As oportunidades do setor mais defensivo da bolsa: energia elétrica e saneamento

Sector Pickers

Matheus Soares

Linhas de transmissão de energia (Shutterstock)

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Se existia “uma verdade absoluta” que eu aprendi durante minha trajetória no mercado financeiro é que o setor de energia elétrica e saneamento é o mais defensivo da bolsa. E a lógica disso é simples: são empresas que fornecem serviços essenciais à população e que nunca deverão deixar de existir. Afinal, ninguém deixará de dar a descarga quando usar o banheiro ou consumir energia por longo período mesmo em momentos de crise tal como o que estamos vivendo.

Apesar do perfil defensivo que estas companhias têm (demanda mais resiliente, boa parte das receitas contratadas, baixa necessidade de investimentos em novos produtos…), é importante analisar caso a caso e ficar de olho nas decisões que permeiam o cenário político.

Para quem não se lembra, durante o primeiro mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, o governo anunciou uma redução das tarifas cobradas na conta de luz dos consumidores. Essa ‘canetada’ política fez com que as empresas do setor de energia elétrica perdessem quase R$ 40 bilhões em apenas 4 meses – a estatal Eletrobras (bem diferente do que é hoje) perdeu quase 50% de seu valor de mercado. Recordei esse fato para dizer que embora seja um setor resiliente e tido como defensivo, não podemos esquecer que, como toda ação, elas podem sofrer em tempos de volatilidade e incerteza.

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Para entender mais sobre as particularidades do setor nesse momento de crise e saber quais oportunidades podem estar surgindo, recebemos na quinta-feira (16) no Sector Pickers: Gabriel Francisco (XP Investimentos), Matheus Amorim (Navi) e Bernard Holcman (Ibiuna), todos analistas que acompanham o setor de energia e saneamento há bastante tempo.

Antes de falar sobre as oportunidades e riscos, é importante destacarmos os três segmentos que compõem o setor de energia elétrica:

Geração

Trata-se do segundo segmento menos arriscado dos três. São companhias que produzem energia de diferentes fontes (hidrelétricas, termelétricas, eólica e solar) e ganham dinheiro ofertando contratos no ambiente regulado e no ambiente livre para grandes consumidores. Empresas: Cesp (CESP6), Eneva (ENEV3), Ômega (OMGE3), AES Tietê (TIET11).

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Transmissão

É o segmento mais previsível e menos arriscado dos três. São companhias que realizam o transporte de energia produzida nos entes de geração. São os grandes linhões que vemos em estradas. Suas receitas são fixas e indexadas pela inflação por um longo período através de contratos regulados. Empresas: Taesa (TAEE11), CTEEP (TRPL4) e Alupar (ALUP11).

Distribuição

Trata-se do mais frágil entre os segmentos, pois é o elo que está mais exposto ao consumidor final. São as empresas que levam a energia aos consumidores finais e as responsáveis por toda a arrecadação do setor – toda a parte de transmissão e geração são coletados através da conta de luz. Caso ocorra aumento da inadimplência, elas serão as mais afetadas por isso. A receita da distribuidora está atrelada à sua eficiência de custos e investimento em sua rede. Empresas: Light (LIGT3) e Equatorial (EQTL3).

Diferentemente da nossa Live sobre o setor de mineração e siderurgia em que todos os entrevistados tinham como compra consensual as ações de Vale, dessa vez não tivemos nenhum consenso unânime.

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Ao longo dos 60 minutos de transmissão, os analistas discorreram sobre cada uma de suas teses preferidas de investimento, mas os insights mais legais retirados dessa aula sobre o setor ficaram por conta das opiniões divergentes sobre Sanepar (saneamento) e dos riscos de se investir agora em uma distribuidora.

Matheus foi muito claro ao dizer por que não gosta da imprevisibilidade das empresas de saneamento:

“É um setor que investe muito, paga pouco dividendos e o investimento só traz rentabilidade quando temos uma revisão tarifárias justa. Para que os investimentos façam sentido, é preciso um aumento substancial das tarifas. E daí surgem as incertezas: essas companhias passarão por uma revisão tarifária em 2021 ou, caso atrase, em 2022. Por serem empresas estatais e tendo em vista anos difíceis pela frente (devido à coronacrise), será possível vermos revisões tarifárias relevantes? Em caso de inadimplência, será que o governo apoia medidas contra consumidores inadimplentes? Além do que em 2022 é ano em que governadores vão tentar se reeleger ou tentar a presidência. Em resumo, essas empresas ou dependem de privatização ou dos reajustes para valer bem mais do que está na tela.”

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Então não vale a pena investir no setor? Para o Matheus, não. Já para Holcman da Ibiuna e Francisco da XP, a resposta é sim para a Sanepar, a empresa de saneamento do Paraná. “Quando olhamos para o valo das companhias versus o total de ativos que ela possui (chamamos isso de EV/RAB), enxergamos esse múltiplo para Sanepar em 0,55 vezes, ou seja, valendo metade do que ela possui de ativo – as mais eficientes negociam perto de 2 vezes. Nesse valuation, o preço de Sanepar aguenta desaforo” soltou Holcman. Sanepar está muito barata, aguenta muito desaforo mesmo tendo uma gestão mais complicada”, completou Francisco.

No caso do setor de distribuição, tão importante quanto analisar a qualidade de gestão da empresa, entender a qualidade da concessão e a história do case, é analisar a relação Ebitda (capacidade de geração operacional prevista de caixa) sobre a Receita Bruta.

“Quanto maior for essa relação, menor o impacto da queda da Receita Bruta no resultado operacional. Em outras palavras, quanto mais Ebitda você tiver, maior a segurança de que a empresa conseguirá passar pela crise. Nessa métrica, Equatorial tem a relação mais alta do setor, é uma empresa ágil e, por isso, deve conter a inadimplência assim que a crise se normalizar, está acostumado a enfrentar ambientes desafiadores – detém concessões mais delicadas no Norte/Nordeste -, conseguiu ser eficiente ao longo dos anos, está treinada para esses momentos e ainda pode aproveitar desse momento para fazer aquisições. Por isso preferimos Equatorial”, disse Matheus.

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Alertando para alguns riscos, Bernard complementou: “a nossa grande dúvida é como vamos sair da crise. Será que o consumidor entender que o governo deu esse benefício de não corte de luz por algum tempo? Será que as pessoas que pagavam em dia vão continuar pagando em dia? Tem muitas dúvidas, mas isso uma hora vai se normalizar.”

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Matheus Soares

Matheus Soares é analista da Rico Investimentos e um dos responsáveis pela Carteira Rico Dividendos 8+