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Tenha foco no amanhã, não no hoje

Se investir é uma questão de longo prazo, então comece a se ater às perspectivas, e não àquilo que já está precificado nos ativos
Por  Guilherme Cadonhotto
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Talvez você não saiba, mas, na maioria esmagadora das vezes, você não deve tomar decisões de investimento com base nas manchetes dos jornais, revistas e principais veículos de comunicação.

O que vira manchete, notícia e bomba nas redes provavelmente já foi analisado, previsto e incorporado nos preços dos ativos disponíveis no mercado. Alguns exemplos:

Brasil tem a maior alta do desemprego em um único ano em 2020

Petrobras vê elevação no lucro mesmo com cenário econômico complexo no país

Juros no Brasil voltam a subir

Queda do PIB em 2020 marca pior ano para o país em décadas em termos de atividade

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Investidores desavisados, ao lerem essas notícias, tanto positivas quanto negativas, tendem a tomar decisões de investimento no calor da emoção. Lê uma notícia negativa, retira seu dinheiro de ativos de risco. Lê uma notícia de lucro crescente em uma empresa ou de atividade do país acelerando, corre logo para a Bolsa.

Entretanto, deixam de olhar um fator extremamente importante ao se investir: as expectativas.

De nada adianta uma empresa apresentar um lucro mais alto do que no ano anterior se a expectativa dos analistas de investimento era de um lucro ainda maior – ou seja, o resultado decepcionou mesmo que tenha crescido de um ano a outro.

Também não importa muito se a atividade em 2020 apresentou a maior queda nas últimas décadas no Brasil e no mundo, sendo que economistas já esperavam esse cenário em abril de 2020.

Os impactos decorrentes de uma notícia ou já foram incorporados ao preço do ativo ou serão quase que instantaneamente incorporados se a divulgação for uma surpresa para os economistas e analistas de investimento.

Foi o caso da alta de juros da semana passada, que elevou a taxa Selic de 2% para 2,75% ao ano, contra uma expectativa do mercado de 2,50%, ocasionando a uma elevação dos juros futuros no Brasil instantaneamente.

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Três razões e um agravante

Nas últimas semanas, observamos uma piora no preço dos ativos no mercado brasileiro que atingiu principalmente títulos de renda fixa. Isso se deve a basicamente três fatores e um agravante, que foram e ainda continuam sendo bastante noticiados.

O primeiro foi a elevação de juros nos Estados Unidos, os quais influenciam os juros de outros países, incluindo os do Brasil. O segundo foi a preocupação com nossa situação fiscal, ou seja, com o nível da nossa dívida pública e uma possível continuidade do descontrole dos gastos do governo.

O terceiro foi uma alta da expectativa de inflação para os próximos meses, impulsionada pela alta do dólar recentemente.

Como se tudo isso já não fosse suficiente, intensificou o movimento de piora o fato de o Brasil estar atravessando o momento mais crítico da pandemia desde o início da crise sanitária, iniciada em março de 2020.

Mas sem levar em conta as últimas semanas ou as próximas, vamos tentar imaginar como o Brasil estará no fim do ano – afinal, situação fiscal complicada, pressão da inflação nos próximos meses e crise sanitária ao longo das próximas semanas já sabemos que vão continuar presentes nos noticiários.

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Se pensarmos nos três fatores que levaram à piora dos ativos brasileiros, no fim do ano, sua percepção de riscos quanto à nossa situação pode melhorar. E é nesse horizonte que você deve mirar, e não nos próximos dias.

E como a situação fiscal brasileira deverá se desenrolar nos próximos meses até o fim do ano?

A PEC Emergencial, que cria um arcabouço fiscal robusto para o país, foi aprovada pela Câmara dos Deputados há apenas duas semanas. O cenário de inflação deve apresentar alívio até o fim do ano, já que o Banco Central iniciou o ciclo de alta de juros na semana passada.

E a situação pandêmica, que hoje atravessa seu pior momento, deve estar bem mais encaminhada, uma vez que observamos o número crescente de vacinação da população e já temos contratada uma quantidade de vacinas maior do que o número de habitantes para 2021.

Mas o fato é que você não vai ver essas informações nas principais manchetes dos veículos de comunicação. Por isso, precisamos pensar um pouco fora da caixa – e, inclusive, a piora recente dos mercados pode até se traduzir em oportunidade para aumentar um pouco o risco da sua carteira.

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Lembre-se: risco e oportunidade andam de mãos dadas. Dificilmente você encontrará a possibilidade de realizar algum ótimo investimento em um momento tranquilo de mercado.

Guilherme Cadonhotto Especialista em renda fixa da Spiti, técnico em Administração de Empresas e bacharel em Economia. Atuou na mesa de operações como trader de renda fixa na SulAmérica Investimentos e como analista de investimentos na asset da Porto Seguro. Acredita que simplicidade e bom humor, sempre presentes em suas publicações e vídeos, são essenciais para tornar a informação e a compreensão dos conteúdos de investimentos mais acessíveis a todos.

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