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Como os juros baixos podem transformar a Bolsa

A taxa básica de juros de uma economia ajuda a determinar o preço justo das ações
Por  Guilherme Affonso Ferreira -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Eu sempre baseei minhas decisões de investimento em renda variável nos fundamentos que enxergava nas empresas e nos fatores macro e microeconômicos que poderiam afetá-las.

A procura por ações que estavam depreciadas em relação ao seu “preço justo” era o que me movia. Óbvio que as empresas que apresentavam esta oportunidade viviam condições complicadas, no meu entender, que as impediam de trilhar um caminho virtuoso.

Aí começava o trabalho de “ativismo”, que procurava criar condições para que o caminho virtuoso pudesse ser alcançado. O preço de entrada e o de saída eram consequência dessas condicionantes.

A taxa de juros de uma economia tem muito a ver com o que chamo de “preço justo”. Isso porque o desconto dos lucros que a companhia vai gerar passa a ser feito por uma taxa bem menor, o que obviamente aumenta o valor presente desse “preço justo”.

Além disso, existe um segundo fator que é o fato de os lucros que esta companhia vai gerar certamente serão maiores, já que haverá uma economia dos juros a serem pagos pela parcela de endividamento.

Mesmo que esse endividamento hoje não exista, é razoável imaginar que a substituição de capital próprio (caro) por endividamento deve melhorar o retorno sobre o capital investido.

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Esse raciocínio deve ser o que vai nortear o futuro do mercado de renda variável no Brasil nos próximos anos. Companhias gerando mais lucros, e esses lucros sendo multiplicados por múltiplos maiores para definir o preço.

Desnecessário dizer que esta é a razão do meu otimismo com a Bolsa. Sei que alguns vão dizer que eu sempre fui otimista, a despeito de cenários ruins. É verdade, reconheço. Mas desta vez estou muito seguro de que meu otimismo é mais fundamentado.

A velocidade desse processo está relacionada ao ritmo com que o mercado acredite que os juros baixos vieram para durar muito tempo.

A história econômica do país nos faz duvidar dessas “benesses” que caem do céu, mas desta vez parece que os astros estão conosco. O mundo vive uma onda de juros baixos (negativos em muitos casos), e nós não ficaremos de fora.

Como ressalva, e para não orientar erroneamente o leitor, reconheço que renda variável deve oferecer um “prêmio de risco” em relação aos juros.

Embora eu não seja muito fã dessa ideia, uma ação, por melhor que seja a companhia, tem que render mais do que um título público na visão da maioria absoluta dos investidores.

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Espero um crescimento substancial da Bolsa, tendo em vista que o país se acostumou com taxas colossais e fez toda sua modelagem com estas premissas.

Por último, saliento que, embora estas considerações valham para todo o universo de renda variável, vai ser mais verdade para alguns setores do que para outros.

Vai aparecer mais rapidamente em setores como comércio e construção civil, mas será mais demorado e intenso em setores intensivos de capital, como a infraestrutura.

Oxalá eu esteja certo!

Guilherme Affonso Ferreira Guilherme Affonso Ferreira é sócio-fundador e chairman da Teorema Capital. Além disso, é conselheiro de empresas como Arezzo, B3 e M Dias Branco. Foi diretor-presidente da Bahema no período em que a companhia foi acionista relevante do Unibanco (1986 a 2008) – e obteve um retorno de 50% ao ano, em dólares, com as ações do banco. Também foi conselheiro da Petrobras de 2015 a 2018, participando do programa de recuperação da companhia.

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