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Capitão, mar revolto à vista!

Segundo semestre do ano trará dois temas que devem gerar boa dose de preocupação na economia
Por  Luiz Fernando Figueiredo -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Estamos nos aproximando do segundo semestre e já dá para antecipar dois temas relevantes do período que nos trarão uma boa dose de preocupação: a troca do presidente do Banco Central (BC) e o orçamento para 2025.

O BC tem reduzido a taxa Selic a passos de 50 pontos base por reunião desde agosto de 2023. A última decisão chamou a atenção pelo fato de a organização ter alterado para o singular sua comunicação no trecho “próximas reuniões”.

Existe uma chance razoável de o clima ficar um pouco mais barulhento entre a autarquia e o governo, caso o BC reduza o ritmo de corte para 25 pontos base a partir da reunião de junho. Lembremos que a própria Fazenda não recebeu bem a notícia dessa alteração.

Esse clima pode piorar as perspectivas de uma suave sucessão da presidência do BC. Roberto Campos Neto cumpre mandato até o final de dezembro e, ao que tudo indica, o nome favorito para ocupar a sua cadeira é Gabriel Galípolo.

De fato, estamos observando que o diretor de política monetária está fazendo mais aparições – podendo ser uma maneira de deixar Galípolo mais envolvido com o mercado, fazer o reconhecimento do território e, consequentemente, aumentar a credibilidade da sua figura.

Do lado de Campos Neto, o caminho deve ser o mais suave, gradual e cooperativo possível. Ele tem dito que quer uma transição bastante suave e gradual e, por esse motivo, especula-se que o nome do próximo presidente do BC seja decidido perto do mês de outubro ou novembro, para, em seguida, já passar pela sabatina no Senado.

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O tema da sucessão no BC gera alguma preocupação e, com isso, é razão para as expectativas de inflação estarem parcialmente desancoradas.

Muito provavelmente, existe uma parcela de prêmio nessas expectativas pela incerteza quanto a postura de Galípolo na presidência, sua liderança e capacidade de tocar esta entidade tão relevante.

Para termos uma ideia, as expectativas de 2025 e 2026 estão praticamente estáticas em 3,5% desde julho de 2023, mesmo com todo o alívio e surpresas positivas que vimos na inflação corrente.

Outro aspecto relacionado a essa mudança na presidência do BC é a continuidade com o atual ímpeto da agenda de modernização e competição do sistema financeiro, que a autoridade monetária tem tocado de forma tão competente e firme. Nesse caso, Roberto Campos Neto não é só o líder, mas é quem também puxa essa agenda.

O segundo assunto que também é fonte provável de preocupação do segundo semestre é o orçamento do ano que vem.

Já comentei em outro artigo sobre o imbróglio de uma boa parte relevante das receitas adicionais de 2024 terem caráter não recorrente em 2025 e, conforme temos visto, está cada vez mais difícil ampliar receitas via aprovação no congresso. Elas estão se exaurindo.

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As conversas sobre contingenciamento e eventual alteração da meta fiscal têm sido bem minimizadas por membros do governo.

A realidade é que estamos vendo um otimismo exacerbado com a arrecadação. Com isso, o governo não quer nem discutir o assunto de contingenciamento de gastos. Mas acredito que o resultado dos próximos relatórios bimestrais de despesa e receitas serão cruciais para guiar a conversa.

Da mesma forma, o governo também puxa o otimismo para o crescimento. Haddad já disse acreditar em um PIB próximo de 3,0% neste ano.

O próximo semestre será recheado de questões importantes, sem falar de toda a regulamentação da reforma tributária.

Mais do que ficar em pânico com a queda da aprovação do governo e sua popularidade, o governo deveria focar em como fazer para melhorar a questão fiscal, seja o lado das receitas ou das despesas.

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Como dissemos em outro artigo: “O Brasil não é para principiantes”.

Este artigo teve a co-autoria do economista da Jive Mauá Luan Takada

Luiz Fernando Figueiredo Presidente do Conselho de Administração da Jive Mauá. Com passagens pelo JP Morgan e BBA, foi diretor do Banco Central. Em 2005 fundou a Mauá Capital, após a cisão da Gávea Investimentos. É economista e fundador do Instituto FEFIG.

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