Por que eu só invisto em ações

Muitos brasileiros que conseguiram acumular capital são impregnados de uma mentalidade "rentista": vivem na ilusão de que dinheiro emprestado sempre cresce e corre menos risco do que dinheiro investido nas empresas
Por  Guilherme Affonso Ferreira -
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Fui criado num ambiente em que os valores fundamentais eram a ética e o trabalho. A luta pelo “pão nosso de cada dia” era uma imposição. Meu pai era um grande defensor disso. Depois de formado, ele se mudou para o Meio Oeste americano, onde imperam fortemente os valores protestantes de ética e trabalho. E se encontrou por lá. Anos mais tarde, tornou-se revendedor da fabricante de máquinas e veículos pesados Caterpillar.

Na minha família, acordar cedo e trabalhar duro era o que caracterizava a vida digna. O acúmulo de capital era aceitável, desde que ele tivesse um sentido maior para a sociedade, como a geração de empregos.

Com tudo isso na bagagem, a Bolsa de Valores tinha para mim um forte componente de especulação. Era a antítese do trabalho digno.

Mas, quando procurei entender como a Bolsa funciona, me dei conta do ambiente gerador de riqueza e do progresso que ela propicia. Fui atraído pelo aspecto de direcionamento dos capitais para as atividades geradoras de bem-estar humano e pelo princípio democrático em que esses capitais se alinhavam.

Passei a ver a ação de uma empresa como a fração ideal de um negócio e como algo que me permitia julgar os méritos do produto, a qualidade da gestão e outros aspectos. Tudo isso me propiciavam uma ponderação que, no final, resultava no valor que atribuía àquela ação, sempre confrontado com o valor que outros atribuíam à mesma ação. Esse era o pano de fundo das negociações!

O valor que eu atribuía a cada uma das ações que analisava era só o começo daquele universo que aprendi a admirar. Estabeleci algo que todo investidor faz naturalmente, que deveria haver uma diferença substancial entre o preço de compra da ação e quanto ela poderia valer mais adiante.

Sem desprezar o aspecto passivo de ver minhas “crenças” realizadas, acrescentei o “ativismo” como ideal de conduta. O “ativismo”, para mim, é identificar o que uma empresa precisa fazer para ter “dias melhores” e trabalhar ativamente neste sentido.

Para que não fique mal-entendido o que quero dizer: muitas vezes, o “ativismo” se traduz na resiliência de enfrentar os mares revoltos e aguardar a melhora do tempo. Em outras ocasiões, significa ajudar a deslanchar iniciativas que seriam fundamentais para mudar o cenário.

Por mais que as coisas ditas acima possam parecer óbvias, tem sido inacreditável acompanhar o número de vezes em que os sonhos e ambições tombam pelo caminho. A resiliência chega a ser confundida com inclinação pelo risco. Mas penso o contrário: o conservadorismo que advém do acumulo de capitais, o “medo de perder”, é que causa mal ao homem.

Em futuros artigos pretendo falar de casos vividos na Bolsa, muitos de sucesso e alguns de insucesso, e sobre o peso do “ativismo” e da resiliência em cada um desses casos.

Diferentemente do que acontece nos países ricos, onde deter ações é algo impregnado na cultura dos indivíduos, no Brasil, as pessoas que tiveram ao longo da vida a capacidade de acumular capital (para nossa felicidade este é um contingente que vem crescendo ao longo dos anos) são impregnadas de uma mentalidade “rentista”.

Vivem na ilusão de que $ emprestado sempre cresce e corre menos risco do que $ investido nas empresas.

A Bolsa de Valores, nessa visão torta, seria uma montanha russa que só agrada a quem gosta de “emoções fortes”. Não é no que acredito.

Para minha alegria, é fato conhecido que o número de CPFs na Bolsa cresceu de 750 mil para 1,25 milhão entre julho de 2018 e julho de 2019. Um crescimento tão assombroso que torço para que tenha sido fruto de decisões, uma a uma, bem pensadas. E quero fazer o meu papel para incentivá-las. É nisso que acredito.

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Guilherme Affonso Ferreira Guilherme Affonso Ferreira é sócio-fundador e chairman da Teorema Capital. Além disso, é conselheiro de empresas como Arezzo, B3 e M Dias Branco. Foi diretor-presidente da Bahema no período em que a companhia foi acionista relevante do Unibanco (1986 a 2008) – e obteve um retorno de 50% ao ano, em dólares, com as ações do banco. Também foi conselheiro da Petrobras de 2015 a 2018, participando do programa de recuperação da companhia.

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