, aponta o relatório do Deutsche Bank.

Os analistas do banco Tito Labarta e Kaila Lopez apontam que isso será apenas parcialmente compensado pelo “crescimento mais forte do ganho por ação de 16%, ante um porcentual de 12% para os bancos brasileiros e de 10% para os da América Latina”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O preço-alvo para os ADRs (American Depositary Receipts) da companhia foram elevados de US$ 4 para US$ 6 de forma a refletir as maiores estimativas de ganhos do Deutsche e um ROE sustentável de 17% (ante expectativa de 14%), o que ainda implicava um potencial de desvalorização de 33% frente ao fechamento da última terça-feira.

Assim, mesmo aqueles que têm perspectivas mais positivas para o balanço da instituição em 2017 não estão otimistas sobre o desempenho futuro dos papéis do banco. Somada à notícia da saída da Qatar, os analistas reforçaram o call: dentre os 4 grandes, há divergências sobre se a escolha deve ser entre BB, Bradesco ou Itaú. Mas se afaste, pelo menos por enquanto, dos papéis do Santander.

Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

Compartilhe

Mais de Thiago Salomão

Thiago Salomão

Os 6 rounds do histórico embate entre Marcio Appel e Rogério Xavier

De um lado, a gestora que teve uma das ascensões mais meteóricas da história do mercado brasileiro; do outro, uma gestora de 8 anos de história que de tanto sucesso teve que "se internacionalizar"; com princípios tão diferentes e opiniões distintas de investimento, os fundadores da Adam Capital e da SPX reforçaram uma lição valiosa para o público: não existe uma fórmula mágica de sucesso no mercado, muito menos "certo" ou "errado"