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O barato pode sair caro: uma reflexão sobre a bolsa americana e o esquizofrênico “Sr. Mercado”

Não investir parte do seu patrimônio nas bolsas dos EUA é negligenciar o óbvio
Por  Lucas Collazo -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Caros(as) leitores(as),

Nossas rotinas diferem, mas imagino que o tempo seja uma matéria prima escassa para todos nós. Temos as mesmas 24 horas para distribuirmos entre as mais diversas atividades. A sensação sempre é de que muitos problemas seriam solucionados se fosse possível conquistar uma reserva extra de tempo.

Essa escassez faz com que alguns movimentos passem batidos, tendo menor relevância diante de nossos olhos e ouvidos. Um deles é o fato de o “Sr. Mercado”, apelido carinhoso que damos ao comportamento dos preços dos ativos e expectativas, demonstrar algum grau de esquizofrenia.

Recentemente, o Banco Central do Japão (BoJ) encerrou uma era de juros negativos que durou 17 longos anos, ao subir sua taxa básica de -0,1% ao ano para +0,1%. O país era o último restante entre aqueles que já adotaram juros negativos. Com isso, o estoque de títulos de dívidas globais com juros negativos, que chegou a US$ 18 trilhões em 2020, praticamente desapareceu do globo.

Enquanto isso, a Zona do Euro parece caminhar para uma recessão econômica, com sinais de fragilidade de sua principal economia, a Alemanha. Um resultado que talvez seja fruto de um comportamento mais severo de seu Banco Central (BCE), que foi mais “duro” na condução da política monetária.

O processo de queda de juros, seja nos EUA ou aqui no Brasil, é paulatino e gera ansiedade naqueles que esperam pelo nascer do bull market. Os índices das bolsas americanas, especialmente aqueles com pesos relevantes em ações de empresas ligadas à tecnologia, renovam suas máximas.

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O Brasil se destaca negativamente em retornos. O MSCI Brasil, índice de ações brasileiras em dólares, é o pior ativo do ano até o presente momento. O mesmo acontece quando comparamos o ETF (Exchange Traded Fund) de Brasil com os demais países latino-americanos, onde também estamos na “lanterna” dos retornos em 2024.

Temos duas tristes guerras ocorrendo simultaneamente, além de países com situações fiscais deprimentes e extremamente preocupantes. Ainda teremos eleições nos EUA, que parecem ser palco para um embate caloroso entre Joe Biden e Donald Trump. Isso sem falar nas mudanças de oferta com o isolamento chinês e as dúvidas econômicas que a própria China levanta, enquanto “incuba” uma possível invasão a Taiwan, que pode acontecer mais adiante.

Que loucura, meus amigos, que loucura.

Aqueles que acompanham meus textos há mais tempo sabem que não tenho a pretensão de poetizar cenários. Minha preocupação e missão são bem simples: onde está seu dinheiro e como eu te ajudo com ele.

Dito isso, uma conversa entre dois investidores(as), na realidade, é um debate sobre horizonte de investimento. Uma estratégia ou um ativo pode ou não fazer sentido na sua carteira partindo do prazo com o qual você planeja investir.

Tento me afastar das discussões de curto prazo, respeito muito todos aqueles que acreditam nas oportunidades mais curtas. Mas preciso exercitar minha humildade intelectual e admitir que não sou bom nesse jogo. Minha conversa se direciona ao longo prazo e a todas as pessoas que investem com esse olhar.

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Acredito na bolsa brasileira, bem como nas empresas que são listadas por aqui. Acredito que exista muito desconto em alguns papéis, mas não consigo consolidar uma visão estruturalmente otimista.

Verdade seja dita: o Brasil não cresce, possui problemas sérios com dívida pública e apresenta juros reais extremamente elevados para os padrões globais. Os argumentos positivos para a nossa bolsa permeiam a queda dos juros. Acredito de fato que exista valor a ser extraído disso – mas quanto? A bolsa vai dobrar de preço ou vai subir mais um “pouco”? Entre as duas opções, fico com a segunda.

Claro que setores como infraestrutura, bancos, agro e commodities podem apresentar boas opções de investimento, mas nada muito além disso, na minha opinião. Agora, quando falamos de longo prazo, alguém aqui ainda duvida que a tendência do mundo é a tecnologia?

Negócios digitais, inteligência artificial, computação em nuvem, desenvolvimento de softwares, semicondutores, e assim por diante. O mundo deve convergir para essa direção e as empresas líderes desses segmentos vão aspirar o lucro do planeta, com uma presença global que rompe as barreiras geográficas.

Essas empresas estão listadas na bolsa dos EUA. Por isso, não investir parte do seu patrimônio por lá é negligenciar o óbvio – claro que sempre respeitando seus limites de risco. Não, eu não acho que o S&P 500 seja a maior pechincha já vista. E sim, existem muitas empresas negociando a múltiplos que não consigo encarar, como a Nvidia, por exemplo.

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A taxa de fluxo de caixa livre do S&P está próxima de 4%, a média histórica. Na bolha “ponto com” nos anos 2000, ela era de 2%. O prêmio de risco das ações normalizado pela volatilidade dos lucros do índice, uma métrica que pode ser utilizada para entender o valuation (valor justo) da bolsa, também está próximo da média histórica.

Acredito na diversificação inteligente do patrimônio e ainda acho que ser sócio de bons negócios a bons preços é uma das formas mais “fáceis” de enriquecer no longo prazo. Dito isso, seja sócio no Brasil, mas fora dele também.

Lucas Collazo Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney

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