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Renda variável no Brasil: enxergando além da Covid-19

Apesar da crise, fatores de longo prazo criam condição favorável para investir na Bolsa brasileira
Por  Pablo Riveroll -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

A crise da Covid-19 tem abalado os mercados de ações no mundo todo, inclusive no Brasil.

Diante desse cenário, o investidor pode ser levado a adotar uma aversão a risco generalizada. Mas essa atitude pode se provar mais ineficaz para proteger retornos do que praticar um olhar abrangente e ponderado, buscando entender como a vida mudará após o fim do isolamento e analisando fundamentos macroeconômicos de longo prazo, para encontrar oportunidades além da crise e ajustar suas alocações de acordo.

E existem oportunidades para investir em ações em diferentes setores na Bolsa brasileira. Várias empresas nacionais têm forte potencial de crescimento, independentemente do desempenho econômico geral, ou podem realmente tirar proveito da atual turbulência e se fortalecer mais na saída da crise.

Por exemplo, o comércio eletrônico terá um papel muito maior na economia; a demanda por educação e saúde continua, o que muda é a forma de entrega; os meios de pagamento digitais serão mais utilizados.

O setor de exportação será muito mais competitivo e companhias estrangeiras que vierem ao Brasil estarão em desvantagem contra empresas locais, pois as bases de custos das empresas nacionais são tipicamente em reais, e as expectativas de retorno, também.

Além disso, como muitas empresas terão seus balanços impactados consideravelmente pelo isolamento, as que estiverem em boas condições provavelmente terão participação de mercado maior depois da crise.

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Na perspectiva macroeconômica, as contas públicas do Brasil preocupam, com o déficit primário que pode chegar a 8% do PIB este ano.

Mas o país fez progressos significativos na redução do déficit desde 2016, e o governo continua focado na disciplina fiscal. Portanto, é provável que 2020 seja um desvio único, e não uma nova tendência de gastos maiores e sem restrições.

O Brasil também possui grandes reservas em dólares, que são mais altas do que a maioria dos pares de mercados emergentes em relação ao PIB.

Uma vez consideradas essas reservas, a dívida líquida em relação ao PIB é de 55%, muito mais gerenciável.

A maior parte da dívida brasileira também é em moeda local. Isso é benéfico, pois, caso contrário, o impacto da fraqueza da moeda significaria um aumento no passivo do país.

Na esfera monetária, as respostas têm sido rápidas e eficazes aos desafios que surgem. O relativamente grande déficit em conta corrente começou a aumentar muito cedo na recuperação nascente observada antes da Covid-19, atingindo 2,7% em 2019; o valor dos bens e serviços importados excedia o valor total dos produtos exportados.

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Essa não foi uma grande preocupação, pois grande parte do crescimento das importações foi atribuída à compra de bens intermediários direcionados ao investimento de capital e não ao consumo. Mas resultou em alguma pressão descendente sobre a moeda.

Ao baixar as taxas de juros, o Banco Central reduziu a atratividade da moeda para carry trade, investimentos que buscavam se beneficiar das taxas de juros mais altas oferecidas no Brasil, mantendo ativos em moeda local.

E, em seguida, a Covid-19 atingiu, levando à forte liquidação deste ano.

No entanto, o Banco Central conseguiu empreender uma forte flexibilização monetária com menos preocupação com o efeito sobre a moeda. Isso ocorre porque a dívida externa líquida é muito baixa como uma porcentagem do PIB.

Enquanto a fraqueza da moeda normalmente pode contribuir para uma recuperação da inflação, o grau de fraqueza da atividade econômica deve compensar os riscos inflacionários de curto prazo.

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Hoje, é provável que a conta corrente já tenha se aproximado do equilíbrio. Isso se deve ao impacto da desaceleração econômica, com as importações tendo diminuído significativamente.

Enquanto isso, a maioria dos preços das commodities se mantém bem. As commodities compõem cerca de metade das exportações brasileiras, lideradas por soja, minério de ferro, carne, óleo, celulose e açúcar.

Há motivos para ser otimista. A incerteza global causada pela Covid-19 pode levar algum tempo para passar, abalando algumas empresas mais do que outras no Brasil.

Os desafios macroeconômicos também não vão diminuir da noite para o dia e o crescimento pode levar tempo para se recuperar.

Mas, analisando-se os fundamentos de longo prazo, as medidas eficazes anticrise e, ao mesmo tempo, a responsabilidade fiscal, o Brasil continua no caminho certo para que empresas possam prosperar, e os investidores que souberem enxergar além da crise, prosperar junto com elas.

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Pablo Riveroll Diretor de renda variável da Schroders para a América Latina

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