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A carteira de investimentos do jardim de infância

Investir bem não tem apenas como pré-requisitos experiência profissional de quem investe ou a escolha de estratégias sofisticadas. Há um fator decisivo que vai além...
Por  Guilherme Cadonhotto -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Na semana passada, comecei a ler um livro que foi eleito uma das melhores obras sobre negócios de 2018 pela Bloomberg e pelo Library Journal.

Você se engana se acredita que vou falar sobre mais um livro totalmente focado em investimentos, um livro do Nassim Taleb, do Howard Marks ou até mesmo do Ray Dalio. Não.

Desta vez, o assunto é bem mais leve.

Como líder da equipe de Renda Fixa na Spiti, procurei me aprofundar um pouco mais no tema de gestão de equipes com uma das obras mais conceituadas até então em formar uma cultura forte em um time.

O livro em questão chama-se Equipes Brilhantes, do jornalista e editor Daniel Coyle. Nele, o autor busca entender como grandes equipes de sucesso trabalham e como elas formam sua cultura – este, do ponto de vista dele, é o principal fator na hora de verificar as equipes e empresas que mais prosperaram no mercado norte-americano.

O fator interessante é que ele vai muito além das empresas e acompanha a trajetória, ao longo de vários anos, de um time de basquete, uma unidade militar especial, uma escola pública da periferia, um time de comediantes e, acredite ou não, até mesmo de uma gangue de ladrões de joias.

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Coyle conclui que o sucesso de cada uma dessas unidades está muito mais ligado à cultura da equipe do que necessariamente à soma das habilidades técnicas de seus indivíduos.

Em um de seus experimentos para verificar o poder de uma cultura forte para o desenvolvimento de uma tarefa por um determinado time, o autor separa alguns grupos formados por pessoas de perfis muito distintos e lhes fornece os mesmos materiais para a execução de uma simples tarefa: construir a maior torre de macarrão possível.

Para a execução dessa tarefa, cada equipe tem direito aos mesmos materiais:

– 20 unidades de espaguete (cru, obviamente);
– 1 metro de fita adesiva;
– 1 metro de barbante;
– 1 marshmallow.

A única regra do exercício era que o marshmallow deveria ficar no topo da estrutura.

Mas o experimento não era em si o fator mais interessante. O fato é que as equipes eram formadas por grupos de alunos de pós-graduação em administração, advogados, CEOs de empresas e, pasmem, crianças do jardim de infância.

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Se eu pedisse que você chutasse quais as estruturas foram as mais altas, em média, provavelmente você apostaria em qualquer grupo, exceto o grupo de crianças do jardim de infância.

Mas o fato é que as estruturas construídas pelas crianças atingiram, em média, uma altura de 66 centímetros. Enquanto isso, as torres dos estudantes de pós-graduação não conseguiram atingiram uma altura média maior que 25 centímetros.

Além dos estudantes da pós, as crianças deixaram para trás os advogados, com uma altura média de 38 centímetros, e até mesmo os CEOs de empresas, com 55 centímetros.

Parece inacreditável, não é? Mas, acredite, é verdade. Além disso, estamos aqui falando de médias, ou seja, os experimentos não foram feitos uma única vez nem somente por um único grupo de cada uma das “categorias”, o que significa que as crianças realmente foram muito melhores em resolver esse problema complexo, sem qualquer conhecimento de matemática ou de engenharia e sem qualquer experiência de trabalho em grupo.

Aqui eu me desculpo com você, porque eu não vou te contar a razão pela qual o autor acredita que as crianças têm um desempenho melhor do que o muitos adultos ditos “mais qualificados” – você vai precisar ler o livro, e, acredite, você vai me agradecer.

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Mas o fato é que o experimento me lembrou de uma outra atividade que, do meu ponto de vista, as crianças tendem a desempenhar melhor, e, tenho certeza, você vai ficar ainda mais surpreso ou surpresa.

Crianças e jovens adolescentes podem montar carteiras de investimentos mais eficientes do que advogados, alunos na pós-graduação e até mesmo CEOs. Duvida?

Bom, aqui eu me refiro a um ponto muito específico; uma carteira eficiente, como diria o dicionário, é uma carteira que se caracteriza pelo poder de produzir um efeito real. Ou seja, uma carteira real criada por uma criança pode ter um poder de trazer um resultado maior do que uma carteira criada por profissionais.

E isso pelo simples fato de que a carteira de uma criança, ou de um adolescente, tem o maior dos fatores ao seu favor: o tempo.

Quanto maior o tempo disponível para uma carteira de investimentos render, maiores são os seus resultados no longo prazo.

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Para te provar isso, fiz o seguinte exercício: se crianças escolhessem ações, títulos de renda fixa e fundos imobiliários presentes nos principais índices de cada segmento no mercado brasileiro, elas poderiam alcançar uma rentabilidade média de 8% ao ano.

E não estou exagerando. Hoje, um título público prefixado de longo prazo paga um retorno bem próximo a esse. É de se esperar que as ações e fundos imobiliários presentes nos principais índices brasileiros, como Ibovespa e Ifix, apresentem retorno semelhante no longo prazo.

Se essas crianças – vamos supor que tenham 10 anos – escolherem aleatoriamente esses ativos e quiserem se aposentar com 50 anos, elas terão um prazo de 40 anos para ver o seu dinheirinho ir crescendo.

Do outro lado estou eu: especialista em investimentos, dez anos de mercado financeiro, gestão de fundos de renda fixa, multimercados e carteiras de investimentos de grandes gestoras brasileiras.

Vamos supor que, no longo prazo, eu consiga uma rentabilidade média anual de 20% ao ano. Ou seja, muito superior ao dobro do que a carteira aleatória das crianças. Porém, eu tenho 30 anos e quero me aposentar com 50 anos: portanto, tenho apenas mais 20 anos para que meu dinheiro continue crescendo.

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Se considerarmos valores iguais de aportes, a carteira das crianças entregará um retorno mais do que 30% superior à minha carteira, e isso porque o tempo que o dinheiro fica investido pesa muito, muito mesmo nas suas decisões de investimento.

Eu disse tudo isso e citei todos esses estudos para que você entenda a importância de começar a investir o quanto antes, não importa se não investiu quando tinha 10, 20 ou 30 anos. O importante é que você comece agora, pois o tempo é o seu maior aliado.

Claro que, diferentemente do estudo realizado por Daniel Coyle, não estamos colocando os investidores, as crianças e os especialistas com as mesmas condições de tempo e material – mas esse é justamente o meu ponto.

Ao contrário dos analistas especialistas, você pode possuir algo tão importante quanto seu conhecimento: o tempo.

Não precisa necessariamente entender muito de investimentos, nem escolher os melhores entre os melhores investimentos. Isso porque, no fim das contas, um dos fatores mais importantes para que o seu dinheiro renda é o tempo. Quanto antes você começar, mais forte vai ser o efeito dele sobre seu patrimônio investido.

Por isso hoje eu dou o nome à carteira dos que começam investir cedo, sem grandes e geniais análises, mas também evitando grandes riscos, de “a Carteira do Jardim de Infância”.

Ela pode não te surpreender agora, mas com certeza, no longo prazo, pode fazer frente às posições de economistas, advogados e até de grandes gestores de investimento.

Um abraço,
Gui Cadonhotto

Guilherme Cadonhotto Especialista em renda fixa da Spiti, técnico em Administração de Empresas e bacharel em Economia. Atuou na mesa de operações como trader de renda fixa na SulAmérica Investimentos e como analista de investimentos na asset da Porto Seguro. Acredita que simplicidade e bom humor, sempre presentes em suas publicações e vídeos, são essenciais para tornar a informação e a compreensão dos conteúdos de investimentos mais acessíveis a todos.

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