Não importa o momento: diversificação é necessidade

Em 2020, a crise fez crescer ainda mais a dúvida sobre se valeria a pena investir no exterior. Neste ano, o receio é acerca do porquê fazer isso se o dólar pode se desvalorizar. A questão não é o momento, mas, sim, a necessidade de diversificação
Por  Francine Balbina -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Nesta época do ano, em 2020 – mais precisamente logo após o Carnaval –, explodiam os casos do novo coronavírus pelo mundo. O vírus não era mais somente um “problema” da China; casos eram confirmados no Brasil, e a Bolsa de Valores aqui caía sem parar, assustando até os investidores profissionais e gestores de recursos que nem em suas análises de cenários de máximo estresse poderiam prever uma pandemia de tal proporção.

No ápice da crise, investidores que tinham proteções na sua carteira de investimentos, como ouro e dólar, conseguiram dormir um pouco mais tranquilos, sabendo que realmente esses ativos na carteira estavam funcionando e que, em momentos de estresse de mercado, eles tendem a performar bem.

E passamos o restante do ano de 2020 vendo o aumento do interesse de investidores e investidoras pessoas físicas no Brasil por investimentos em dólar. As perguntas que eu mais ouvia eram: como faço para abrir uma conta em uma corretora estrangeira? E quais são os fundos de investimento com alocação no exterior sem hedge? – isso quer dizer com exposição ao dólar.

Agora aqui estamos em 2021, e desde o comecinho deste ano eu tenho recebido outro tipo de questionamento: por que eu deveria investir no exterior já que a grande maioria dos economistas apostam em um dólar levemente enfraquecido ao menos neste ano? Nesse caso, acho menos arriscado investir tudo no Brasil, por que eu deveria pensar em investir no exterior?

Hoje, quero contar por que é interessante ter investimentos fora do Brasil e por que posso te garantir que isso vai muito além somente da questão de o dólar servir como proteção de carteira, principalmente em momentos de estresse de mercado.

A questão aqui é que, no exterior, existe uma gama de oportunidades muito maior, e que, sim, no cenário atual, que é também uma questão de necessidade.

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A globalização apresenta novas realidades: em um mundo globalizado, em que pessoas viajam mais, compram produtos estrangeiros com frequência e podem viver, trabalhar ou estudar no exterior, além de ter diversos custos atrelados ao dólar, a diversificação global é ainda mais importante, ou seja, é uma questão de balancear ativos e passivos.

Se a maior parte dos nossos gastos está conectada à moeda estrangeira (eletrônicos, eletrodomésticos, viagens internacionais), mas nossos ativos estão atrelados ao real (imóveis, salário, investimentos etc.), existe um “desacerto” na balança que une ativos e passivos. Dessa forma, você pode olhar para os investimentos feitos no exterior como uma estabilização imediata entre as duas partes.

Já que somos tão globalizados na maneira como vivemos, por que não ser com nossos investimentos?

Se você ainda não está convencido ou convencida disso, trago aqui algumas outras razões do porquê investir no exterior é importante para sua carteira de investimentos:

Proteção contra desvalorização da moeda e inflação: o real vem mostrando uma incrível volatilidade; os investimentos ligados à moeda local estão expostos a mais riscos. Investir em moedas fortes como o dólar, por exemplo, serve de hedge, ou seja, protege os investidores do impacto da inflação local e das flutuações das taxas de câmbio – como vimos exatamente um ano atrás.

Risco-Brasil: ter um portfólio diversificado no que diz respeito às classes de ativos permite reduzir o risco total sem sacrificar os retornos no longo prazo. E a mesma ideia é verdadeira quando se trata de regiões geográficas. Portanto, investir no exterior significa proteger o seu patrimônio. Sem falar em proteção contra eventos de choque, como foi o caso da greve dos caminhoneiros, o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, as trocas de ministros ou qualquer outro evento político que o país enfrentou ou possa vir a enfrentar.

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Mais oportunidades: o PIB do Brasil representa aproximadamente 2,5% do PIB mundial, e o mercado de ações brasileiras, apenas 1% do mercado de ações globais. Já parou para pensar em quantas oportunidades de investimentos você pode estar perdendo?

Maiores retornos no longo prazo: a Morningstar realizou um estudo no começo de 2020, olhando apenas três fatores: retorno, perda máxima e volatilidade.

Nos últimos cinco anos, a perda máxima cai de -28,14% no Ibovespa para -7,42% num portfólio 50/50, ou seja, que investe 50% em Ibovespa (Ibov) e 50% no S&P 500. A volatilidade diminui de 26,33% ao ano no Ibovespa para 16,78% no portfólio balanceado, e o retorno fica 18,86% do Ibov em cinco anos versus 20,08% do portfólio S&P/Ibov.

O mais interessante é que ele mostra claramente o quanto o seu portfólio de Bolsa pode melhorar quando adiciona investimento em uma Bolsa internacional. Fica bem claro aqui que você não abre mão de retorno quando adiciona mercados internacionais à sua carteira de investimentos.

Diversificação: quando você divide a alocação dos seus recursos em uma gama maior de aplicações, você acaba por proteger seu capital contra possíveis perdas. Quanto maior for sua diversificação de carteira, menos volátil ela será. No caso do investimento no exterior, você minimiza essa perda quanto ao real, que pode se desvalorizar a qualquer momento.

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Existe um mundo de oportunidades lá fora (literalmente). Os mercados internacionais, em especial o norte-americano, apresentam uma gama extensa de empresas com nomes conhecidos em todo o mundo, com mais tempo de existência e com mais informações disponíveis.

Para se ter uma ideia, temos hoje cerca de 400 empresas listadas na Bolsa brasileira e em torno de 5.400 empresas listadas nas Bolsas americanas. Sem falar na variedade de estratégias em setores como tecnologia, impacto ou ESG (empresas com melhores práticas ambientais, sociais e de governança).

Por aqui, estávamos acostumados a elevadas taxas de juros – afinal, o Brasil por muitos anos teve a maior taxa real de juros do mundo. Isso quer dizer que nunca tivemos incentivos legítimos para buscar diversificação, portanto, não havia estímulos para investirmos além da renda fixa e dos títulos públicos. Com a Selic na mínima histórica, agora somos forçados a migrar para ativos de maior valor agregado, que tragam maior rentabilidade. E a internacionalização do portfólio faz parte desse processo.

Ray Dalio, famoso investidor, gestor de recursos da Bridgewater Associates, a maior gestora de hedge funds do mundo, e autor do livro Princípios, ressalta sempre a importância de se ter pelo menos dez ou 15 investimentos não correlacionados na carteira e afirma: “diversificação é necessidade”.

Quando fala de diversificação de recursos, Dalio se refere a estratégias diferentes, setores diferentes, países diferentes e moedas diferentes. E ressalta: “O primeiro passo é começar a diversificar”.

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E quem somos nós para discordar de Ray Dalio, não é verdade?

Abraços,

Francine Balbina

Francine Balbina Especialista em investimentos globais da Spiti, formada em Relações Internacionais e pós-graduada em Consultoria Empresarial. Tem 15 anos de experiência em prestação de serviços de governança e compliance para gestores de investimentos independentes, assets, bancos, family offices e investidores institucionais globais. A expertise adquirida nos anos em que viveu nas Ilhas Cayman e em Nova York, bem como sua atuação na Irlanda, Luxemburgo, Londres, EUA, Hong Kong e Cayman são sua fonte de inspiração para trazer conteúdo que cobre todo o mercado financeiro internacional.

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