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Seguradoras apostam na manutenção de lucro “parrudo” em 2024

Selic ainda em alta, lançamentos de produtos, tecnologia para distribuição de seguros e investimento em comunicação são principais pilares para otimismo de executivos
Por  Denise Bueno
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Tudo indica que as seguradoras vão encerrar 2023 com lucro recorde: R$ 24,6 bilhões até outubro, comparado com R$ 13,7 bilhões no mesmo período de 2022, segundo dados da Susep organizados pela consultoria Siscorp. As seis companhias do “clube do bilhão” são Bradesco, BB, Caixa, Porto, Itaú e Tokio. Da 7ª até a 22ª posição do ranking, o ganho é de seis dígitos. E todas as 50 companhias apresentaram lucro no acumulado dos dez meses de 2023. Em 2022, dez delas amargaram perdas.

Segundo executivos do setor, o ano teve uma conjunção de diversos fatores benéficos para a lucratividade. Ao contrário de 2020, 2021 e 2022, anos afetados pela pandemia de Covid-19, que trouxe impactos principalmente em seguro de vida e de saúde. O seguro de carro registrou elevado volume de indenizações pagas nos últimos anos, em razão da falta de peças para automóveis, tornando o custo de reparo elevadíssimo, e da inflação no preço dos automóveis usados em razão da falta de veículos zero quilômetro. As mudanças climáticas também geraram impactos severos no seguro rural.

Em 2023, tais desvios foram corrigidos. Nenhum acidente grandioso aconteceu, até agora, para tirar o sorriso dos executivos quando eles olham o lucro líquido acumulado até outubro. Para 2024, a meta é ter resultados ainda polpudos, já que quase a totalidade das reservas financeiras, que superam R$ 1,5 trilhão, estão rastreadas em títulos de longo prazo. Mesmo com o provável ciclo de baixa da Selic, a marcação a mercado dos títulos será benéfica para o resultado financeiro.

Roberto Teixeira, sócio e head de seguridade na XP Inc., informa que a XP Vida e Previdência, seguradora própria do grupo XP, deve sua eficiência principalmente aos investimentos em tecnologia ligados aos sistemas que processam altos volumes de informação, automações que geram elevada eficiência nas operações e análise de dados para ofertas assertivas. De janeiro a outubro, o lucro foi de R$ 78 milhões, acima dos R$ 60,7 milhões do mesmo período do ano anterior.

“Isso tudo se reflete numa experiência do cliente de alta qualidade”, diz Teixeira. “A linha de negócio ligada à previdência, além de ter uma assertividade grande na oferta do produto que considera o longo prazo nas alocações, também oferece funcionalidades para gestão do portfólio de produtos que são diferenciadas em relação à concorrência”, afirma.

Teixeira também destaca que a linha de negócio ligada a seguros de vida consegue, por meio de análise de dados avançada, ofertar o produto ideal para o cliente, considerando aspectos ligados aos objetivos sucessórios e aspectos de saúde e riscos. “Esse fator mantém nossa sinistralidade sob controle”, diz o executivo.

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Para 2024, ingredientes como provável ciclo de queda da Selic, que reduz o ganho financeiro das companhias, e maior competição certamente exigirão ainda mais dos executivos. “Há um acirramento da concorrência, mas esse é um mercado com muito potencial de crescimento. Hoje, só 17% da população brasileira tem alguma cobertura de seguro de vida. Quando olhamos para os Estados Unidos, por exemplo, mais da metade da população adulta tem algum tipo de cobertura de vida. Ou seja, há muita oportunidade”, afirma Luciano Soares, CEO da Icatu.

A Prudential do Brasil registrou um crescimento expressivo no lucro líquido em 2023: saltou de R$ 165,7 milhões de janeiro a outubro de 2022 para R$ 714 milhões no mesmo período deste ano, um avanço de 431%. “Esse aumento está diretamente relacionado ao faturamento (prêmios emitidos) recorde de R$ 4,46 bilhões obtido pela seguradora entre os meses de janeiro e outubro de 2023. Há 25 meses consecutivos, a Prudential cresce acima do mercado no seguro de pessoas. Somente em setembro, a companhia registrou o melhor faturamento da história e somou R$ 472 milhões”, diz Gustavo Raposo, vice-presidente financeiro da Prudential do Brasil.
Segundo ele, o resultado é fruto de um forte planejamento estratégico que vem sendo executado com sucesso pela companhia, com foco no cliente, investimento em tecnologia, inovação de produtos baseados na necessidade dos clientes e canais de distribuição diversificados. “Acreditamos que a Prudential vem fazendo diferença no setor porque nosso modelo de vendas, assim como os produtos que oferecemos, é baseado na necessidade do cliente”, afirma.

O avanço nos resultados também foi motivado, em grande parte, pela melhora da sinistralidade em todos os segmentos, com ênfase nos produtos de varejo, tanto nos produtos de afinidades como no automóvel. “Temos implementado melhorias no que diz respeito à precificação, aceitação, processos e sinistros. Isso se traduz em maior produtividade e, consequentemente, maior qualidade e menores despesas administrativas”, diz Edson Franco, CEO da Zurich, em entrevista ao Sonho Seguro.

A Tokio Marine Seguradora também está radiante com os resultados de 2023. Em lucro, até outubro, entrou para o grupo do bilhão (R$ 1,1 bilhão), e a expectativa é fechar o ano com R$ 1,3 bilhão, afirma Daniel Dibe, diretor executivo de finanças e administração. “Um fato inédito. Pela primeira vez em sua história de 64 anos no Brasil, a Tokio Marine Seguradora vai ultrapassar a marca de R$ 1 bilhão em lucro”, diz o executivo.

Entre as estratégias da Tokio Marine para manter o ganho em alta em 2024 está aprimorar cada vez mais a eficiência operacional. “Com a redução da taxa Selic, o resultado financeiro será obviamente menor, mas, ao mesmo tempo, se considerarmos um cenário de desemprego controlado e melhoria da economia, que já podemos observar, haverá muito espaço para oportunizar novos negócios, em diferentes linhas de negócios de seguros e para diferentes perfis de clientes. É isso que esperamos para 2024”, afirma Dibe.

“2023 foi um ano desafiador, mas conseguimos nos manter na liderança do setor considerando todos os segmentos, com excelente resultado de R$ 6,5 bilhões em lucro líquido, mesmo devolvendo à sociedade mais de R$ 40 bilhões em indenizações entre janeiro e setembro. Em 2024, cada uma das nossas empresas – Bradesco Auto Re, Bradesco Vida e Previdência, Bradesco Capitalização e Bradesco Saúde – tem a meta de lançar ao menos um produto por trimestre para atender as características regionais, com uma visão integrada do cliente”, diz o presidente do grupo Bradesco Seguros, Ivan Gontijo.

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“A estratégia é diversificar receita, que nos permite navegar em momentos de incertezas, e seguir investindo em tecnologia, na experiência do cliente, no relacionamento com os corretores e na qualidade dos serviços. Vamos continuar trabalhando para atender as necessidades dos nossos clientes e corretores – fiéis à nossa essência de ser um porto seguro para as pessoas e seus sonhos”, afirma Roberto Santos, CEO da Porto.

O lucro líquido do Itaú até outubro deste ano avançou para R$ 1,4 bilhão (contra R$ 1,1 bilhão em 2022). Um dos destaques foi a aceleração da transformação cultural e digital da operação, segundo Eduardo Domeque, diretor de seguros do Itaú Unibanco. “Evoluímos muito em jornadas a fim de melhorar a experiência de contratação e uso dos produtos pelos nossos clientes. Essas ações viabilizaram um aumento de 23% no resultado recorrente gerencial no acumulado até setembro de 2023, comparado ao mesmo período do ano passado”.

Quanto à receita financeira, Domeque afirma que a seguradora tem avançado significativamente no crescimento dos resultados operacionais e na melhoria do índice de eficiência, buscando mitigar impactos relevantes decorrentes de mudanças dos juros. Em relação ao aumento da concorrência, ele considera saudável, pois, sem isso, a participação do setor no PIB não aumentará da forma desejada.

“Estamos dedicados a criar uma seguradora que fale a língua dos clientes e esteja pronta para atendê-los quando e como precisarem. Esse é um dos pilares que norteiam nossa operação. Nessa linha, reformulamos a linguagem de atendimento, retirando termos técnicos, deixando o relacionamento mais simples e acessível. Além disso, reforçamos o modelo omnichannel oferecendo aos clientes, com a possibilidade de eles serem atendidos por diferentes canais, sejam eles físicos, por meio do especialista de seguros, gerentes ou digital, por meio do aplicativo. Para 2024, vamos continuar investindo nessas frentes, sempre em sintonia com a estratégia do banco, trazendo tranquilidade para os nossos clientes”, diz Domeque ao Sonho Seguro.

Denise Bueno Jornalista especializada em seguros, resseguros, previdência e capitalização, é fundadora do blog Sonho Seguro

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