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Quem descobriu a Bolsa brasileira?

O brasileiro está conhecendo a própria bolsa, em um movimento em direção ao amadurecimento do mercado de investimentos
Por  Pietra Guerra -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A democratização dos investimentos trouxe também mais informações sobre o novo perfil do investidor brasileiro. A chegada dos quase 2 milhões de CPFs na bolsa local, a B3, entre 2020 e 2021, traz um perfil cada vez mais heterogêneo e confirma a tese de que para investir não é preciso ser rico, muito menos fazer disso a única atividade do seu dia.

Segundo a pesquisa completa que a B3 soltou no final de 2020, 63% dos entrevistados que chegaram à B3 entre 2019 e 2020 trabalham em tempo integral, ou seja, investir é uma atividade que incorporaram na sua rotina. Assim como separamos um tempo para estudar, nos alimentar, cuidar da saúde e fazer exercício, temos também o compromisso pessoal de cuidar do nosso dinheiro e investir nossos recursos.

Isso me lembra uma das principais lições de um dos títulos favoritos sobre princípios de investidores “pague a si mesmo primeiro”, de Robert Kiyosaki em seu livro “Pai Rico Pai Pobre”. Basicamente, o autor defende que os cobradores farão o serviço de te pressionar a cumprir suas obrigações com os outros, e isso te motivará a atendê-los. Se deixar os seus compromissos pessoais para depois, pode ser que falte tanto tempo quanto dinheiro.

Vale lembrar que a mensagem aqui não é de forma alguma ficar devendo na praça, mas sim priorizar os seus compromissos com os seus investimentos da mesma forma que os compromissos com terceiros.

Outro dado interessante divulgado pela B3 é que 56% dos novos investidores têm renda média de até R$ 5 mil/mês e o valor do primeiro investimento caiu 58%, saindo de R$ 1.916, em outubro de 2018, para R$ 600,00, em outubro de 2020.

Combinado com esse dado, vemos que os mais jovens entram na bolsa com valores menores ainda. Em outubro de 2020, o valor médio era de R$ 225 entre os investidores entre 16 e 25 anos de idade.

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Se esses dados trazem os investimentos para mais perto do seu dia a dia, mas você ainda não é um dos novos entrantes, deve estar se perguntando agora qual será seu primeiro investimento na bolsa de valores.

Dentre as alternativas, as ações formam a classe de ativos mais conhecida. Como analista, se puder dar uma sugestão na escolha dos seus primeiros investimentos focados em longo prazo, sugiro começar por um mercado ou uma empresa que você conheça.

Conhecer o produto ou o serviço em que você está colocando o seu dinheiro torna qualquer investimento mais tangível. Saber a dinâmica de mercado que o produto ou serviço está inserido é parte importante da análise.

Por exemplo, os arquitetos normalmente conhecem as empresas de materiais de construção e têm, no seu dia a dia, um termômetro do mercado imobiliário. Muitos médicos vivem a dinâmica de aquisições que estamos vendo entre as operadoras de saúde e sabem na prática qual o potencial de cada negócio. Quem trabalha no setor de varejo vê a cada dia a lei da oferta e demanda acontecendo, sentindo na pele as mudanças nos hábitos de compra dos consumidores e conhecendo quais produtos são mais bem aceitos.

Quando você transporta todo esse conhecimento para o mundo dos investimentos, vê que as coisas se conversam. As análises das ações trazem toda essa dinâmica do mundo real aplicada para a perspectiva de potencial valorização do negócio.

Entender como as coisas se relacionam facilita a análise financeira. Isso independe se você é o analista que vai fazer as projeções ou o investidor pessoa física que vai buscar a opinião de um especialista. Nos dois casos, ter familiaridade com a empresa vai facilitar a compreensão da análise.

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A pesquisa da B3 também nos mostra que o acesso à informação sobre investimentos está cada vez mais democratizado. 73% dos entrevistados responderam que aprenderam a investir em canais de YouTube ou através de influenciadores.

Neste tópico, vale um ponto de atenção: existe muita informação disponível, então é importante filtrar as informações de qualidade. Diversos analistas respaldados pelo mercado disponibilizam as suas opiniões sobre diferentes ações de graça em redes sociais.

Assim, se você já escolheu uma ação que conhece, de uma empresa que você entende o que faz e vê uma perspectiva positiva para aquele negócio no médio e longo prazo, a opinião de um especialista sobre a análise financeira daquele investimento pode ser o que estava faltando para completar a sua tomada de decisão de uma maneira que você entenda por que investiu, ou não, naquela ação.

Resumindo, quem está descobrindo a bolsa brasileira é o próprio brasileiro. Esse movimento é um caminho cada vez mais sólido em direção ao amadurecimento do nosso mercado de investimentos, trazendo o acesso à informação de forma democrática e tornando o perfil do investidor mais plural.

Por fim, a pesquisa da B3 também mostra que os investidores individuais pensam em investir com foco no médio e longo prazo, entendendo o risco de cada investimento e buscando diversificação.

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Ou seja, esse caminho está só no começo. Ainda há muito a ser desbravado nesse território enorme e cada vez mais cheio de possibilidades que é a bolsa brasileira.

Pietra Guerra Pietra Guerra é especialista em ações da Clear Corretora. Antes disso, trabalhou no Itaú BBA, na asset do banco francês BNP Paribas, no Bank of America Merrill Lynch e na trading de commodities Olam International Limited. É formada em administração de empresas pela Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA-USP) e tem especialização no mercado financeiro pela Saint Paul Escola de Negócios

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